O 'rugido' sem precedentes do Papa Leão: Prevost começa a mostrar seu estilo de governo. Artigo de José Manuel Vidal

• O presidente peruano, também um membro proeminente da extrema direita global (ele acaba de participar do "congresso de reconquista" do Vox em Madri), está preparando sua candidatura à presidência do país. E ele acreditava que, para entrar na disputa com todas as garantias de sucesso, a maneira mais eficaz de fazê-lo seria com o Papa.
  
  
• O que ele não contava era com a reação das vítimas do Sodalício, que, por meio de diversas associações, enviavam cartas a Roma e ao próprio Papa.
  
  
• No dia 15 de setembro, a Religion Digital se uniu quase sozinha, junto com a Infobae, à ofensiva de colegas jornalistas, vítimas e ativistas peruanos.
  
  
• Na Religion Digital, com nosso artigo de 16 de setembro, estamos orgulhosos de ter desempenhado um papel (ainda que muito pequeno) nesta história de tentativa fracassada de manipulação papal.

O artigo é de José Manuel Vidal, publicado por Religión Digital, 18-09-2025.

Eis o artigo.

Como um leão que só ruge quando a justiça o exige e o Evangelho está em jogo, Leão XIV acaba de demonstrar que sabe quando brandir as garras. Ele não se deixa domar nem usar. Diante da tentativa de exploração política de Rafael López Aliaga, prefeito de Lima e figura de destaque da extrema direita, o Papa respondeu com serenidade e firmeza sem precedentes, lembrando a todos que a Sé de Pedro não é trampolim para campanhas nem palco para quem busca branquear sua imagem com fotos convenientes.

Calmo e sereno, mas com caráter e determinação para "rugir" quando a ocasião o exigir. Assim se comportou o Papa Leão XIV. Resolvendo um caso clássico: o da tentativa de manipulação papal por Rafael López Aliaga, prefeito de Lima e associado do Opus Dei. Ele também era um empresário investigado por corrupção, a quem o extinto Sodalício confiou seus bens para sonegar a indenização devida às vítimas de abuso.

O presidente peruano, também um membro proeminente da extrema direita global (ele acaba de participar do "congresso de reconquista" do Vox em Madri), está preparando sua candidatura à presidência do país. E ele acreditava que, para entrar na disputa com todas as garantias de sucesso, a maneira mais eficaz de fazê-lo seria com o Papa.

Para isso, contornando o canal habitual da Nunciatura Apostólica, solicitou à Prefeitura da Casa Pontifícia, desta vez por meio da Embaixada do Peru junto à Santa Sé, três passes para uma audiência privada com o Papa.

O Secretário da Prefeitura, Monsenhor Sapienza, respondeu precipitadamente, sem examinar os possíveis motivos ocultos do prefeito de Lima e as razões imperiosas para negar este pedido, concedendo-lhe um encontro com o Papa, não privado, mas público, no final da audiência geral da última quarta-feira.

Por um lado, o iminente lançamento de sua campanha eleitoral e a necessidade de sua "foto com o Papa" foram ignorados. O primeiro papa peruano a endossar a política do "verdadeiro católico", como López Aliaga gosta de se autodenominar.

Por outro lado, ignoraram o recente escândalo envolvendo López Aliaga, quando ele concedeu uma condecoração ao polêmico Cardeal Cipriani em Lima, no dia 7 de janeiro, acusado de pedofilia, contrariando o preceito penal contra ele.

López Aliaga, com os três bilhetes em mãos (ele também iria acompanhar o prefeito, Javier, irmão do cardeal Cipriani), proclamou com grande alarde que teria a "bênção" do Papa, que também era bispo de Chiclayo, cidade natal do próprio prefeito de Lima.

O que ele não contava era com a reação das vítimas do Sodalício, que, por meio de diversas associações, enviaram cartas a Roma e ao próprio Papa. A primeira carta veio da Coordenadora Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH), que a enviou ao núncio apostólico no Peru, Paolo Gualtieri.

"Soubemos pela mídia local que o Santo Padre Leão XIV se reunirá com o prefeito de Lima no dia 17 de setembro. Por isso, acreditamos ser necessário transmitir a ele, por meio de vocês, nossa preocupação [...] com os interesses representados pelo atual prefeito de Lima", afirma o documento.

López Aliaga é o principal obstáculo para garantir que as dezenas de vítimas do Sodalício de Vida Cristã e das outras três organizações fundadas por Figari e reprimidas pelo Papa Francisco devido a casos de abuso e corrupção recebam uma indenização justa. A carta destaca que López Aliaga, por meio de sua empresa, Acres Sociedad Titulizadora SA, administra os nove cemitérios da Associação Civil San Juan Bautista, parte do grupo Sodalício, e diversas outras empresas suspeitas de corrupção financeira.

A segunda carta foi endereçada diretamente a Leão XIV e é assinada pela Rede de Sobreviventes do Peru, liderada por José Enrique Escardó, o primeiro denunciante público do SCV.

"López Aliaga expressou publicamente seu bom relacionamento com o Padre Jaime Baertl e outros membros expulsos do antigo Sodalício", diz o texto. E acrescenta: "Se receber este senhor, estará enfraquecendo sua posição e sua luta de longa data pelas vítimas do Sodalício, que se sentiriam revitimizadas."

Nesta carta, Prevost foi reconhecido pelo apoio e proximidade que sempre demonstrou às vítimas de Sodalício, especialmente em 2018, quando junto com Barreto, Castillo e Nann impediram que o arcebispo de Piura, Eguren, auxiliado pelo advogado do Opus, Percy García Cavero, continuasse seu assédio judicial ao jornalista investigativo Pedro Salinas.

A terceira carta, datada de 12 de setembro, foi endereçada ao Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, pela Associação Nacional de Jornalistas (ANP), organização que representa mais de 12.000 jornalistas no Peru.

"Nosso principal medo é que este encontro seja usado para minar a mensagem que Sua Santidade já dirigiu ao povo do Peru sobre a importância do jornalismo livre e ético", lembrou a ANP, citando a carta lida em Lima em 20 de junho pelo enviado do Papa, Jordi Bertomeu, comissário pontifício para a liquidação do Sodalício.

Os jornalistas também apontam que López Aliaga "incitou o ódio contra jornalistas, como no caso de Gustavo Gorriti". Para indignação nacional, há poucos dias, em um ato público, ele pediu que "este senhor fosse morto de uma vez por todas", uma expressão ambígua que poderia aludir ao assassinato do jornalista, um dia antes do assassinato de Charles Kirk em Utah. Esse discurso de ódio é tão querido por certos setores da extrema direita, incluindo a Igreja. Por isso, a carta da ANP solicitou a reconsideração da audiência, em defesa da "coerência do magistério pontifício" e do "firme compromisso do Santo Padre com a liberdade de imprensa".

Em 15 de setembro, a Religión Digital se uniu quase sozinha, junto com a Infobae, à ofensiva de colegas jornalistas, vítimas e ativistas peruanos com uma matéria cujas manchetes diziam: "A exploração de Leão XIV pelo Opus Dei e o extinto Sodalício: o prefeito de Lima em Roma com o irmão de Cipriani". E acrescentou: "Só podemos esperar que Leão XIV concretize essa enésima tentativa de manipulação a tempo". Sabemos que, graças a alguns amigos de longa data de Prevost, o que publicamos chegou à mesa do Papa.

Alertado, Leão XIV imediatamente tomou providências. Com uma decisão inédita (os membros mais antigos da Cúria não se lembram de nada semelhante), rápida, clara e contundente, em 16 de setembro, durante seu descanso semanal em Castel Gandolfo, ordenou que a recusa do "beijo de mãos" ao Sr. Aliaga e seus companheiros fosse enviada à Embaixada do Peru junto à Santa Sé.

Ainda sem entender o verdadeiro motivo da rápida ação do Papa (ele não tolera ser manipulado por ninguém, muito menos por um político peruano que considera o Vaticano sua "fazenda"), Aliaga, por meio do Infovaticana e da assessoria de imprensa da Prefeitura de Lima, cria uma explicação absurda (sempre com a intenção de difamar) para a recusa papal. Essa estratégia de autovitimização só pode ofender ainda mais suas verdadeiras vítimas.

Aparentemente, ele teria os ingressos para cumprimentar o Papa, mas sabendo de uma conspiração fictícia supostamente tramada pela presidente do país, Dina Boluarte, e pelos jornalistas Ugaz e Gorriti (ideologicamente opostos), quando ele se aproximasse do Papa, eles o envergonhariam, negando-o.

Segundo nossas fontes, a verdade é muito mais simples, e a vergonha era real, mas tanto pessoal quanto externa. Assim que Leão XIV percebeu a grosseira manobra instrumentalizadora tramada por López Aliaga, com uma decisão governamental eficaz e pragmática, sua marca registrada, imediatamente a interrompeu. Ordenou que as entradas de beija-mão fossem substituídas por entradas comuns. Nada mais, nada menos.

O Papa não cedeu ao sentimento de "omnia parata sunt" ou "é tarde demais". Tampouco cedeu a um estilo de "política de salão", indiferente aos que sofrem. Leão XIV ouviu os gritos das vítimas e, com grande honestidade, retificou o erro cometido pouco antes pela Prefeitura da Casa Pontifícia. Um ato que, mais uma vez, nos lembra o melhor de Francisco.

Ao mesmo tempo, com sua decisão, o Papa envia um aviso aos marinheiros: seu governo papal será sereno e tranquilo, mas firme e, acima de tudo, não se deixará instrumentalizar para fins políticos.

O grave erro de López Aliaga não irritou apenas as vítimas e os jornalistas, mas também o governo peruano, que está ansioso para receber o Papa e, claro, o próprio Vaticano, no Peru em 2026. Ele expõe as fraquezas da Cúria e a necessidade urgente de mudanças em conformidade com a Praedicate Evangelium.

No entanto, este gesto corajoso e pessoal do governo demonstra, acima de tudo, a sensibilidade do Papa para com as vítimas do Sodalício e os jornalistas que denunciaram os seus abusos, muitos dos quais ele conhece e cuja causa continua a partilhar. López Aliaga e os seus acólitos, com a sua visão distorcida da verdade, nunca compreenderão que Gorriti, Ugaz ou Salinas, ao contrário deles, não se envolvem em conspirações infantis, mas trabalham honestamente por uma verdade que sofre, mas não perece.

É por isso que, na Religión Digital, com nosso artigo de 16 de setembro, estamos orgulhosos de ter desempenhado um papel (ainda que muito pequeno) nesta história de manipulação papal fracassada.

Em última análise, a decisão decisiva de Leão XIV transcende o caso peruano: é um alerta ao mundo e à própria Igreja. Este Papa, capaz de ouvir as vítimas e agir em defesa da transparência e da profecia evangélica, não se deixará usar nem deixar que a dor dos inocentes seja esquecida. Leão XIV governa serenamente, mas não mansamente: quando necessário, seu rugido ressoa, traçando uma linha que os poderosos — sejam eles políticos, clérigos ou figuras da mídia — já sabem que não podem cruzar. Roma tem um novo leão, e ele rugiu pela dignidade de todos.

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