22 Julho 2025
Um artigo de Vito Mancuso foi publicado no La Stampa em 13 de julho e parece ressuscitar os piores estereótipos antijudaicos agora liberados pelo conflito no Oriente Médio, o único conflito que acendeu o desejo pela justiça universal entre muitos intelectuais europeus. Esta resposta pretende ser um convite para não nos tornarmos portadores inconscientes de lógicas de exportação do conflito.
O artigo é de Davide Assael, judeu italiano, fundador e presidente da associação lech lechà, professor de filosofia e escritor, em resposta a Vito Mancuso, publicado por Domani, 18-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caro diretor, um artigo de Vito Mancuso foi publicado no La Stampa em 13 de julho e gerou debate e indignação nos ambientes judaicos. Pessoalmente, sempre achei um pouco difícil dialogar com Vito Mancuso por uma série de motivos. Em primeiro lugar, porque ele dá de ombros quando confrontado com críticas, confundindo essa atitude com uma capacidade de se manter firme diante das pressões, o que ele de fato demonstrou em vários momentos de sua trajetória intelectual. Em segundo lugar, porque sempre me pareceu portador inconsciente de um antijudaísmo quase pré-conciliar, que eu próprio pude experimentar no pouco contato que mantivemos.
Aquele preconceito feito de piadas, sorrisos, insinuações, que causam embaraço no judeu ao lado. Um pouco como as mulheres diante de uma "apreciação" sexista feita, como se sabe, por "galanteio". Assim, pude constatar que, na linguagem coloquial de Mancuso, os judeus são "espertos", "astutos", "pessoas que você não engana" e, na linguagem mais institucional, "fechados em si mesmos" porque "cuidam da própria vida".
São palavras que, para quem pertence a uma minoria, são como um arranhão na pele. Você tenta explicar, depois fica em silêncio por hábito, para não brigar o tempo todo. Sim, porque, ao defender excessivamente a justiça universal, você pode esquecer a pessoa ao seu lado.
Por fim, sempre achei difícil dialogar com o amigo Vito, pois sempre me pareceu um tanto simplista reduzir tudo a um nobre, porém genérico, sentimento de indignação diante de uma injustiça assumida de forma totalmente abstrata, sem qualquer análise aprofundada dos processos históricos, políticos e culturais que determinam as situações e os lados opostos. Às vezes, o resultado é o conformismo acrítico que procede por ouvir dizer, como testemunhamos na atual era da comunicação instantânea.
E assim o sionismo religioso, uma tradição no mínimo articulada, que contou com a participação de mentes brilhantes, trazendo de volta para um movimento laico os temas da transcendência e da filosofia da história (veja-se pelo menos Rav Avraham Itzhaq HaCohen Kook, mas muitos outros), é nivelado em Ben-Gvir, dando a impressão de seguir um conformismo intelectual, no qual se repete acriticamente o nome que está circulando no momento. Geralmente, o único que se conhece. Como é bem sabido pelos milhões de israelenses que protestam contra ele desde bem antes da guerra, o ex-presidiário Ben-Gvir é um fascista de corpo e alma, e certamente o kahanismo em que se inspira não pode ser separado da identidade judaica moderna.
Mas a origem dessa degeneração não é resultado do "israelismo" que Mancuso cunha em seu artigo, que ele parece usar para indicar a explicitação nacional da identidade judaica, inevitavelmente estigmatizando a própria ideia de Estado judeu e o sacrossanto direito de um povo à autodeterminação.
Na verdade, expressa — e essas também são coisas bem conhecidas e amplamente debatidas em Israel há anos — a crise do ideal sionista clássico introjetado pela Declaração de Independência de 1948, onde se busca aquele delicado equilíbrio entre ideais universais e identidade particular, uma característica que permeia toda a história judaica.
Essas me parecem leituras reveladoras, nem tanto de um catolicismo pré-conciliar, mas daquele marcionismo que, ao helenizar a mensagem de Jesus, queria remover do cristianismo todo vestígio de raiz judaica (o ‘israelismo’?). Essa, como Nietzsche bem compreendeu, é a alma obscura que se esconde por trás do universalismo cristão e ocidental, que oculta, em sua aspiração ao bem, aquela vontade de poder imperial que o colocou em rota de colisão com metade do mundo. Um marcionismo também evidente na forma como as Escrituras são usadas. E aqui a fronteira do antijudaísmo é realmente ultrapassada.
Parece-me entender que o amigo Vito gostaria de remover todas aquelas partes que demonstrariam a proverbial perfídia judaica, vista hoje à obra no hediondo (e de fato ele é) Benjamin Netanyahu. Aquele vampiro sedento de sangue das crianças que era retratado nos cartazes do Hamas durante a macabra entrega dos reféns. Nada é por acaso nesses contextos. Um método exegético um tanto à la carte, que extrai e descontextualiza, a ponto de desnaturá-las, passagens em si já distorcidas pela cadeia ininterrupta das traduções.
Um método já visto à obra nos últimos anos com o Alcorão para alimentar propagandas cuidadosamente elaboradas. Falamos tanto de guerra híbrida, mas depois não percebemos quando nós nos tornamos seus instrumentos. Porque o que estamos testemunhando é uma lógica de exportação do conflito baseada na pior onda de antissemitismo desde 1967. Também em virtude dessas experiências, onde circulavam, vejam só, as mesmas palavras de hoje, esperava-se que certos tons tivessem sido arquivados de uma vez por todas.