06 Agosto 2025
"Oe e muitos outros japoneses investiram na memória minuciosa daquele massacre para esconjurar sua repetição. Com as palavras que usamos hoje, também construímos a memória de amanhã."
O artigo é de Alberto Leiss, publicado por il manifesto, de 05-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na quarta-feira, 6 de agosto, e no sábado, 9, completam-se oitenta anos dos bombardeios atômicos sobre Hiroshima e Nagasaki. Comprei na banca a reedição do antigo livro de Kenzaburo Oe, Notas de Hiroshima. Um título tão minimalista que destaca ainda mais o horror das "entrevistas angustiantes", como escreve o autor, com os sobreviventes dos bombardeios que constituem o conteúdo principal dos ensaios ali reunidos.
Publicado em 1965, o livro foi traduzido e publicado na Itália apenas em 2008. Naquela ocasião, Oe escreveu sobre sentir uma "alegria extraordinária" ao se reler em uma língua "que sabe expressar a esperança após a dor de uma forma tão encantadora". Espero que tenha tido razão.
Teríamos — ou melhor, já temos hoje uma necessidade extrema de uma língua capaz de expressar esperança diante da dor e do horror que estamos testemunhando.
Comprei também o pequeno livro que contém o relatório de Francesca Albanese, Relatora Especial da ONU para os Direitos Humanos sobre os Territórios Ocupados por Israel, intitulado "Da Economia da Ocupação à Economia do Genocídio". Vou lê-lo com atenção. Acho muito correto investigar, na tragédia de Gaza, da Cisjordânia e de Israel, não apenas as responsabilidades políticas e estatais, mas também aquelas das empresas, dos "privados".
Enquanto isso, a palavra "genocídio" está cada vez mais se arraigando no discurso público sobre a guerra, como uma espécie de "arma discursiva" empregada para aumentar o conflito entre aqueles que julgam a tragédia de Gaza de fora, em vez de contribuir para avaliar a gravidade do que está acontecendo e ajudar de todas as maneiras possíveis a pôr fim à violência bélica e encontrar uma paz duradoura. Naturalmente, cada um tem total direito de polemizar como e com quem quiser. E talvez até mesmo os confrontos violentos nas redes sociais e na mídia possam ajudar a aumentar a conscientização sobre o que estamos vivenciando.
Duvido, e me limito a dizer que não gosto dessa virulência polêmica entre nós, espectadores. Na verdade, parece-me ser um efeito "militarizante" das guerras que sentimos mais próximas (infelizmente, existem muitas outras), uma espiral que nos suga para a lógica "amigo-inimigo" oposta à cultura e à linguagem que deveriam promover a paz. Penso nas críticas opostas, tanto da esquerda quanto da direita, à entrevista de David Grossman, na qual o escritor israelense profere a palavra "genocídio" para Gaza, mas para alguns e algumas, isso ainda não é suficiente. Enquanto Giuliano Ferrara, no lado oposto, conclui um discurso um tanto confuso sobre o "sentimento de culpa" dos judeus com esta frase: "O poeta nacional se enredou na língua de seus inimigos, como acontece com os poetas".
Cumprimentos, ao contrário, para Liliana Segre, por responder a Grossman (aliás concordando em grande parte com o conteúdo) argumentando sobre sua recusa em usar a palavra "genocídio". Algo que atraiu sobre ela críticas, até mesmo vulgares, nas redes sociais.
Mas como é possível se dirigir assim a um homem que viu um de seus filhos morrer em uma das guerras de Israel e a uma mulher que foi presa em Auschwitz aos 13 anos e cuja família foi exterminada em campos de concentração?
O curto-circuito midiático, compreensivelmente desencadeado entre o evento de Hiroshima e as tragédias que se desenrolam em Gaza e na Ucrânia (com repetidas alusões russas e estadunidenses à guerra nuclear), deveria nos levar, nós que não usamos armas mortais e, acima de tudo, jamais desejaríamos usá-las, a refletir sobre a nossa linguagem.
Oe e muitos outros japoneses investiram na memória minuciosa daquele massacre para esconjurar sua repetição. Com as palavras que usamos hoje, também construímos a memória de amanhã.