16 Julho 2025
- A Caritas Jerusalém emitiu um novo apelo denunciando a crise humanitária em Gaza. "Com a intensificação das hostilidades e o bloqueio de suprimentos essenciais, todos os setores da vida civil estão se desintegrando."
- A ONG ofereceu um resumo detalhado e devastador das condições enfrentadas pelos moradores da Faixa de Gaza.
- Após 21 meses da ofensiva israelense em Gaza, agências humanitárias alertam para um colapso operacional iminente. A limitada ajuda que está sendo entregue àqueles que permanecem na Faixa corre o risco de ser completamente paralisada. Enquanto isso, o número de mortes de civis está aumentando.
- As críticas internacionais também aumentam em relação ao controverso plano israelense de construir uma "cidade humanitária" em Rafah. O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert condenou publicamente o plano, chamando-o de limpeza étnica. "É um campo de concentração."
A reportagem é publicada por Religión Digital, 16-07-2025.
A Caritas Jerusalém emitiu um novo apelo denunciando a crise humanitária em Gaza. "Com a intensificação das hostilidades e o bloqueio de suprimentos essenciais, todos os setores da vida civil estão se desintegrando", afirmou a instituição de caridade administrada pela Igreja em um comunicado pedindo intervenção internacional para evitar mais perdas de vidas e de dignidade humana.
"Um cessar-fogo imediato e acesso humanitário irrestrito são urgentemente necessários", ele pediu.
A Caritas forneceu um relato detalhado das condições enfrentadas pelos moradores da Faixa.
Segurança alimentar
A fome aguda afetou toda a população. Padarias apoiadas pela ONU estão fechadas. O aumento dos ataques contra aqueles que buscam ajuda — 758 mortos e mais de 5.000 feridos desde 27 de maio — interrompeu as entregas de alimentos.
Água, saneamento e higiene: Mais de 80% da infraestrutura está localizada em zonas de conflito ativo. A escassez de combustível paralisou a produção de água, o tratamento de águas residuais e o descarte de resíduos.
Quase 40% de todas as doenças relatadas são diarreia aquosa aguda.
Saúde: Os hospitais estão sobrecarregados e com poucos recursos. Suprimentos médicos, combustível e leitos são extremamente escassos. Só em junho, foram notificados 484 casos suspeitos de meningite.
Doenças transmitidas pela água e desnutrição estão aumentando rapidamente; proteção: As famílias estão cada vez mais expostas à violência de gênero, exploração infantil e traumas psicológicos extremos.
Muitos serviços de linha de frente interromperam suas operações devido à insegurança e à destruição.
Educação: Mais de 15.800 alunos e 700 funcionários escolares perderam a vida. 85 espaços temporários de aprendizagem suspenderam suas operações, afetando mais de 33.000 crianças. A educação praticamente parou.
Abrigo: Estima-se que 1,3 milhão de pessoas necessitem urgentemente de abrigo emergencial e utensílios domésticos. Nenhum material de construção para abrigos entrou em Gaza desde março, enquanto a superlotação e os deslocamentos repetidos agravam a emergência humanitária. O acesso humanitário tem sido severamente prejudicado.
Mais de 680 caminhões permanecem retidos na fronteira. A escassez de combustível ameaça mergulhar Gaza em um apagão total nas comunicações.
A presença da Cáritas
Apesar da gravidade da situação no local, a Caritas Jerusalém está presente em Gaza com dez centros médicos e uma clínica central na Cidade de Gaza; apoio psicossocial para crianças e mulheres traumatizadas; e assistência financeira para ajudar os mais vulneráveis a cobrir suas necessidades básicas.
Cessar-fogo imediato
A Caritas também anuncia a suspensão de um centro médico na área de Al Zaitoun devido à deterioração da situação, particularmente em torno de duas igrejas cristãs: a Igreja Ortodoxa de São Porfírio e a Igreja Latina da Sagrada Família. Por isso, a Caritas apela aos governos, organizações humanitárias, instituições religiosas e pessoas conscientes em todo o mundo para: "exigirem um cessar-fogo imediato; garantirem o acesso humanitário irrestrito; e protegerem a população civil, especialmente crianças e famílias deslocadas".
"Há vidas por um fio. O mundo não deve olhar para o outro lado", conclui a Caritas.
Após 21 meses de ofensiva israelense em Gaza, agências humanitárias alertam para um colapso operacional iminente. A limitada ajuda que está sendo entregue àqueles que permanecem na Faixa corre o risco de ser completamente paralisada. Enquanto isso, o número de mortes de civis está aumentando. No domingo, pelo menos 95 palestinos foram mortos em ataques israelenses, incluindo crianças que buscavam água e pessoas que faziam compras em um mercado na Cidade de Gaza.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) confirmou a morte de outro bebê desnutrido, enquanto oito agências da ONU disseram que, sem combustível, seu trabalho de salvar vidas poderá ser interrompido em breve.
O Ministério da Saúde de Gaza agora relata mais de 58.000 mortos e 138.000 feridos desde o início da guerra em 7 de outubro de 2023.
O alto e crescente número de mortos não é surpreendente, visto que o exército israelense intensificou seus ataques aéreos. Na manhã de segunda-feira, 14 de julho, o país assumiu a responsabilidade por mais de 100 novos ataques aéreos somente nas últimas 24 horas.
As operações terrestres também continuam no norte de Gaza. A ajuda é escassa e as tentativas de recolhê-la provaram ser letais depois que duas pessoas foram mortas perto de um centro de ajuda humanitária em Rafah no domingo, o mais recente de muitos desde que a controversa Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos Estados Unidos e Israel, interveio depois que outras agências foram impedidas ou bloqueadas de entrar na Faixa de Gaza.
A comunidade internacional enfrenta crescente pressão para agir. O diretor-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, alertou em 11 de julho que Gaza se tornou um cemitério para crianças e pessoas famintas, chamando o bloqueio humanitário de "um plano cruel e maquiavélico para matar".
Medos pelo futuro de Rafah
As críticas internacionais também estão aumentando sobre o controverso plano de Israel de construir uma "cidade humanitária" em Rafah.
O campo proposto abrigaria dezenas de milhares de palestinos deslocados em suas ruínas. Segundo a mídia israelense, a construção poderia levar mais de um ano e custar até US$ 15 bilhões.
O ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert condenou publicamente o plano, chamando-o de limpeza étnica. "É um campo de concentração", declarou, alertando que tal instalação — onde a entrada é forçada e a saída, restrita — privaria os palestinos de sua liberdade e dignidade sob o pretexto de ajuda humanitária. O líder da oposição Yair Lapid ecoou essa preocupação, afirmando que Israel corre o risco de sofrer danos morais irreparáveis.
Grupos de direitos humanos e autoridades da ONU alertam que a cidade aprisionaria palestinos sem julgamento ou escolha, transformando a infraestrutura de ajuda humanitária em uma ferramenta de controle. O plano, afirmam, é incompatível com o direito internacional e a dignidade humana.
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