06 Setembro 2025
Mulheres com filhos e separadas ou desquitadas são mais propensas a sofrer algum tipo de agressão – física, verbal, emocional – por parte de parceiros ou ex-parceiros. O lar, considerado um lugar seguro, é o maior palco de agressões.
A informação é de Edelberto Behs, jornalista.
A vitimização de mulheres com filhos (43,8%) é maior do que entre as que não têm filhos (33,7%); divorciadas (60,9%) são mais suscetíveis às agressões do que as solteiras (53%), casadas (44,4%) e viúvas (51,8%). “Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade”.
É o que constata a pesquisa quantitativa Visível e Invisível, elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Datafolha, que ouviu 1.040 mulheres de 16 anos para mais, de 10 a 14 de fevereiro, em 126 municípios brasileiros de pequeno, médio e grande porte.
Nos últimos 12 meses, considerando o mês de fevereiro como marco da pesquisa, 37,5% das mulheres, o que representa, ao menos, 21,4 milhões de brasileiras de 16 anos ou mais, vivenciaram algum tipo de violência. Esta é a maior prevalência já identificada, desde 2017.
Uma em cada dez mulheres sofreram abuso sexual e/ou foram forçadas a manter relação sexual sem seu consentimento, o que representa cerca de m5,3 milhões de mulheres; 31,4% das brasileiras sofreram ofensas verbais, como insulto, humilhação ou xingamento.
Do universo pesquisado – a margem de erro é de 3,0 pontos para mais ou para menos – 8,9% sofreram lesão por algum objeto que lhes foi atirado, 7,8% sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento, e 6,4% foram ameaçadas com faca ou arma de fogo.
A pesquisa também levantou quantas brasileiras com 16 anos ou mais tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento (3,9%), percentual que representa 1,5 milhão de mulheres. Considerando a religião das vítimas, 42,7% das mulheres evangélicas relataram que sofreram alguma forma de violência, índice de 35,1% entre as católicas.
Os principais autores das violências aplicadas às mulheres no ano passado foram o cônjuge, companheiro, namorado, marido (40,0%), e o ex-parceiros (26,8%). Dos casos relatados, 57% responderam que a casa foi o local onde sofreram violência mais grave. A rua aparece com 11,6% dos relatos.
Brasileiras vitimadas no último ano disseram que sofreram violência na presença de terceiros (91,8%). Em 47,3% dos casos, a violência foi presenciada por pessoas amigas ou conhecidas; 27% diante de filhos e em 12,4% dos casos por outros parentes.
Quanto ao perfil racial, a pesquisa mostrou que 41,7% das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano; 35,4% entre as brancas e 35,2% entre as pardas. O mais surpreendente é que 47,4% das mulheres agredidas não procuraram qualquer tipo de apoio ou encaminharam denúncia; já 33,8% procuraram familiares e amigas, e 25,7% buscaram órgãos oficiais, como a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%).
“Esse é um padrão que se repete desde a primeira edição desta pesquisa, em 2017, e que sugere a persistência de barreiras estruturais, emocionais e institucionais que dificultam a busca de apoio e proteção”, assinala o relatório da pesquisa.
Parceiros chegam até mesmo à chantagem emocional; 16,4% afirmaram que o parceiro íntimo ou ex-parceiro ameaçou se suicidar por estar triste chateado com ela; 10% relataram que foram impedidas de ter o seu próprio dinheiro e 17,1% disseram que o parceiro pediu que deixassem de trabalhar ou estudar fora de asa por ciúmes.
O percentual de mulheres brasileiras com 16 anos ou mais que sofreram algum tipo de agressão (32,4%) é superior ao percentual levantado pela Organização Mundial da Saúde, que realizou estudos em 161 países entre os anos de 2000 e 2018, concluindo que 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos experimentaram violência física ou sexual provocada por parceiro ou ex-parceiro íntimo ao longo da vida.
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