08 Julho 2025
O Boston Consulting Group é considerado um dos "três grandes" do setor. Agora, uma série de reportagens indica como ele tem apoiado a fundação anti-UNRWA, responsável pela distribuição de ajuda e pelos planos de expansão ao longo da costa.
A reportagem é de Pablo Elorduy, publicada por El Salto, 08-07-2025.
Em 6 de junho, Christoph Schweizer, CEO do Boston Consulting Group (BCG), pediu desculpas aos investidores da empresa após a revelação da relação do grupo com a Fundação Humanitária de Gaza (GHF). Esta ONG pró-Israel suplantou agências oficiais da ONU na distribuição de ajuda humanitária e é acusada de facilitar massacres em filas de distribuição de alimentos.
Em um e-mail obtido pela imprensa americana, Schweizer admitiu as "falhas de processo" na concepção da fundação, da qual a empresa de consultoria foi separada há apenas um mês. As estatísticas mais recentes do Ministério da Saúde de Gaza mostram que mais de 700 pessoas morreram enquanto compareciam a um dos pontos de coleta de ajuda humanitária organizados pela GHF, e outras 5.000 ficaram feridas.
Apesar da mensagem de arrependimento de Schweizer, na qual ele prometeu garantir que erros como os detectados na criação da ONG não se repetissem, na semana passada o Financial Times noticiou que o Boston Consulting Group havia assinado um contrato multimilionário para organizar um plano de "realocação" de palestinos de Gaza.
Essa polêmica levou a empresa, uma das três maiores consultorias do mundo — a segunda maior, segundo o blog especializado Case Interview — a uma nova crise de reputação associada ao plano de distribuição de ajuda "Aurora", que obrigou a BCG a se desvincular da Fundação Humanitária de Gaza.
O plano divulgado em 4 de julho acrescentou à questão da distribuição de ajuda a criação de um modelo financeiro para a reconstrução pós-guerra de Gaza, incluindo a limpeza étnica de Gaza, nos moldes prometidos/divulgados por Donald Trump em seu vídeo de fevereiro sobre o futuro do território costeiro palestino.
A chamada "Riviera do Oriente Médio", projetada sobre as ruínas de Gaza, chocou o mundo com sua obscenidade, mas Benjamin Netanyahu a chamou de "ideia extraordinária". Sabe-se agora que não se trata apenas de um vídeo de inteligência artificial, mas que o Boston Consulting Group, ou pelo menos alguns de seus executivos, o vêm moldando por meio de planos e estudos técnicos.
O acordo envolveu a contratação da empresa de consultoria para realizar um trabalho avaliado em quatro milhões de dólares ao longo de um período de sete meses. Entre as ferramentas em que o BCG trabalhou está a criação de "pacotes de realocação", bônus no valor de US$ 9.000 por pessoa, que devem ser pagos a meio milhão de pessoas na Palestina para facilitar sua saída de Gaza. O plano estimou que 25% dos moradores de Gaza aceitariam o acordo e que três em cada quatro expatriados não retornariam para casa.
Após a divulgação dessas informações pelo Financial Times, a empresa afirmou que os executivos responsáveis pelo plano eram de nível médio e o elaboraram sem o conhecimento da alta gerência. Eram eles Matt Schlueter e Ryan Ordway, que trabalhavam na divisão de Defesa do Boston Consulting Group até serem demitidos devido a este escândalo.
Phil Reilly, fundador da Safe Reach Solutions, uma empresa militar privada que fornece segurança para a Fundação Humanitária de Gaza (GFH) e acredita-se que esteja realizando tarefas de inteligência militar, deixou a mesma divisão em dezembro de 2024, de acordo com o meio de comunicação israelense Shomrim.
Na semana passada, dois funcionários da UG Solutions, uma subcontratada da Safe Reach Solutions, detalharam como os funcionários da empresa haviam disparado munição real, granadas de efeito moral e spray de pimenta contra pessoas em busca de ajuda. De acordo com Israel Haoym, um veículo de comunicação ligado à família do falecido milionário sionista Sheldon Adelson, a Safe Reach Solutions está contratando mercenários (contratados) com um salário de aproximadamente US$ 1.100 por dia.
De acordo com o meio de comunicação israelense Haaretz, nem as Forças de Defesa de Israel (IDF) nem o Ministério da Defesa participaram da seleção, pelo governo de Benjamin Netanyahu, das empresas autorizadas a distribuir ajuda: a Fundação Humanitária de Gaza, a Safe Reach Solutions e a UG Solutions.
Nesse contexto, outra empresa, a americana Orbis, solicitou ao Boston Consulting Group a ajuda para elaborar um estudo sobre a questão da distribuição. Phil Reilly, ex-agente da CIA com experiência nos contras da Nicarágua e nas guerras contra o terrorismo no Iraque e no Afeganistão, foi associado à Orbis como vice-presidente. Por fim, outra de suas empresas, a SRS, venceu o contrato. A SRS tem sede no estado de Wyoming, um paraíso fiscal nos EUA.
“A história da Safe Reach Solutions exemplifica a obscura porta giratória entre velhos espiões e estados do Oriente Médio, que está sendo cada vez mais monetizada por investidores americanos ricos”, escreveu o Middle East Eye em um artigo de 5 de julho.
Para fechar o círculo, Benjamin Netantayhu, o responsável final pelo esquema proposto pela Orbis e liderado pela SRS, trabalhou na década de 1970 como consultor do Boston Consulting Group.
Embora o Boston Consulting Group tenha tentado se distanciar neste mês do legado da Gaza Humanitarian Foundation — cujo financiamento e propriedade são desconhecidos — os relatórios continuaram apontando para a responsabilidade do grupo na reconstrução da Palestina planejada por Israel e pelos Estados Unidos.
O “Grand Trust” é o próximo passo após a expulsão dos palestinos de Gaza e inclui a criação de “ilhas artificiais offshore semelhantes às de Dubai, iniciativas comerciais baseadas em blockchain, um porto de águas profundas para conectar Gaza ao corredor econômico Índia-Oriente Médio-Europa e ‘zonas econômicas especiais’ de baixa tributação”, informou o Financial Times em 7 de julho.
Para esse fim, a equipe do Boston Consulting Group teria contado com a ajuda de funcionários do Tony Blair Institute, um think tank fundado pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, do Partido Trabalhista.
Até 7 de julho, 57.523 pessoas foram mortas e 136.617 ficaram feridas em Gaza desde 7 de outubro de 2023. Desde que Israel quebrou unilateralmente o cessar-fogo em março deste ano, mais meio milhão de pessoas foram deslocadas em um pesadelo que não tem fim para a população palestina.
Esta semana, Netanyahu e Donald Trump devem se encontrar novamente. A possibilidade de uma nova pausa nos ataques está em pauta. De Israel, no entanto, há informações de que o debate girará em torno da visão de um "novo Oriente Médio". Coincidentemente, ontem, 7 de julho, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, anunciou que seu país pretende criar uma "cidade humanitária" em Rafah para realocar 600.000 palestinos.