04 Setembro 2025
O desfile de Pequim também mostrou as armas com as quais a China quer ganhar superioridade na nova "guerra eletromagnética".
A reportagem é de Gianluca DiFeo, publicada por La Repubblica, 03-09-2025.
O escudo que protegerá o exército chinês é um gigantesco forno micro-ondas, projetado principalmente para "fritar" drones e mísseis no céu. Estas são as armas mais revolucionárias exibidas na Praça da Paz Celestial, fruto de pesquisas que Pequim realiza há trinta anos para alcançar a superioridade na nova "guerra eletromagnética", que utiliza pulsos invisíveis para causar danos reais. Uma indústria de alta tecnologia que mobiliza centros e empresas de pesquisa científica, com recursos humanos e econômicos inimagináveis no Ocidente. Esses esforços produziram uma série de "canhões laser", alguns dos quais foram testados no campo de batalha de Kursk para abater aeronaves não tripuladas ucranianas e exibidos diante de Xi e Putin: sistemas nos quais Pequim parece ter aprimorado os mecanismos de mira para aumentar a eficácia do feixe destrutivo.
🇨🇳 As formações militares femininas da China são impressionantes!
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Parada da Vitória, Beijing, 3 de setembro de 2025. pic.twitter.com/x0tQOShATk
Como funcionam os HPMs
Muito mais inovadores são os grandes dispositivos HPM (High-Power Microwave): micro-ondas de alta potência que prometem mudar a face do conflito. O conceito é mais ou menos o mesmo dos aparelhos encontrados em todas as cozinhas, exceto que os pulsos são "disparados" para cima. Como alimentos cozidos em um forno doméstico, mas com energia infinitamente maior, as micro-ondas aquecem os alvos e literalmente derretem componentes eletrônicos importantes: microchips, circuitos de rádio, computadores. Assim, elas desabilitam qualquer máquina voadora, começando pelas mais lentas, como quadricópteros kamikazes, aviões-bomba controlados remotamente e mísseis de cruzeiro. Na prática, elas se apresentam como o antídoto para os dispositivos explosivos que assolam os céus do conflito russo-ucraniano. Enquanto os lasers devem atingir os atacantes um por um, as armas HPM emitem uma onda de calor sobre uma ampla área que pode neutralizar vários alvos simultaneamente.
O modelo mais impressionante exibido no desfile é o Hurricane 3000: um míssil autopropulsado com uma antena colossal, que na verdade é uma grade que emite uma onda letal capaz de neutralizar enxames inteiros de drones. Observadores ocidentais o apelidaram de "matador de mosquitos", comparando-o aos dispositivos elétricos que eletrocutam insetos.
🇨🇳 Se você perdeu o Desfile da Vitória da China, aqui está um vídeo de 60 segundos com os principais momentos.
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Via @DD_Geopolitics pic.twitter.com/B6i1UrZPXD
Mais ondas, menos mísseis
Em teoria, ele pode gerar um feixe com dez gigawatts de potência a uma taxa impressionante de 126 milhões de vezes por segundo. Os fabricantes da Norinco, a holding estatal de defesa, afirmam que o Hurricane 3000 demonstrou sua capacidade de disparar 10 mil ondas destrutivas com um alcance de 3 mil metros. Essa é a característica que mais interessa a generais e almirantes, atualmente forçados a usar mísseis terra-ar caros para combater drones, enquanto novas armas permitirão que eles abatam centenas, senão milhares, por uma fração do custo. Essa também é a razão que levou os americanos a investir nessas armas, especialmente para defesa naval: a pequena empresa Epirus criou um escudo chamado Leonidas, que a Marinha americana já testou para destruir drones e mísseis.
Não se trata apenas de uma foto da Cúpula da Organização para a Cooperação de Xangai. É a estampa da marcha do Sul Global para a nova ordem, enquanto o antigo centro sistêmico se isola com políticas erráticas e unilaterais, a China assume as rédeas da transição sistêmica. 🧶🇨🇳 pic.twitter.com/5LJ5Qvqbs4
— Diego Pautasso 🧉 (@dgpautasso) September 3, 2025
Uma arma ofensiva também
Os chineses, no entanto, agiram muito antes e vêm realizando testes desde 2010. Um aspecto particularmente preocupante é que os estudos foram confiados a centros de pesquisa em tecnologia nuclear. O pioneiro foi Huang Wenhua, vice-diretor do Instituto de Tecnologia Nuclear do Noroeste. A pesquisa foi coordenada pelo diretor Liu Guozhi, especialista na área, que hoje chefia a Comissão de Ciência e Tecnologia da CMC, o centro de todas as inovações tecnológicas militares na República Popular da China.
Qual é a sua relação com a física nuclear? O ponto de partida dos cientistas chineses foi o efeito gerado por explosões nucleares em grandes altitudes: um campo eletromagnético capaz de paralisar qualquer equipamento elétrico ou eletrônico. O objetivo era reproduzir esse efeito sem a necessidade de armas nucleares, e encontraram a resposta em sistemas de micro-ondas de alta potência. Por isso, não consideram a aplicação dessa tecnologia limitada ao combate a mísseis e drones: querem torná-la uma arma ofensiva, para acabar com as redes de comunicação e comando de seus inimigos, desde redes de computadores até constelações de satélites no espaço. Atualmente, exibem apenas três modelos, todos projetados para forças terrestres e facilmente adaptáveis a navios: além do Hurricane 3000, o menor Hurricane 2000 e o novo FK-4000, com características menos impressionantes, mas já em serviço com unidades em treinamento para invadir Taiwan.
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