23 Agosto 2025
"A juventude encontra seu sentido não em discursos moralizantes, mas na experiência concreta de ver alguém viver de modo coerente e pleno. O testemunho, nesse horizonte, é um convite silencioso à transcendência: mostra que uma vida só se torna verdadeiramente humana quando se orienta por algo maior que si mesma".
O artigo é de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves, historiador, filósofo e teólogo. É formado em História, Filosofia e Teologia, áreas nas quais trabalha como professor em Juiz de Fora (MG).
A juventude, em seu dinamismo e inquietude, é o tempo da pergunta radical: para que viver? Trata-se de uma etapa em que o ser humano se depara com o peso da liberdade e com a urgência de construir sentido para além da repetição mecânica da vida social. No entanto, na contemporaneidade, esse processo encontra-se fragilizado por uma cultura marcada pela liquidez (Bauman), pela aceleração do tempo (Rosa) e pela lógica da transparência e do desempenho (Han). O jovem, ao invés de ser conduzido à formação de vínculos consistentes, é lançado em uma avalanche de estímulos que produzem exaustão e vazio.
Viver com sentido não é apenas acumular experiências, mas assumir uma narrativa capaz de dar coerência à existência. Hannah Arendt lembra que o ser humano só se realiza plenamente quando se insere no espaço público e se deixa reconhecer por suas ações e palavras. A juventude, portanto, precisa de testemunhos que não sejam apenas ideais abstratos, mas exemplos vivos de que é possível resistir à banalidade do consumo e da indiferença. O testemunho de uma vida autêntica revela que a liberdade não se confunde com a ausência de limites, mas com a capacidade de escolher responsavelmente e dar forma à própria história.
Entretanto, vivemos uma profunda crise de referências. O mundo contemporâneo, marcado pela liquidez das relações e pela velocidade das transformações, já não oferece aos jovens horizontes consistentes de sentido. Em lugar de mestres, sábios ou figuras de autoridade capazes de inspirar uma vida de responsabilidade e profundidade, proliferam modelos passageiros que representam a lógica da performance e da visibilidade.
Influenciadores digitais, celebridades efêmeras e personagens do consumo massificado se tornam os novos referenciais, mas sua força simbólica repousa em uma base frágil: o sucesso rápido, a estetização da vida cotidiana e a promessa de uma felicidade instantânea.
Esse cenário cria um processo de alienação cada vez mais intenso. Ao internalizar tais referências, a juventude é conduzida a buscar a realização existencial em instâncias que, por natureza, não podem sustentá-la: a fama momentânea, a acumulação de bens como extensão da identidade e a aprovação instantânea medida em curtidas e seguidores. O sentido da vida, reduzido à lógica da visibilidade, perde sua profundidade ética e existencial, transformando-se em mera performance para o olhar alheio.
A ausência de testemunhos sólidos – vidas coerentes, marcadas pela integridade, pelo compromisso e pela abertura ao outro – conduz, inevitavelmente, a um vazio existencial. O que deveria ser promessa de plenitude degenera em uma sucessão de frustrações, pois cada conquista efêmera exige ser imediatamente superada por outra, em um ciclo interminável de insatisfação. A juventude, assim, experimenta a angústia de viver numa cultura em que nada permanece e em que toda estabilidade é percebida como ameaça à liberdade.
Nesse contexto, o desafio não é apenas denunciar a fragilidade destes ídolos passageiros, mas propor alternativas de referência que apontem para uma vida que resiste à lógica do descartável. Uma vida com sentido, capaz de inspirar a juventude, só pode florescer onde há testemunho de coerência, de compromisso com valores que ultrapassam o imediatismo e de coragem diante da pressão por se adaptar à lógica do mercado e da imagem.
Assim, o desenvolvimento emocional assume um papel de destaque, referindo-se ao processo em que o jovem aprende a reconhecer, compreender, expressar e regular suas emoções. As experiências vivenciadas em várias etapas da vida, especialmente as interações com os pais e os amigos, moldam a forma como o jovem se relaciona consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
Emoções como a frustração, o medo e a ansiedade são questões vinculadas à experiência humana e podem surgir em vários estágios da vida. A frustração, por exemplo, é uma emoção que se apresenta muito atuante na vida de jovens principalmente quando não conseguem atingir um objetivo ou obter algo desejado. Os pais podem ajudar nesse processo ao ensiná-las a desenvolver paciência, por meio de atividades que exijam espera. Além disso, é essencial que reforcem o esforço e a persistência, mostrando que os desafios podem ser superados. Ao oferecer alternativas para resolver problemas, os pais incentivam a construção de uma mentalidade resiliente, promovendo uma abordagem positiva diante das dificuldades.
O verdadeiro testemunho de uma vida com sentido é, antes de tudo, uma postura ética. É a coragem de se opor à lógica da descartabilidade, de assumir compromissos que ultrapassam o “eu imediato” e se abrem ao “nós duradouro”. É afirmar, contra a pressão da aceleração, o valor da permanência; contra a lógica da superficialidade, a profundidade das relações; contra o narcisismo, a abertura ao outro.
Assim, a juventude encontra seu sentido não em discursos moralizantes, mas na experiência concreta de ver alguém viver de modo coerente e pleno. O testemunho, nesse horizonte, é um convite silencioso à transcendência: mostra que uma vida só se torna verdadeiramente humana quando se orienta por algo maior que si mesma.