01 Setembro 2025
"O pontificado de Leão XIV apenas começou, e seu verdadeiro legado ainda está por ser escrito. Mas, depois de cem dias, a sensação é clara: esperávamos mais de sua palavra, mais de sua coragem, mais de sua capacidade de indicar a dor com nome e sobrenome", escreve Juan Antonio Mateos Pérez, jornalista e escritor, em artigo publicado em sua página do Facebook, 29-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Conclusões após 100 dias
1. Estilo definido: mostrou um tom sereno, sóbrio e diplomático, sem gestos disruptivos.
2. Liturgia e presença: foi muito ativo nas celebrações e nos encontros com os fiéis, restaurando a vitalidade do calendário jubilar.
3. Diplomacia prudente: fez apelos pela paz, mas evitou acusações diretas (Ucrânia, Gaza).
4. Silêncios surpreendentes: sobre Palestina, abusos, mulheres, LGBTQ+ e migração.
5. Unidade e escuta: deu prioridade ao diálogo interno com cardeais e dicastérios, em vez de anunciar mudanças.
6. Continuidade seletiva com Francisco: mantém a linha ecológica (energia solar), mas sem o mesmo tom profético.
7. Primeiras nomeações: fez algumas, mas as grandes mudanças ainda não chegaram.
8. Relações com a mídia: cuidou da comunicação, reconhecendo a importância de uma imprensa livre.
9. Jubileu como prioridade: concentrou sua primeira etapa em promover a dimensão espiritual do Ano Santo.
10. Equilíbrio entre expectativa e espera: transmite a sensação de um papa que não quer se apressar e prefere construir lentamente seu programa.
Para tirar uma conclusão geral final desses 100 dias de Leão XIV e lembrando Francisco
Francisco: em 100 dias já era visto como um papa reformista, próximo, quase revolucionário no estilo.
Leão XIV: em 100 dias, é percebido como um papa calmo, diplomático, sem rupturas, com uma abordagem de unidade.
No estilo pessoal
Francisco: irrompeu em gestos imediatos de austeridade e proximidade (recusa do palácio, pagamento do hotel, abraços, telefonemas).
Leão XIV: mais sóbrio e calmo; menos gestos disruptivos, mas uma forte presença litúrgica e diplomática.
Relação com as pessoas
Francisco: desde o início, "pastor com cheiro de ovelha", contato físico e linguagem coloquial.
Leão XIV: muita presença nas audiências, mas com um estilo mais formal, sem a espontaneidade do argentino.
Diplomacia e geopolítica
Francisco: viagem a Lampedusa (migrantes), denúncias diretas contra a "globalização da indiferença".
Leão XIV: apelos à paz (Ucrânia, Gaza), mas sem denúncias explícitas ou linguagem profética.
Reformas internas
Francisco: criou rapidamente o "C8" (Conselho dos Cardeais) para reformar a Cúria.
Leão XIV: Ainda não lançou reformas estruturais; ouve e mantém a continuidade.
Temas sociais e éticos
Francisco: mensagens sobre pobres, migrantes, misericórdia, contra o clericalismo.
Leão XIV: reafirmou a doutrina sobre família e dignidade da vida, mas ainda sem enfrentar abusos, mulheres ou pessoas LGBTQ+.
Ecologia e o futuro
Francisco: apelos iniciais que levaram à encíclica "Laudato Si'" (2015).
Leão XIV: primeiro gesto ecológico forte: um projeto solar para a neutralidade de carbono no Vaticano.
Francisco: Papa dos gestos proféticos e das surpresas.
Leão XIV: Papa da calma, da escuta e da diplomacia.
Até os primeiros 100 dias de seu pontificado, a posição de Leão XIV sobre a guerra em Gaza foi claramente prudente e diplomática, sem usar termos como "genocídio" ou assinalar responsáveis específicos.
Por que esperávamos mais?
No início do pontificado de Leão XIV, muitos observadores e analistas compartilhavam uma expectativa de continuidade com a força profética de Francisco, especialmente no que diz respeito à denúncia das injustiças e a clara defesa dos povos que sofrem.
No entanto, o que demonstrou nestes primeiros 100 dias é um perfil diferente: um papa da calma, da diplomacia e da mediação, mais preocupado em não fechar portas do que em levantar a voz. Isso me causou alguma decepção, pois esperava pronunciamentos fortes sobre Gaza, Ucrânia, sobre os abusos ou a situação das mulheres na Igreja, etc. Francisco elevou muito o nível com seus gestos proféticos, e Leão XIV preferiu começar com prudência. O desafio será, nos próximos meses, se conseguirá combinar essa diplomacia com uma palavra clara e evangélica que dê esperança àqueles que hoje o veem como demasiado silencioso.
O pontificado de Leão XIV apenas começou, e seu verdadeiro legado ainda está por ser escrito. Mas, depois de cem dias, a sensação é clara: esperávamos mais de sua palavra, mais de sua coragem, mais de sua capacidade de indicar a dor com nome e sobrenome. Esperamos que os próximos meses nos tragam não apenas serenidade, mas também profecia.
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