11 Setembro 2025
Às vésperas da Conferência Mundial do Clima, em novembro, na cidade de Belém, bispos católicos do Sul Global pressionam por uma ação climática mais forte. Em uma carta conjunta das conferências episcopais da África, Ásia, América Latina e Caribe ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e à nova presidente da Assembleia Geral da ONU, Annalena Baerbock, eles lançam um chamado moral à comunidade global.
A informação é publicada por Katholisch, 10-09-2025.
Em seu documento de 34 páginas, os líderes da Igreja Católica condenam políticas que colocam o lucro acima da vida. Os bispos condenam veementemente "falsas soluções", como o capitalismo verde, a mercantilização da natureza e a exploração dos recursos naturais. Eles argumentam que as nações ricas devem pagar sua dívida ecológica com financiamento climático justo "sem endividar ainda mais o Sul global".
Não desista das metas climáticas de Paris
No texto intitulado "Um Apelo à Justiça Climática e à Casa Comum: Conversão Ecológica, Transformação e Resistência a Falsas Soluções", os bispos defendem a implementação rigorosa do Acordo Climático de Paris e metas climáticas nacionais ambiciosas. O objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius para evitar impactos catastróficos jamais deve ser abandonado. Eles se opõem a novas infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis e pedem soluções energéticas descentralizadas que sirvam ao bem comum.
As decisões políticas devem incluir e priorizar as comunidades mais afetadas pelas crises climáticas e naturais, afirma o documento. Povos indígenas, ecossistemas e comunidades empobrecidas, em particular, devem ser protegidos, e a maior vulnerabilidade de mulheres, meninas e novas gerações deve ser reconhecida.
Os bispos veem a crise climática não como um problema puramente técnico, mas sim como um problema existencial que levanta questões de justiça, dignidade humana e cuidado com o nosso mundo compartilhado. As pessoas no Sul Global, em particular, já são as que mais sofrem com suas consequências, enquanto os responsáveis por ela estão, em grande parte, se esquivando de sua responsabilidade. A fuga devido a eventos climáticos também deve ser vista como um desafio à justiça e aos direitos humanos.
Os bispos acreditam que é dever da Igreja contribuir para o combate à crise climática por meio da educação e da promoção de modelos econômicos solidários. Os bispos pretendem avaliar os resultados da Conferência Mundial do Clima por meio de uma plataforma que analise as medidas de combate à crise climática sob a perspectiva da justiça.
Estabelecer a justiça
"A Igreja não permanecerá em silêncio", afirma a mensagem dos bispos. "Continuaremos a levantar nossas vozes, juntamente com a ciência, a sociedade civil e os mais vulneráveis, com verdade e coerência, até que a justiça seja feita." A declaração faz referência à encíclica Laudato Si' do Papa Francisco e aos apelos do Papa Leão XIV por justiça ambiental.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acontecerá de 10 a 21 de novembro na cidade de Belém, na Amazônia brasileira. Os principais tópicos incluem a transição do uso de combustíveis fósseis para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, bem como o financiamento da proteção e adaptação climática no Sul global.
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