17 Julho 2025
Quando forem 5h29 (12h29 em Portugal) desta quarta-feira, 16 de julho, nos Estados Unidos da América, os sinos das igrejas, em particular do estado do Novo México, vão repicar e muitas pessoas irão rezar, em lembrança do teste nuclear que inaugurou a era da guerra atómica. Também em Portugal e na Europa nos poderemos associar a este momento.
A reportagem é publicada por 7Margens, 15-07-2025.
Foi a 16 de julho de 1945, há precisamente 80 anos, que foi detonada em Trinity, no deserto de Jornada del Muerto, no Novo México, a primeira bomba nuclear, um teste que seria seguido pelo lançamento da primeira bomba sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, três semanas depois.
O arcebispo de Santa Fé, John C. Wester, e os bispos das dioceses de Las Cruces e de Gallup, reunir-se-ão com outros líderes religiosos e leigos no local do teste, para rezarem e meditarem juntos pelo fim das guerras que assolam o mundo e pela proteção contra “a ameaça constante da devastação nuclear”. A oração terá carater privado, visto que o local não é aberto ao público, mas haverá uma emissão via streaming.
O arcebispo Wester convidou as igrejas do Novo México e de outros estados a participarem neste ato, tocando os sinos às 5h29m do dia 16 de julho, a hora exata da primeira explosão atómica, como um apelo à oração pela paz e pelo desarmamento nuclear. Para além dos sinos, as paróquias e comunidades farão vigílias e momentos de reflexão, ao longo do dia.
“Os líderes religiosos destacarão a importância do diálogo e da cooperação internacional para evitar futuros conflitos e promover um mundo livre da ameaça nuclear”, referiu o arcebispo, num comunicado.
Além do toque dos sinos, várias paróquias e comunidades organizarão vigílias e momentos de reflexão ao longo do dia. Os padres foram incentivados a incluir orações pela paz e pela eliminação das armas nucleares nas Orações dos Fiéis durante a missa do dia, celebrada em honra de Nossa Senhora do Monte Carmelo, importante festa mariana na Igreja Católica.
“A história do teste Trinity lembra-nos do poder destrutivo que criámos, mas também da nossa responsabilidade moral em garantir que tal tragédia nunca se repita”, observou o arcebispo Wester que tem sido um lutador em prol da abolição das armas nucleares, em articulação com o episcopado católico japonês.
É precisamente a Conferência dos Bispos Católicos do Japão que acaba de produzir uma declaração a propósito do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, na qual se afirma apostada num “compromisso com a abolição das armas nucleares”.
“A existência de armas nucleares – escrevem os bispos nipónicos – representa uma séria ameaça a toda a vida, pois degrada a dignidade dos seres humanos e do mundo que Deus criou para ser ‘muito bom’. Os danos causados pela precipitação radioativa e a destruição ambiental generalizada causada por explosões nucleares têm um enorme impacto negativo nos ecossistemas globais”.
A declaração não esquece a existência de vítimas relacionadas com os testes nucleares e com a mineração de urânio, os Hibakusha [vítimas atómicas], que obrigam a ter “uma visão mais ampla dos sobreviventes atómicos”. Essa é mais uma razão para, na visão dos bispos, considerar o desenvolvimento, os testes, a produção, a posse e o uso de armas nucleares como “eticamente inadmissíveis”.
O comunicado recusa também o conceito de dissuasão nuclear por ser “um meio ineficaz de resolução de conflitos”, mas também por “mergulhar o mundo num “dilema de segurança” que, na realidade, o leva à beira de uma guerra nuclear.
“O mundo deve poder escolher a paz sem armas nucleares”, nota a Conferência Episcopal, que se compromete a continuar a “afirmar a desumanidade das armas nucleares”; a solidarizar-se com movimentos nacionais e internacionais que lutam por essa abolição; a apoiar os princípios do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPAN) e a “passar a filosofia da paz à próxima geração, por meio da educação para a paz e atividades de conscientização”.
Também os movimentos Pax Roman e Pax Christi acabam de publicar uma declaração “para sensibilizar e mobilizar os católicos, especialmente os bispos, as organizações e os jovens na região da Ásia-Pacífico livre de armas nucleares”.
“Ao comemorarmos o 80º aniversário dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, recordamos o custo devastador da guerra e das armas nucleares. Estes aniversários impelem-nos a procurar a cura, a reconciliação e um futuro livre da ameaça da devastação nuclear”, lê-se no texto, que todos são convidados a subscrever online.
Esta declaração, juntamente com a lista de signatários, será apresentada nos serviços memoriais que terão lugar em Hiroshima e Nagasaki, nos próximos dias 6 e 9 de agosto de 2025.
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