01 Agosto 2025
Decreto assinado por Trump definiu lista de quase 700 exceções, mas produtos estratégicos da pauta de exportação do Brasil para os EUA não foram poupados, como carne e café. Tarifa entra em vigor em 6 de agosto.
A reportagem é publicada por DW, 31-07-2025.
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos confirmada na quarta-feira (30/07) por Donald Trump deixou 694 produtos de fora, o que representa cerca de 43,4% do total exportado pelo Brasil para o mercado americano. A estimativa preliminar é da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham).
A entidade estima que os itens protegidos do tarifaço representam 18,4 bilhões de dólares – o total exportado pelo Brasil aos EUA em 2024 foi de 42,3 bilhões de dólares.
Na lista de exceções, estão itens de peso da pauta comercial brasileira, como petróleo, combustíveis, suco e polpa de laranja, minérios, fertilizantes, motores, peças, componentes e aeronaves civis. No entanto, ficaram de fora produtos como café e carne bovina, que tiveram a taxação de 50% confirmada no decreto assinado por Trump.
O Brasil é maior exportador mundial de café, com os EUA sendo o maior comprador. Em 2024, as exportações de café para os americanos foram de quase 2 bilhões de dólares (16,7% do total).
Alívio parcial
Apesar de lamentarem a medida, governo e o setor produtivo brasileiro esperavam inicialmente um impacto maior do tarifaço – o maior entre os países que exportam aos EUA –, anunciado por Trump em 9 de julho.
"Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor", afirmou a Amcham, em nota.
Entre os produtos fora do tarifaço que mais causam impacto em valor exportado estão combustíveis, abrangendo 76 produtos, com 8,5 bilhões de dólares exportados em 2024. Em seguida, aparecem aeronaves, o que engloba 22 produtos e 2 bilhões de dólares em vendas ao mercado americano. Ferro e aço, com exportação de 1,8 bilhão de dólares, e pastas de madeira (celulose), com 1,7 bilhão de dólares, também são destaque na lista de exceções.
De acordo com o texto, a medida, que passará a vigorar a partir de 6 de agosto, seria uma resposta a ações do governo brasileiro que, segundo a Casa Branca, são uma ameaça "incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA".
O comunicado volta a citar o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal federal (STF), acusando o governo brasileiro de cometer graves violações aos direitos humanos através de "perseguição, intimidação, assédio, censura e acusação politicamente motivadas".
"O presidente Trump tem reafirmado consistentemente seu compromisso de defender a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos contra ameaças estrangeiras, inclusive salvaguardando a liberdade de expressão, protegendo empresas americanas de censura coercitiva ilegal e responsabilizando violadores de direitos humanos por seu comportamento ilegal", afirmou o decreto, que teve como base a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977.
Leia mais
- Trump recua. Chickens out. Mas o Brasil segue sob ataque. Artigo de Maria Luiza Falcão
- Em que o ataque de Trump nos provoca a pensar. Artigo de Ricardo Queiroz Pinheiro
- Como chegamos até aqui? A aliança de Eduardo Bolsonaro com Trump que pavimentou o tarifaço
- Os próximos passos do tarifaço de Trump. Artigo de Paulo Kliass
- A agressão de Washington e a questão nacional. Artigo de Paulo Kliass
- Trump, o tarifaço e a política brasileira em aberto. Artigo de Jean Marc von der Weid
- Trump, Bolsonaro e crise de hegemonia, essa esquecida. Artigo de Luiz Carlos De Oliveira e Silva
- O que diz a lei contra tarifaço de Trump sancionada por Lula
- Trump impõe tarifaço ao Brasil em apoio a Bolsonaro
- Trump usa o poder dos EUA por meio de tarifas para influenciar a política interna do Brasil em favor de seu amigo Bolsonaro
- Soberania, o agro e o golpismo antipatriótico. Artigo de Gabriel Vilardi
- Jornal francês chama Trump de "mafioso internacional" por "interferência explícita" na política brasileira
- A cronologia dos laços entre o trumpismo e o bolsonarismo
- O que diz a lei contra tarifaço de Trump sancionada por Lula
- Quais são as tarifas de Trump atualmente em vigor
- Por que Donald Trump tem tanto medo do Brics?
- O ataque de Donald Trump aos BRICS. Artigo de Tiago Nogara
- Trump ameaça tarifas a países que se alinharem ao Brics
- Tarifaço de Trump domina discussões do Brics no Brasil
- Como as tarifas de Trump impactam a América Latina
- Mundo se prepara para guerra comercial após tarifas de Trump
- "A fórmula tarifária de Trump receberia nota baixa em um curso básico de economia". Entrevista com Ben Golub
- As tarifas de Trump. "Elas são uma escolha louca, entraremos em recessão e correremos o risco de outra guerra", afirma Francis Fukuyama
- Casa Branca comemora após tarifas: “Estamos mais fortes agora.” Mas EUA está se dividindo
- Como o Brasil quer se defender do "tarifaço" de Trump
- Brasil sofrerá impactos moderados com taxação dos EUA; China e União Europeia serão os maiores prejudicados, avaliam especialistas
- Lula diz que Brasil não ficará 'quieto' diante das tarifas de Trump; Alemanha exige 'reação firme'
- Ao lado de Trump, bolsonaristas celebram vitória e retomam plano de pressionar STF