22 Julho 2025
A semana de quatro dias aumenta a satisfação dos trabalhadores com seus empregos, de acordo com um estudo, o que não encerra o debate sobre produtividade.
A informação é de Daniel Mediavilla, publicada por El País, 21-07-2025.
A ciência nos ensinou que o bom senso nem sempre é confiável, e vale a pena colocá-lo à prova quando precisamos tomar decisões importantes. A Terra nos parece plana, é lógico pensar que objetos pesados caem mais rápido ou que as crianças nascem com a mente em branco, na qual qualquer coisa pode ser escrita, mas tudo isso é mentira. Hoje, a revista Nature Human Behavior publica os resultados de um estudo que analisa o que o bom senso nos diz sobre o trabalho: menos horas, melhor saúde mental e bem-estar. Nesse caso, os resultados coincidem com as expectativas. Uma redução da semana de trabalho para quatro dias sem redução salarial aumenta a satisfação profissional dos trabalhadores, melhora a saúde física e mental e reduz a fadiga e os problemas de sono.
Para testar os efeitos da semana de quatro dias, uma equipe de sociólogos liderada por Wen Fan e Juliet Schor, do Boston College, EUA, conduziu um estudo de seis meses que acompanhou quase 3 mil funcionários de 141 empresas na Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido, Irlanda e EUA. Utilizando indicadores de satisfação no trabalho ou saúde, eles compararam os resultados antes e depois da intervenção e os compararam com os de 285 funcionários de 12 empresas que não reduziram suas jornadas de trabalho.
Os resultados mostram melhorias claras em vários indicadores-chave de bem-estar. O esgotamento profissional diminuiu significativamente, de 2,83 para 2,38 em uma escala de 1 a 5, enquanto a saúde mental melhorou de 2,93 para 3,32 e a saúde física de 3,01 para 3,29. A satisfação no trabalho aumentou de 7,07 para 7,59 em uma escala de 0 a 10. Embora se esperasse que as mudanças físicas fossem mais lentas, as melhorias foram observadas mesmo após apenas seis meses. Esses benefícios foram sustentados por 12 meses, embora a satisfação no trabalho tenha mostrado leves sinais de adaptação, pois é normal se acostumar com o bom e o ruim, mas sem retornar completamente ao ponto de partida.
O estudo também constatou que quanto maior a redução de horas em nível individual, maiores as melhorias no bem-estar, especialmente na redução do burnout. Os benefícios são explicados por vários fatores: os trabalhadores sentem que trabalham melhor, dormem melhor, sentem-se menos cansados, se exercitam mais e têm maior controle sobre suas vidas.
O estudo publicado hoje apresenta resultados semelhantes a outros promovidos pela 4 Day Week Foundation, que envolveu milhares de funcionários em países como o Reino Unido. Esses experimentos, além de melhorar o bem-estar dos funcionários, também estimaram benefícios ambientais devido à redução do uso de carros particulares.
Para que o interesse dos funcionários em trabalhar menos pelo mesmo salário se torne realidade, as empresas precisarão ver benefícios no acordo, ou pelo menos não serem prejudicadas. Neste ponto, uma grande empresa de tecnologia também não está na mesma posição que uma pequena empresa de hotelaria. María Jesús Sánchez, economista sênior da Fundação Caixas Econômicas (Funcas), acredita que a ideia de que é possível eliminar um dia de trabalho por semana sem impactar a produtividade geral "é uma fantasia". Em sua opinião, "a redução das margens das empresas devido à queda da produtividade faria com que os salários não subissem no longo prazo e, por meio da inflação, as empresas recuperariam as margens perdidas". "Com o passar dos anos, veremos que estamos trabalhando menos, mas por salários menores, e resta saber se esses benefícios para o bem-estar e a saúde mental se mantêm com a redução salarial", sugere.
Embora o estudo publicado hoje inclua empresas de diversos setores, elas participaram voluntariamente, o que pode enviesar os resultados, pois essas organizações, devido às suas circunstâncias únicas, sentem-se capazes de se adaptar à medida. Nesse sentido, especialistas como Sánchez e Jesús Lahera Forteza, da Universidade Complutense, argumentam que a diversidade das empresas e seus níveis de produtividade tornam desaconselhável a imposição de uma semana de quatro dias por lei. "Talvez em um país na fronteira tecnológica, com setores de alto valor agregado e grandes empresas, essa redução pudesse ser melhor absorvida, mas não na Espanha, onde estamos na base da escala de produtividade", diz Sánchez.
Wen Fan, autor do estudo, afirma que não observaram "nenhuma perda de produtividade associada à redução da jornada de trabalho". Um dos motivos é que muitas organizações realizam um processo de reorganização de dois meses antes do início do teste. Isso permite que eliminem ineficiências em seu fluxo de trabalho, como reuniões desnecessárias ou tarefas que não agregam valor significativo ao produto ou serviço final.
"Essas mudanças ajudam a manter a produtividade enquanto reduzem a jornada de trabalho", explica Fan. Além disso, em muitas empresas, os funcionários se comprometeram a manter 100% de produtividade. "Embora não seja um requisito formal, a maioria das empresas conseguiu atingir essa meta", afirma o pesquisador. No entanto, é importante ressaltar que a produtividade não foi medida por meio de um método mais ou menos objetivo, mas sim por meio de perguntas aos funcionários, que autoavaliaram seu desempenho. Com esse método, afirma Fan, a produtividade "apresentou uma melhora significativa e significativa do início ao fim do teste".