80 anos de Hiroshima e Nagasaki: corremos o risco de repetir a história em sua tragédia irremediável. Destaques da Semana no IHU Cast

Arte: Mateus Dias | IHU

Por: Cristina Guerini e Lucas Schardong | 09 Agosto 2025

Lembramos essa semana os 80 anos que marcam a capacidade humana de se autodestruir. As bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, vistas como o maior crime de guerra da humanidade, refrescam nossa memória que depois da luz há a escuridão. A possibilidade de revivermos o passado nuclear é nunca foi tão grande quanto agora. 

Vento de luz e morte

Quando o bombardeiro Enola Gay partiu da base americana na Ilha de Tinian, às 2h45, levando a bordo “Litle Boy”, a população de Hiroshima não imaginava que aquela seria a última noite até o mundo conhecer o poder de um explosivo atômico. Ao despencar do céu e atingir o solo japonês às 8h15, no dia 6 de agosto de 1945, "Litle boy” se converteu em um vento de luz e morte, que varreu a cidade nipônica, trazendo horror e destruição, cujos efeitos radioativos foram sentidos por décadas. O mundo, desde então, não é mais o mesmo e vivemos, hoje, mais do que nunca desde a Segunda Guerra, o risco de vermos a história se repetir em sua tragédia irremediável, o risco de sermos exterminados em um instante.

Mais de 100 mil pessoas morreram instantaneamente. Três dias depois, a segunda bomba explode em Nagasaki, ceifando cerca 74 mil vidas. Ao todo, estima-se que 226 mil pessoas tenham morrido em Hiroshima e Nagasaki como resultado dos bombardeios atômicos.

Luz do apocalipse

Terumi Tanaka, um dos sobreviventes de Nagasaki e prêmio Nobel da Paz por sua atuação contra as armas nucleares, lembrou daquele dia em entrevista. Ao ser perguntado sobre a possível abolição das armas nucleares, foi enfático: "Não importa se é possível, precisa ser tornado possível. Acreditar que a humanidade não pode abrir mão delas significa admitir seu uso. Acreditar que podemos conviver com elas é otimista e preocupante: se uma arma existe, ela será usada. Acredito que nenhum de nós, sobreviventes, verá um mundo sem armas nucleares; no entanto, podemos todos ver a destruição da Terra mais cedo do que imaginamos".

Brilho silencioso

Os tempos de paz parecem utopias distantes. Hoje existem 12 mil e 100 ogivas nucleares disponíveis para as nove potências, das quais, 4 mil estão ativas. “O poder do 'brilho silencioso' da explosão atômica, expande-se à medida que avançamos em um século XXI de conflitos multiplicados — não esqueçamos que Vladimir Putin insinuou que armas atômicas podem ser usadas legitimamente e que o botão nuclear dos EUA está nas mãos de Donald Trump”.

COP30: hora de confrontar interesses

Os preparativos para a COP30, dois pontos foram centrais essa semana. O primeiro são os preços exorbitantes das hospedagens. E, o outro, está no focado na “oportunidade extraordinária para mudar a narrativa, recentralizar o conhecimento indígena e reimaginar a governança”, conforme propõe Marcos Colón no artigo, COP30 na Amazônia: uma cúpula crucial ou um carnaval climático? O professor de mídia e comunidades indígenas na Universidade do Arizona, acredita que: “A verdadeira ação climática deve desmantelar as estruturas que criaram a crise. Isso significa pôr fim à expansão dos combustíveis fósseis. Significa confrontar os interesses do agronegócio e da mineração. Significa ver o conhecimento indígena não como "complementar", mas como central”.

Lobby do patrocinador

Os financiadores da COP são o país sede, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e patrocinadores privados. No caso da COP de Belém, "os principais financiadores são dos setores de mineração, agronegócio e energias renováveis", alertou Melka Barros. Para a advogada, "esse tipo de patrocínio gera discussões sobre o lobby que esses grandes grupos econômicos promovem para influenciar as tomadas de decisões e os compromissos globais formalizados através dos acordos finais e documentos da COP.

Extorsão

Os preços abusivos praticados na rede hoteleira em Belém têm tomado conta do noticiário e a primeira autoridade a cancelar a participação foi o presidente da Áustria. Não é para menos, a hospedagem para os dez dias de COP chegam a custar, em média, 80% a mais do que a estadia no mesmo período no Copacabana Palace, um dos hotéis de luxo mais tradicionais do país, conforme levantamento do jornal O Globo. A ministra do meio ambiente, Marina Silva, vem chamado de “extorsão” os preços praticados e advertiu: “Nós não podemos pensar em destruir a galinha dos ovos de ouro”. Para Marina, o aumento de preços superior a dez vezes dos antes praticados, “é o absurdo dos absurdos. Isso passa a ser uma espécie de extorsão e o governo brasileiro está trabalhando junto às autoridades do estado para que essa situação não prejudique a necessária e legítima participação dos delegados, sobretudo de países em desenvolvimento”.

Poluição Plástica

Por falar em COP, trazemos agora um tema crucial da agenda da emergência climática: poluição plástica. Um relatório publicado pela revista The Lancet “chamou a atenção para o tamanho dos danos causados à saúde pela poluição por plástico”. Este é “um perigo grave, crescente e pouco reconhecido para a saúde humana e planetária”. “Segundo a análise, a presença do plástico no mundo aumentou mais de 200 vezes desde 1950 e a produção acelerada do material deve triplicar até 2060, atingindo mais de um bilhão de toneladas anuais. “Essa crise global, divulgou o ClimaInfo, gera cerca de 8 trilhões de reais em danos como a contaminação de ecossistemas, a intoxicação da população e o agravamento da crise climática”.

Tratado Global

De 5 a 14 de agosto está em discussão em Genebra o Tratado Global da ONU Contra a Poluição Plástica. No entanto, os negacionistas dos “Estados Unidos de Trump resolveram melar as negociações. De acordo com a Reuters, o governo norte-americano enviou cartas pressionando os países contra o estabelecimento de limites à produção de plásticos e seus aditivos químicos”.

Prisão domiciliar

A semana começou com protestos bolsonaristas que se espalharam pelo país. A mobilização mostrou que apesar de doente, o movimento continua vivo. O descumprimento das medidas restritivas por parte de Jair Bolsonaro durante as manifestações, levaram o STF a decretar a prisão domiciliar o ex-presidente, o que incendiou as disputas no Congresso Nacional, que voltava do recesso.

“Não é ajuda, é um massacre orquestrado”

O gabinete de segurança israelense aprovou a ocupação total de Gaza. Ela ocorrerá em várias fases: da evacuação para campos humanitários à realocação para o sul, e até mesmo facilitando a migração voluntária. Enquanto a tragédia da ocupação total  não se consolida, vozes minoritárias continuam a ecoar denúncias de genocídio e crimes de guerra no enclave palestino. No relatório, “Não é ajuda, é um massacre orquestrado”, Médicos Sem Fronteiras documentaram os horrores causados pela distribuição de ajuda em Gaza. A ONG destaca que “o esquema letal e desumano de entrega de alimentos em Gaza, bancado por Estados Unidos e Israel, precisa acabar”.

PL da devastação sancionado

Voltamos à pauta ambiental para falar sobre o PL da Devastação. Nesta sexta-feira, 8 de agosto, o governo anunciou a sanção do PL do Licenciamento Ambiental com 63 vetos aos 400 pontos do projeto aprovado no Legislativo. A nova Lei geral do Licenciamento Ambiental pode "aumentar expressivamente o desmatamento na Amazônia, representando um 'retrocesso de décadas'”, segundo especialistas. “O novo texto pode revogar a proteção de 18 milhões de hectares no país, área equivalente ao Uruguai”. A lei fragiliza regras para o licenciamento ambiental. Lula ainda assinará uma medida provisória que determina a eficácia imediata da Licença Ambiental Especial - LAE, que autoriza obras e empreendimentos de forma mais rápida, independente do impacto ambiental, desde que a construção seja considerada estratégica pelo governo federal.

Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana.

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