10 Julho 2025
A ação do Departamento de Estado contra Francesca Albanese segue a ação movida perante o Tribunal Penal Internacional em fevereiro por emitir mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da defesa.
A reportagem é de Maria Antonia Sánchez Vallejo, publicada por El País, 10-07-2025.
O Departamento de Estado dos EUA, chefiado por Marco Rubio, anunciou sanções na quarta-feira contra Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados desde 1967, por seu "antissemitismo flagrante" e por encorajar uma campanha política e econômica contra Israel. Washington acusa Albanese especificamente de "colaboração direta" com o Tribunal Penal Internacional (TPI) para "investigar, deter, prender ou processar cidadãos dos Estados Unidos ou de Israel, sem o consentimento desses dois países", de acordo com o comunicado divulgado na quarta-feira.
“A campanha política e econômica de Albanese contra os Estados Unidos e Israel não será mais tolerada. Sempre apoiaremos nossos parceiros em seu direito à autodefesa”, declarou o Secretário de Estado dos EUA em sua conta no Twitter. Albanese acusou abertamente Israel de crimes de guerra, incluindo genocídio, na Faixa de Gaza.
As sanções contra Albanese, um crítico particularmente veemente da ofensiva israelense em Gaza, são as mesmas impostas ao tribunal da ONU em 6 de fevereiro. Elas consistem no congelamento de seus bens, bem como na revogação de seu visto e na proibição de entrada nos Estados Unidos. "Nem os Estados Unidos nem Israel são partes do Estatuto de Roma, portanto, esta ação [de Albanese, como a do TPI antes dele] constitui uma grave violação da soberania de ambos os países".
O comunicado do Departamento de Estado acusa Albanese de "atividades tendenciosas e maliciosas que há muito a desqualificam para o cargo de Relatora Especial. Albanese proferiu antissemitismo flagrante, expressou apoio ao terrorismo e manifestou desprezo pelos Estados Unidos, Israel e o Ocidente. Esse preconceito tem sido evidente ao longo de sua carreira, inclusive recomendando que o TPI, sem qualquer fundamento legítimo, emitisse mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant".
A redação da declaração assemelha-se bastante à que anuncia as sanções contra o tribunal da ONU. “O TPI, conforme determinado pelo Estatuto de Roma, empreendeu ações ilegítimas e infundadas contra os Estados Unidos e nosso aliado próximo, Israel. O TPI, sem qualquer fundamento legítimo, declarou jurisdição e abriu investigações preliminares contra funcionários dos Estados Unidos e alguns de seus aliados, incluindo Israel, e abusou ainda mais de seu poder ao emitir mandados de prisão infundados contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant.”
O comunicado do Departamento de Estado lembra que Albanese intensificou recentemente sua suposta perseguição com "cartas ameaçadoras a dezenas de entidades em todo o mundo, incluindo grandes empresas americanas dos setores financeiro, de tecnologia, defesa, energia e hotelaria, nas quais faz acusações extremas e infundadas e recomenda que o TPI investigue e processe essas empresas e seus executivos. Não toleraremos essas campanhas de guerra política e econômica, que ameaçam nossos interesses e soberania nacionais".
Em um relatório recente, Albanese denunciou que grandes empresas de investimento americanas, como Blackrock e Vanguard, cometeram "graves violações do direito internacional" ao lucrar com uma "economia genocida". Isso é motivo mais do que suficiente para Washington, como porta-voz de Israel, atacar novamente a ONU por sua denúncia da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023, após o feroz ataque do Hamas a Israel, que ceifou a vida de mais de 50.000 pessoas, segundo fontes oficiais de Gaza.
Coincidindo com o segundo encontro entre Trump e Netanyahu em menos de 48 horas, durante a visita oficial deste último a Washington, autoridades americanas, israelenses e catarianas mantiveram conversas secretas na Casa Branca na terça-feira, focadas no principal ponto de discórdia para alcançar um cessar-fogo de 60 dias e um acordo sobre os reféns israelenses em Gaza, de acordo com o Axios. "Ainda há algumas pontas soltas, mas atualmente estamos em uma trajetória positiva", disse uma fonte ao veículo. Um grande ponto de discórdia continua sendo a posição de retirada do exército israelense da Faixa de Gaza durante um hipotético cessar-fogo.