26 Outubro 2021
“Enquanto os líderes nacionais estiverem debatendo em novembro em Glasgow, será um bom momento para os católicos orarem e jejuarem, ansiando por resultados reais. Mas, como a ativista Greta Thunberg, todos nós já nos cansamos de “blá, blá, blá”. Não há tempo a perder”, escreve o jornal estadunidense National Catholic Reporter, em editorial de 25-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Incomum, mas nós do National Catholic Reporter estamos de acordo com o arcebispo de San Francisco, Salvatore Cordileone. Este é certamente um tempo para oração e jejum.
Nós apenas não concordaríamos que os católicos dos EUA precisem estar muito focados no estado da alma de Nancy Pelosy, a speaker (presidente) da Câmara dos Deputados dos EUA. Em vez disso, eles deveriam estar assistindo às intenções dos líderes mundiais reunidos em Glasgow, Escócia, para a Cúpula das Nações Unidas sobre a mudança climática, conhecida como COP26.
Dado que a própria habitabilidade de nosso planeta pode depender dos resultados da cúpula, é um bom momento para os católicos em todos os lugares estarem orando e jejuando, na esperança de que nossos líderes finalmente (finalmente!) se comprometam a fazer o que for preciso para salvar a Terra que estamos destruindo.
É também um bom momento – realmente, mais que um bom momento – para os católicos agirem. Especialmente os bispos dos EUA e líderes de organizações católicas que administram instalações físicas, incluindo escritórios diocesanos, igrejas paroquiais, escolas, cemitérios e várias outras instalações em todo o país.
O principal objetivo da COP26 – da qual participarão cerca de 20 mil delegados nacionais e milhares de ativistas e defensores – é tentar limitar o aquecimento do planeta a 1,5° C acima dos tempos pré-industriais. Este é um limite fundamental para evitar impactos devastadores, como a elevação do mar, eventos de extinção em massa e ondas de calor às quais o corpo humano não sobrevive facilmente.
Para cumprir essa meta, os organizadores da cúpula dizem que há quatro coisas principais que os países terão que fazer: acelerar o desuso do carvão na produção de energia, desacelerar o desmatamento, acelerar a mudança para veículos elétricos e impulsionar o investimento em projetos de desenvolvimento de energia renovável.
Em cada uma dessas frentes, os bispos americanos e líderes de organizações católicas certamente poderiam dar o exemplo e fazer contribuições substanciais para a redução de emissões do país. Já passou o tempo em que deveríamos definir metas e objetivos. É hora de agir.
Os bispos dos EUA têm um ímpeto especial para buscar medidas concretas, dado seu relativo silêncio sobre a crise climática. Como um recente estudo acadêmico descobriu, apenas 93 dos 12.077 artigos escritos por bispos diocesanos em suas publicações oficiais de 2014-2019 mencionaram mudanças climáticas ou aquecimento global. Os bispos, dizem os pesquisadores, têm sido “extremamente silenciosos”.
Existem muitas ações a serem tomadas. Cada escola católica possui um estacionamento, e os estacionamentos são ideais para a instalação de painéis solares. Cada escola católica também paga por serviços públicos de energia, provavelmente o segundo custo mais alto em seu balanço patrimonial, depois dos salários. Por que não eliminar totalmente esse item do orçamento?
As paróquias católicas, especialmente nos subúrbios e áreas rurais, também têm grandes estacionamentos que se beneficiariam com a instalação de painéis solares. O benefício fiscal pode ser concedido à empresa que instalar o painel em troca do financiamento do projeto. Isso mesmo: sem dinheiro adiantado.
Bispos e pastores precisam apenas ligar para o escritório local da Irmandade Internacional dos Eletricistas para encontrar uma empresa que possa instalar painéis solares com empregos bem remunerados. É importante garantir que a transição para a energia sustentável resulte em empregos bem remunerados.
Os democratas no Congresso provavelmente removerão algumas cláusulas ambientais de seu pacote de gastos, porque o senador da Virgínia Ocidental, Joe Manchin, está preocupado com as cláusulas que colocarão os mineiros de carvão fora do trabalho. Se as pessoas já pudessem ver que existem empregos bem remunerados do outro lado dessa transição, talvez Manchin não fosse tão míope.
Nos próximos anos, milhões de estações de carregamento de veículos elétricos precisarão ser instaladas em todo o país. Os estacionamentos da igreja não estão em uso na maior parte do tempo. As torres das Igrejas, construídas para apontar para o céu, agora também podem indicar aos viajantes que há uma estação de carga de veículos elétricos nas proximidades.
A maioria das dioceses dá a seus padres um subsídio para carros. É hora de tornar o subsídio somente para veículos elétricos, ou pelo menos um híbrido. Sim, eles podem ser um pouco mais caros no início, mas economizam dinheiro a longo prazo porque geralmente duram mais e têm custos de manutenção mais baixos.
Sete anos atrás, em sua histórica encíclica Laudato Si', sobre o cuidado da casa comum, o Papa Francisco exortou o mundo inteiro a agir para impedir a mudança climática. O papa advertiu que, se não nos organizássemos rapidamente, estaríamos deixando para as gerações vindouras um planeta de “escombros, desolação e sujeira”.
Enquanto os líderes nacionais estiverem debatendo em novembro em Glasgow, será um bom momento para os católicos orarem e jejuarem, ansiando por resultados reais.
Mas, como a ativista Greta Thunberg, todos nós já nos cansamos de “blá, blá, blá”. Não há tempo a perder. Bispos e católicos com autoridade sobre prédios nos EUA devem tomar todas as medidas possíveis para limitar as emissões e fazer a transição para energia limpa agora. Não em cinco ou dez anos. Agora.
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Os bispos devem se comprometer em salvar a Terra já! Editorial do National Catholic Reporter - Instituto Humanitas Unisinos - IHU