"O cristianismo é revolucionário... O paradoxo é que hoje a Igreja é incapaz de comunicar essa revolução", constata Javier Cercas

Foto: rauschenberger/Pixabay

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27 Agosto 2025

  • No Encontro de Rimini, os escritores Colum McCann, Javier Cercas e o Prefeito do Dicastério para a Comunicação discutem os limites de uma comunicação que pode construir comunhão.

  • Um dos momentos mais vibrantes — conforme detalhado pelo portal Vatican News — ocorreu quando Cercas convidou a Igreja a mudar sua linguagem.

O artigo é de José Lorenzo, jornalista espanhol, publicado por Religión Digital, 26-08-2025.

Eis o artigo.

O escritor espanhol Javier Cercas, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, e o escritor americano de origem irlandesa Colum McCann, moderados pela jornalista da RAI Linda Stroppa, buscaram definir os limites da comunicação que constrói comunhão em um dos encontros mais intensos realizados nestes dias no Meeting de Rimini, organizado por Comunhão e Libertação.

Um dos momentos mais vibrantes — conforme detalhado pelo site Vatican News — ocorreu quando Cercas convidou a Igreja a mudar sua linguagem. "A Igreja hoje precisa mudar sua linguagem porque tem um problema linguístico. O cristianismo é revolucionário porque mudou a maneira como existimos no mundo. O paradoxo é que hoje a Igreja é incapaz de comunicar a revolução social de Cristo. A Igreja tem uma linguagem antiquada. Não é atraente, não é vital", observou o escritor, nascido na Extremadura e radicado na Catalunha há anos.

Uma declaração solene, contundente e categórica, com a qual o prefeito não parecia totalmente em sintonia. "Há um problema com a linguagem, é claro", admitiu, "mas a linguagem vem depois da realidade. A Igreja ou é comunhão ou não é. E esta comunhão, este corpo único, não se trata apenas da Igreja. Trata-se de acreditar que somos todos filhos e filhas de Deus. Se vivermos assim, nossas palavras terão significado. Mas se duas pessoas dizem que se amam e não se amam, podem dizer 'eu te amo' ou 'eu te quero' de qualquer maneira, mas essas palavras não falam. Este, na minha opinião, é o ponto em que a Igreja deve redescobrir a beleza da comunhão."

Incompreensível até para os católicos

O risco de uma linguagem tão incompreensível, continuou o espanhol, é que "nem mesmo os católicos entendem o que a Igreja quer dizer". Cercas ilustrou isso com um exemplo. "Uma das palavras fundamentais do pontificado de Bergoglio continua sendo mal interpretada: sinodalidade. A Igreja não conseguiu explicar o que é. E, além disso, falta algo muito importante, algo que deveríamos aprender com o Papa Francisco: senso de humor, ironia."

Nesse ponto, como relata o Vatican News, Cercas relembrou "a ternura que a Igreja demonstrou por mim ao me convidar para participar da viagem do Papa Francisco e escrever um livro sobre ele, "O Louco de Deus no Fim do Mundo", embora eu não seja crente. Francisco pediu a todos nós que assumíssemos riscos. E para a Igreja, isso foi um risco, enquanto para mim foi um grande trabalho: eu tive que me livrar dos meus preconceitos".

Muitas pessoas, em todo o mundo, mas especialmente em países tradicionalmente católicos como Itália, Espanha e Irlanda, têm enormes preconceitos em relação à Igreja e ao Vaticano. Escrever um livro como este exigiu um trabalho tremendo: ver, sem julgamentos automáticos, o que realmente está acontecendo, quem são essas pessoas, o que a Igreja está fazendo hoje. É isso que nós, escritores, fazemos: desautomatizamos a realidade. Como se a estivéssemos vendo pela primeira vez. E, assim, tudo se torna surpreendente.

Livro "El loco de Dios en el fin del mundo", de Javier Cercas (Editora Random House, 2025).

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