Uma grande comemoração nos 80 anos da vitória chinesa sobre o Japão e um encontro triangular são um ponto de virada para a nova configuração geopolítica. O início de uma nova era, marcada pela potência militar e a ascensão global da China
“Oitenta tiros ecoaram na terça-feira na imensa Praça da Paz Celestial, o centro político e simbólico de Pequim, dando início ao maior desfile militar da história recente. Foi um tiro para cada ano desde a vitória da China sobre o fascismo japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Mas também sinalizou o início de um evento massivo, no qual Xi Jinping deixou claro ao mundo que pretende posicionar seu país como líder indiscutível da nova ordem mundial”.
Acusados por Donald Trump de conspirar contra os Estados Unidos, estavam sentados na primeira fila, o presidente russo Vladimir Putin, o ditador norte-coreano Kim Jong-un e Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, que também havia participado do encontro do Triângulo de Primakov, junto com Xi e Putin. uma reunião vista como uma verdadeira aliança antiocidental. Os dois eventos simbolizaram a consolidação da nova configuração geopolítica global, combinando avanço tecnológico com uma declaração de capacidade militar, que indica ser maior do que a dos Estados Unidos.
A avenida da Paz Eterna, exibiu a estética de um desfile que fez uma evidente demonstração de poder tecnológico e força militar. Ao mundo, foi apresentando um arsenal de ponta que inclui drones, mísseis hipersônicos, armas de laser e novos sistemas de defesa. A performance foi caracterizada por modernidade e precisão, numa clara e poderosa mensagem política.
No seu discurso de sete minutos, Xi Jinping “alertou que 'hoje, a humanidade mais uma vez enfrenta a escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto'. Nesse contexto, prometeu que 'permaneceriam firmemente do lado certo da história' e buscariam 'unir forças com o resto do mundo para construir uma comunidade com um futuro compartilhado'. Por fim, enfatizou aos seus adversários geopolíticos que 'a revitalização da nação chinesa é imparável'”.
O encontro da Organização de Cooperação de Xangai antecedeu a comemoração chinesa. Vinte países, representando quase metade da população mundial, reuniram-se no domingo e na segunda-feira em Tianjin. O fórum se apresenta como um verdadeiro multilateralismo e desafia a ordem liderada pela Casa Branca.
Analisando os acontecimentos da semana no Oriente, o sinólogo russo Alexei Maslov, afirmou na entrevista Putin, Xi, Modi e Kim é a maior aliança militar do mundo, “no Alasca, Putin queria demonstrar que a Rússia está pronta para negociar com os Estados Unidos, mesmo em questões delicadas, mas não é um país pró-Ocidente ou ocidental. O russo fez uma escolha: a Ásia. A grande questão, aponta o analista, é que a Ásia jamais aceitará a Rússia como um Estado asiático. Pelos próximos 20 a 25 anos, a Rússia será o país mais isolado do mundo.
Está a caminho de Gaza a maior ação civil e humanitária, a Flotilha Sumud, que cruza o Mediterrâneo para levar esperança ao povo palestino. Na partida do porto de Barcelona, o clamor:
Barcelona fue una de las ciudades bombardeadas por el fascismo. Los catalanes tienen memoria y muestran solidaridad con el pueblo de Palestina y despiden así a la Flotilla rumbo a Gaza. Impresionante. pic.twitter.com/ksEFaoZKHV
— Fonsi Loaiza (@FonsiLoaiza) August 31, 2025
A iniciativa, Flotilha Global Sumud, conta com ativistas de 44 países e uma frota de barcos que pretende abrir um canal humanitário definitivo e deixar uma mensagem: o que acontece em Gaza é genocídio. Dos portos europeus, os barcos partiram contando com o apoio de milhares de pessoas em terra. Em Gênova, a maior mobilização em solidariedade à Gaza. 50 mil pessoas saíram às ruas para despedir-se da Flotilha depois de arrecadarem 300 toneladas de alimentos.
De Gênova também parte o aviso: caso haja qualquer problema com Flotilha, haverá greve geral em diferentes portos europeus. Os trabalhadores portuários ameaçam bloquear embarques para Israel se o exército atacar a flotilha. José Nivoi, um dos estivadores da Calp, a cooperativa autônoma de Gênova, que embarcou junto na Flotilha, destacou: "Diante da inércia dos Estados, somos nós que devemos assumir o fardo e romper o bloqueio a Gaza. Queremos fazer a nossa parte e demonstrar que, se as coisas são para serem feitas, serão feitas." Os trabalhadores do porto genovês já bloquearam carregamentos de armas com destino a Israel ao longo do ano. Segundo Nivoi, o apoio se dá porque "os trabalhadores são o verdadeiro eixo da luta contra a proliferação de armas. Ao bloquear a circulação delas, bloqueamos o sistema e bloqueamos as guerras. E isso tem a ver com o nosso DNA: Gênova sempre se aliou às populações atacadas, tanto com bloqueios e greves de docas.
Além da Flotilha, poesia, literatura, cinema e as artes, de forma geral, se mostram como eixo de resistência. O Festival de Veneza ficou marcado pelo ativismo dos participantes em favor da Palestina livre e do fim do genocídio em Gaza. O filme "A Voz de Hind Rajab" foi aplaudido por 23 minutos e se tornou um símbolo do rechaço à guerra israelense. Apresentada no festival, a película reconstrói, usando áudio original, a história real de uma menina de seis anos presa em um carro em Gaza que implora por ajuda ao Crescente Vermelho. Ela e sua família foram mortos por Israel.
Um enclave devastado, que enfrenta fome, doenças e bombas. Para o escritor judeu Ilan Pappé, o que choca diante o cenário, “não é tanto o silêncio dos políticos, mas o de acadêmicos, intelectuais e jornalistas que sofrem do que chamo de pânico moral”. Na entrevista à editora Elefante, o historiador ainda fala de como o colonialismo ainda serve de bússola para a limpeza étnica de Israel em Gaza.
Chamou a atenção o incomum convite do papa Leão XIV para o presidente israelense, Isaac Herzog. Uma audiência ocorrida no dia 4 de setembro, que ficou marcada pela frieza papal. Quem bem narrou o encontro foi Iacopo Scaramuzzi, na reportagem, Papa encontra Herzog. Gelo. "Proteja todos os palestinos".
Chegamos ao Brasil, para dizer que enfim, atingimos a maioridade democrática. O julgamento dos acusados do núcleo duro da tentativa de Golpe de Estado começou e é uma inflexão histórica. Os réus vão entrar para os livros como traidores do Estado Democrático de Direito. Brilha a democracia, que apesar de jovem e frágil, foi resiliente. Mas, esta, continua sob intenso ataque no Congresso Nacional.
No começo do julgamento, Tarcísio de Freitas chegou a Câmara dos Deputados e ao colégio de líderes para pressionar Hugo Mota a pautar a anistia. Depois de um jantar na casa do presidente da Câmara, a promessa e o projeto caminha a passos largos. Um acordo considerado pornográfico pelo jornal Estadão. Segundo editorial desta semana: “Urdida nos subterrâneos do Congresso, uma eventual impunidade para os acusados de tramar um golpe de Estado ora em julgamento no STF é juridicamente teratológica e moralmente inaceitável. Mas antes o problema fosse apenas técnico. É, sobretudo, político e moral. Há evidências em profusão de que Bolsonaro e sua grei tramaram para permanecer no poder à revelia da vontade popular e em flagrante violação da Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito.
Mas não é só. Tarcísio de Freitas derreteu sua máscara e pôs a nu todo seu radicalismo ao declarar: “Infelizmente, hoje eu não posso falar que confio na Justiça, por tudo o que a gente tem visto”. A frase, de quem deveria se preocupar em preservar as instituições em uma democracia, mostra as intenções de quem almeja um governo autoritário.
Inconstitucional, é assim que Lenio Streck define o projeto que visa a impunidade dos golpistas. Para o jurista, "É totalmente inconstitucional qualquer tipo de anistia para quem tentou acabar com a democracia. A democracia não é um oximoro. Não se pode pensar que uma democracia faz haraquiri".
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