Não se tenha dúvidas. Quando o furacão chegar, não restará pedra sobre pedra, não apenas do político, mas do empresário Donald Trump.
O artigo é de Luís Nassif, jornalista, publicado por Jornal GGN, 20-07-2025.
Eis o artigo.
Até algum tempo atrás, quem ousasse imaginar os arroubos de Donald Trump seria taxado de fantasioso. Trump atropelou todos os limites do bom senso.
A maneira como conseguiu atuar até hoje, de forma impune, passou a impressão de que foram liquidados completamente todos os limites democráticos. Reside aí o erro de raciocínio.
Todo abuso continuado gera uma reação cumulativa. A atuação de Trump já provocou a oposição dos seguintes setores:
- As universidades e os centros de pensamento jurídico.
- A imprensa, do liberal The New York Times aos antigos apoiadores do grupo Murdoch, incluindo Fox News, The Wall Street Journal.
- Todas as empresas importadoras, afetadas pelas novas tarifas e pelas maluquices de tarifas de 50% a 100% ao bel prazer de Trump.
- As comunidades latinas e negras.
São resistências cumulativas. E ele ainda vive dilemas. Se recua nas apostas, passa a impressão de fraco – imagem destruidora de lideranças fascistas. Se continua apostando, vai gerando mais desequilíbrios e criando mais resistências.
Em suma, a versão acabada do ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Faltava o episódio síntese, aquele capaz de ser assimilado por todos os níveis de público, até os terraplanistas. E, agora, ele chegou. Ou melhor, voltou para ficar.
O caso Epstein
Agora, paira sobre sua cabeça as revelações do caso Epstein – o milionário que arrumava meninas menores de idades para o mundo dos bilionários.
A versão de suicídio jamais foi convincente. Como uma das pessoas mais vigiadas dos EUA morre sob custódia federal?
Havia uma série de coincidências suspeitas.
- Duas câmeras de segurança próximas à cela falharam ou apresentaram problemas técnicos.
- Os dois agentes penitenciários responsáveis dormiram durante o plantão e falsificaram registros de rondas.
- Epstein havia sido retirado da vigilância antissuicídio apenas dias antes, apesar de um suposto intento anterior.
- O laudo oficial indicou suicídio por enforcamento com lençol. Mas o patologista independente contratado pela família (Michael Baden) afirmou que: “As fraturas no osso hioide são mais consistentes com estrangulamento homicida do que com enforcamento suicida.
- As marcas no pescoço também causaram dúvida: estavam horizontais (como de estrangulamento) e não oblíquas (como típico em enforcamento).
- Epstein foi preso em julho de 2019. Morreu menos de 40 dias depois. Ele estava pronto para delação sobre sua rede de tráfico sexual, finança e chantagens.
- A prisão e condenação de Ghislaine Maxwell (sua parceira) em 2021/2022 revelou novas informações, mas não nomes nem provas completas.
- Parte do material foi liberado em 2024 e 2025, mas muitos nomes foram suprimidos.
- Documentos como o “black book” e as gravações de câmeras privadas de Epstein ainda não foram integralmente tornados públicos.
Nas próximas semanas, será o prato predileto da mídia. The Times e New York Post, uma em Londres, outra em Nova York, ambas do grupo Murdoch, já iniciaram o tiroteio, secundando o The Washington Post, que trouxe a primeira reportagem, da nova rodada sobre as relações Epstein-Trump,
As reportagens do The Times tem manchetes bombásticas: “É uma história maior do que o mundo jamais conheceu”, diz ele.
Mostrou que os logbooks de voos no jato de Epstein – apelidado de “Lolita Express”- revelam passageiro proeminentes, mas sugerem que a lista é muito maior do que foi revelado, “muito ainda está por vir”, e especula até possíveis vínculos com a inteligência israelense.
Outra reportagem mostra o senador Ron Wyden afirmando que o governo Trump detinha registros secretos de US$ 1,5 bilhão em transferências financeiras relacionadas a Epstein, incluindo transações abastecidas por bancos russos.
Um conjunto grande de estragos políticos já foi contabilizado. Pesquisa da Reuters mostrou que 69% dos norte-americanos acreditam que o governo está ocultando informações sobre clientes de Epstein, e apenas 17% aprovam a forma como Trump conduziu o caso.
Entre os republicanos, 35% aprovam, 30% desaprovam e 35% estão indecisos. E a campanha sobre o tema mal começou. Figuras da ala Maga, como Laura Loomer, Mike Pence e Josh Hawley, pressionam por mais transparência, chamando a postura atual de “cover‑up”.
Outros escândalos
Não é o único escândalo reprimido provisoriamente, em função da reeleição de Trump. Há muito mais macaquinhos no sótão de Trump, conforme sincretiza o Chat GPT.
1. Esquema de “hush money” e falsificação de registros (Nova York)
- Em março de 2023, o promotor Alvin Bragg apresentou 34 acusações criminais contra Trump por falsificar registros comerciais para ocultar pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels antes da eleição de 2016.
- Em maio de 2024, foi condenado por essas práticas (sem risco de prisão, mas com registro criminal).
2. Caso civil por fraude financeira (fraude patrimonial em NY)
- A procuradora-geral Letitia James moveu ação contra Trump e seu grupo, acusando inflação fraudulenta de patrimônio em mais de US$ 3,6 bi entre 2011‑2021.
- Em fevereiro de 2024, o juiz Arthur Engoron condenou Trump a pagar cerca de US$ 355 mi (com juros, ultrapassando US$ 500 mi) e proibiu-o de atuar como diretor de empresas em Nova York por três anos.
3. Condenação da Trump Organization por sonegação de impostos
- Em dezembro de 2022, a Trump Organization e seu CFO Allen Weisselberg foram considerados culpados por um esquema de 15 anos de fraude fiscal criminal.
- Weisselberg recebeu pena de prisão e tornou-se testemunha-chave.
4. Trump University – Fraude educacional
- Trump enfrentou várias ações por suposta operação fraudulenta da “Trump University”, acusada de enganar consumidores e operar como esquema rico.
- Ele foi responsabilizado financeiramente em acordos, embora sem condenação criminal direta.
5. Mar-a-Lago – Seguros e avaliações falsas
- Indícios de fraude em seguro: Trump recebeu US$ 17 mi por suposto dano de furacão que, segundo o butler, não ocorreu.
- Em processos de fraude patrimonial, a mansão foi supervalorizada em sua contabilidade (até US$ 627 mi, contra avaliação real de US$ 18–27 mi).
6. Conflitos de interesse e favorecimento nos negócios
- Trump e sua família lucraram com negócios ligados a criptomoedas, empreendimentos imobiliários internacionais e acordos com governos estrangeiros – inclusive um memorando avalia US$ 2 bi com fundo dos Emirados.
- Críticos apontam uso de poder presidencial para favorecer esses negócios, levantando acusações de violações do emoluments clause e possíveis crimes financeiros.
Não se tenha dúvidas. Quando o furacão chegar, não restará pedra sobre pedra, não apenas do político, mas do empresário Donald Trump.
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