18 Agosto 2025
O paradoxo prolongado de uma Igreja que parece impotente, nas reflexões do padre Severino Dianich e do poeta Titos Patrikios. Nós os encontramos cem dias após a eleição de Leão, após o Jubileu da Juventude em Roma e na véspera do Congresso dos Teólogos Italianos. "Lamentamos a morte de Francisco. A 'normalidade' de seu sucessor poderia finalmente trazer mais força às comunidades locais."
A reportagem é de Donatella Puligain, publicada por La Lettura, 17 -08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mesmo os mais distraídos entre nós não podem deixar de se impressionar com as imagens do recente encontro de jovens de todo o mundo em Tor Vergata, para celebrar o Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco, e para se encontrar com Leão XIV. Para aqueles que já tinham nascido — ainda que crianças — na época do grande festival de Woodstock, o pensamento voltou — apesar de todas as distinções óbvias — àquele fluxo humano que invadiu Bethel, uma cidade rural no norte do estado de Nova York, de 15 a 18 de agosto de 1969: três dias de paz e rock. E se os rios humanos que convergiram em Tor Vergata tiveram no mínimo o dobro do tamanho daquele laico precedente, nos lembraram do poder simbólico que um encontro pela paz pode ter. Justamente hoje: enquanto nas nossas telas estão se seguem imagens desumanas de guerras que estão nos inoculando a vacina da indiferença, enquanto o novo Papa, eleito há exatamente cem dias, em 8 de maio, iniciou sua jornada com um grito em prol da "paz desarmada e desarmante".
Após o encontro de Tor Vergata e na véspera do congresso nacional da Associação de Teólogos Italianos, que discutirá a relação entre Igreja e sociedade e a transição entre os dois pontífices, conversamos com dois respeitados idosos (ambos rejeitam corajosamente os eufemismos) da cultura europeia: o teólogo Severino Dianich (nascido em 1934) e o poeta grego Titos Patrikios (nascido em 1928). A distância mútua, tanto geográfica quanto intelectual, não impede uma harmonia de visão quando se trata de colocar em prática convicções amadurecidas ao longo de uma longa vida que se libertou progressivamente do peso das ideologias.
O que representa para a Igreja a transição do pontificado de Francisco para o de Leão? Que elementos de continuidade e descontinuidade podem ser percebidos? E com que consequências para a Igreja e a sociedade?
Severino Dianich — Cem dias é pouco tempo: Leão ainda não tomou nenhuma decisão particularmente importante. Mas a diferença entre as duas personalidades é tão evidente que quase não precisa ser descrita: Francisco apaixonado, espontâneo, desinibido, fora do papel e amante do diálogo direto; seu sucessor comedido, ligado ao texto escrito e prudente. Fortalecido pelo ensinamento agostiniano, ele nos testemunhará que a fé só é possível em uma cumplicidade singular entre o intelecto que aspira à verdade e a vontade que aspira ao bem. Poderíamos pensar que teremos um Papa da "normalidade". Se assim for, que assim seja. A Igreja Católica se beneficia de um Papa, mas sofre com demasiado Papa. Naturalmente, um Papa mais comedido poderia finalmente levar a uma maior força nos episcopados locais e a uma sinodalidade mais decisiva: essa é a minha esperança.
Titos Patrikios — Devo dizer que o pontificado de Francisco me pareceu uma luz para o mundo inteiro, um grito que a política internacional também faria bem em ouvir. Lamentei sua morte. Ainda não posso dizer nada sobre Leão. Se a vida me der um pouco mais de tempo, poderei avaliar melhor a sua contribuição. Cabe se perguntar que espaço existe — diante de tanto horror na história e nos noticiários do nosso tempo — para um olhar de fé. Porque não basta recusar-se a crer que Deus existe, para que Ele não exista realmente e não se fale mais nisso. A questão de Deus, no corpo da humanidade, é uma ferida aberta que nunca cicatriza.
Severino Dianich — Muitos crentes expressam surpresa com o fato de haver tão pouca fé no mundo, mas, na verdade, é realmente espantoso que haja fé no mundo. E é frequentemente o assombro do não crente diante desse fenômeno que o leva ao limiar do espaço do Deus possível e o impele a cruzá-lo. O espanto e o assombro fluem, assim, como um fio luminoso, dentro do amálgama sombrio da tragédia da história, produzido pela maldade do homem. É preciso deixar para trás o dilema da existência ou da não existência de Deus: não há nada a demonstrar, mas muito a esperar em um mundo observado e apreciado com assombro. Mas isso desapareceria se quiséssemos demonstrar a existência de Deus. A imprevisibilidade de Deus paira, em vez disso, no horizonte da esperança de que ele se revele: "Faça resplandecer o teu rosto sobre nós, e seremos salvos" (Salmo 80,3).
Titos Patrikios — Para mim também, o exercício do assombro foi um poderoso motor na busca da verdade, que sempre combinei com a dedicação a uma causa de justiça. Tanto que, quando percebi que até a busca pela verdade às vezes leva à cegueira, não pude deixar de testemunhá-la, mesmo que isso tenha me custado em termos de incompreensões, decepções e caminhos divergentes. Era o período em que via que a crise do mundo socialista já estava em curso, enquanto as pessoas da minha geração se recusavam a ver a realidade. Foi então que experimentei a solidão, a traição, o abandono.
Em que práticas (em nível global e interpessoal) o apelo constante à "paz desarmada e desarmante" pode encontrar realização concreta? Porque, para além dos anúncios, há a vida cotidiana, a crônica da banalidade do mal. Os cristãos celebraram recentemente a Transfiguração, mas ao nosso redor vemos apenas deformações. Luzes que rasgam os céus para matar em vez de iluminar.
Severino Dianich — Um bispo de quem não lembro o nome, mas lembro de suas palavras poderosas, disse num sínodo que a tragédia da Igreja era que todos louvavam os seus anúncios e ninguém os colocava em prática. Os poderosos da vez correm para o Papa, porque assim aparecerão nos noticiários, nas primeiras páginas dos jornais do mundo todo e nas redes sociais, mas evitam cuidadosamente colocar em prática até mesmo suas sugestões, ainda que veementes. O poder e a impotência da Igreja. Nada mal, como semelhança com Jesus Cristo.
Titos Patrikios — Hoje, acredito que a paz vem através de pequenos e insignificantes gestos de amor, que é o que resta quando tudo acaba. O delírio dos poderosos pode encontrar uma barreira dentro de cada um de nós, se tivermos a coragem de pôr em ato práticas de natureza oposta. Gestos poéticos, surpreendentes, que reacendem nossa vida cotidiana. Não sei se Deus está presente nesses gestos, mesmo que eu pense nele com mais frequência neste tempo da minha vida. Um tempo que me dá tempo para a lembrança, para a lentidão, para apreciar o que foi a minha existência.
O lituano Zvi Kolitz, autor de uma obra singular na qual o judeu Yossl Rakove, o único sobrevivente da última casa ainda não atingida pelo fogo que está reduzindo a cinzas o gueto de Varsóvia, dirige-se a Deus com uma última prece: "Creio no Deus de Israel, embora ele tenha feito de tudo para me impedir de crer nele. (...) Quero perguntar-te, Deus, e essa pergunta arde dentro de mim como um fogo devorador: o que mais, sim, o que mais precisa acontecer antes que mostres novamente a teu rosto ao mundo? (...) Sei com certeza que não podes ser o Deus daqueles que, com as suas ações, deram a mais atroz prova de impiedade com as armas." Essa acusação, dirigida àqueles que hoje inverteram tragicamente os papéis de vítima e carrasco, é ainda mais dramática.
Severino Dianich — Só o número de mortos — que de fato me dediquei a pesquisar sistematicamente — dá a ideia do absurdo dos acontecimentos a que estamos assistindo. Somente as vítimas têm condições de dar o devido peso aos fatos e clamar por vingança: "E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra!" O drama é que as guerras muitas vezes têm o poder diabólico de se fazerem aplaudir pelos futuros mortos. Violações de direitos humanos básicos, assassinatos de civis, mulheres e crianças, as inúmeras atrocidades cometidas todos os dias são denunciadas com o ar de quem honra a guerra como algo nobre e deplora os atos de desumana crueldade que não respeitam suas regras. Migrações em massa, valas comuns, estupros, saques, destruição de casas, fábricas, portos, mentiras inauditas sobre o iminente "colapso do inimigo", incitações ao ódio: isso é guerra, exatamente como aquela que todos os homens e mulheres da minha geração vivenciaram. É guerra, toda guerra, que não pode ser nada além disso. Não faz sentido culpar o inimigo pelas atrocidades dessa guerra, como se a guerra fosse algo nobre, que o adversário deturpa com a sua barbárie.
Titos Patrikios — Tendo atingido o limiar dos 98 anos, àqueles que me perguntam o que mais me assusta, respondo que não é a morte, nem a decadência que a precede. Nem mesmo a solidão em que me deixaram aqueles — e são tantos! — que se foram antes de mim. Essas são realidades inerentes à natureza. O que mais me assusta é a guerra. Conheci-a de perto e — como escrevi num poema (Dívida) — percebi que “Entre toda esta morte que veio e vem,/ guerras, execuções, julgamentos, morte e mais morte,/ doenças, fome, fatalidades fatais,/ amigos e inimigos assassinados por sicários,/ mortes sistemáticas e obituários prontos,/ a vida que vivo é quase um dom./ Um dom do destino, se não um roubo da vida alheia,/ porque a bala da qual escapei não caiu no vazio,/ mas atingiu o outro que estava no meu lugar./ Assim, como um dom imerecido, a vida me foi dada,/ e todo o tempo que me resta,/ é como se me tivesse sido presenteado pelos mortos,/ para narrar a sua história” (La resistenza dei fatti, Crocetti Editore, org.).
O ato de contar, de narrar para dar a conhecer, talvez contenha uma força humanizadora que não deve ser perdida. Como podemos pensar numa evangelização das novas gerações que desperte a sua capacidade de imaginação?
Severino Dianich — Acredito que o Evangelho não é uma noção, mas uma notícia. A história humana de Jesus tem muito a dizer de novo ao mundo de hoje, mesmo à parte da fé. Portanto, falar sobre ele, o que ele disse, o que ele fez, o motivo de sua morte, antes mesmo de testemunhar a fé nele ressuscitado, que é a fonte da esperança. A grande esperança que desce em cascata para animar todas as pequenas esperanças que sustentam nosso dia a dia.
A esperança aparece cada vez mais como a marca da singularidade cristã, e Deus sabe o quanto precisamos dela no mundo de hoje. Nessa linha podemos também ver o fenômeno dos padres influenciadores, que desfrutam de amplo seguimento e grande espaço online?
Severino Dianich — Eu realmente não consigo entender por que o advento de uma linguagem nova e eficaz e a disponibilidade de novas ferramentas de comunicação deveriam representar um problema para a difusão do Evangelho. Paulo e os evangelistas, alguns anos depois de Jesus, escreveram enquanto Jesus não escrevia; eles escreveram em grego enquanto ele falava aramaico; até arrecadavam dinheiro para pagar os pergaminhos, os escribas e os mensageiros para fazer circular seus escritos. Se tivessem a tecnologia digital, teriam se dedicado de corpo e alma: "Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira" (Filipenses 1,18).
Titos Patrikios — Não estou familiarizado com os milagres da internet. Ainda escrevo à mão, enquanto posso. Mas sei que a palavra, em qualquer forma em que seja transmitida, expressa tudo. Coisas reais e imaginárias, materiais e ideais. Às vezes as infla, às vezes as diminui. De qualquer forma, no final, as salvas. Todas: vida e morte, amor e ódio, racionalismo e paixão, sociedade e indivíduo, economia e política, novos questionamentos e respostas antiquadas, busca da verdade e sobrevivência da mentira, revolta e submissão, liberdade e escravidão: tudo o que sustenta a palavra, e tudo o que a enfraquece, só ela o expressa. E aqueles que se comunicam por meio dela têm uma grande responsabilidade. A responsabilidade de oferecê-la como um ato que pode mudar nossas vidas, as vidas dos outros, como um gesto que pode ferir e curar, que pode contagiar o bem e injetar o mal.
Será realizada em Pisa nos próximos dias a assembleia da ATI (Associação Teológica Italiana), uma organização nascida no clima pós-conciliar (em 1967). Será uma oportunidade importante para retomar o debate, começando pela "Lumen Gentium", a segunda das quatro constituições do Concílio Vaticano II, promulgada por Paulo VI em 21 de novembro de 1964. O que podemos esperar desse encontro?
Severino Dianich — Espero que a reconsideração sobre o tema da Igreja como povo de Deus e não como uma trincheira a ser defendida seja uma contribuição importante para o movimento em prol da sinodalidade, daquele caminhar juntos que é um evento de grande importância para uma Igreja acostumada à passividade e à inércia da base.
Titos Patrikios — Justamente em torno do tema da estrada gira a minha poesia, assim como a minha vida. Às vezes, o caminho é de terra e árduo, outras vezes é repercorrido com novos olhos (a referência é aos títulos de duas de suas coleções, La strada sterrata e La strada, di nuovo. ndr). Porque cada vida tem seu próprio caminho, cada caminho vive das pegadas de quem o percorre e, por isso mesmo, o cria. E aqui entra a escuta do outro, trate-se de pessoas ou animais não humanos, de perguntas ou buscas ansiosas por uma realização. Cada uma com sua própria beleza, sua dignidade, seu segredo: justamente por nos reconhecermos como semelhantes, torna-se possível imaginar e respeitar a vida dos outros. E talvez, do Outro.