26 Junho 2025
“Nós não somos os nossos regimes”. Assim começa a carta aberta escrita em persa, hebraico, inglês e francês por 21 intelectuais e ativistas iranianos e israelenses "no espaço de um dia", como nos conta Lior Sternfeld, um dos autores. Em dez dias de ofensiva, o número de signatários aumentou para mais de 2.100. A lista inclui a vencedora do Prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi, a defensora dos direitos humanos Mehrangiz Kar, o ex-membro do Knesset Mossi Raz e o presidente da Academia de Ciências e Letras de Jerusalém, David Harel.
Com o ataque dos EUA a Teerã no domingo, seu grito de paz se torna ainda mais forte. "Não, nós não somos nossos regimes. Confundir povos, países e governos é um grande erro. No caso do Irã, além disso, dada a confusão nas chancelarias internacionais a respeito, é macroscópico", sublinha Sternfeld, professor de história e estudos judaicos na Penn State University, um dos maiores especialistas em questões iranianas. No ano passado, o professor participou de uma reunião com o presidente Masud Pezeshkian à margem da Assembleia Geral da ONU, tornando-se o primeiro cidadão israelense a se encontrar publicamente com um líder da República Islâmica. "O mais grosseiro mal-entendido em relação a Teerã diz respeito à oposição interna".
A entrevista é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 24-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Netanyahu se dirigiu justamente a esta última no início da ofensiva, e ontem, o bombardeio da prisão de Evin foi uma nova mensagem. O que o governo israelense e muitos Estados ocidentais não entendem sobre a dissidência iraniana?
A oposição aos aiatolás não apenas existe, como também abrange grupos consistentes da sociedade. Sua hostilidade ao regime não se traduz, contudo, em apoio às intervenções bélicas de Israel e dos Estados Unidos. Os iranianos não querem ser salvos por Benjamin Netanyahu ou Donald Trump. Pelo contrário: estão cientes de que a guerra conduzida por potências estrangeiras causará danos incalculáveis ao seu país. E aqui vem o ponto crucial. Grande parte do povo iraniano não ama os aiatolás, mas ama – e profundamente – sua nação. E não quer vê-la despencar numa espiral de violência sem fim, como aconteceu no Iraque, no Afeganistão ou na Líbia. Ou cair mais uma vez refém de uma ditadura sanguinária. Experimentaram em sua própria pele os danos colaterais das intervenções ocidentais.
A que se referem?
Ao golpe de 1953 orquestrado pelos serviços secretos EUA e britânicos contra o governo legítimo em Teerã do nacionalista Mohammad Mossedeq para impor o Xá Mohammad Reza Pahlavi.
A oposição iraniana está convencida de que, ao derrubá-lo, o Ocidente matou a democracia iraniana, que passou do regime do Xá para o dos aiatolás. A sua luta começou então com o objetivo de lhe dar uma nova vida. E continua. Só os dissidentes sabem que isso não acontecerá com os mísseis israelenses: as bombas, como a história ensina, não trazem a democracia; são os processos internos, laboriosos, muitas vezes atribulados, que a fazem amadurecer.
No entanto, muitas vezes, não só em Israel, o regresso dos herdeiros do Xá é visto como uma opção...
Uma opção para quem? Certamente não para os iranianos... Se realmente se quer ajudar o Irã, é preciso ouvir a oposição interna, não alguma voz da diáspora, desprovida de representação e de contatos profundos com o contexto atual.
Ainda é possível evitar a escalada?
Muito depende da extensão da resposta de Teerã. Há pouca dúvida de que ela vai existir.
Será tal que possa ser "arquivada" pelos Estados Unidos, como aconteceu nos confrontos do ano passado com Israel, ou não? O Irã é frequentemente definido como "fraco". Eu não o considero como tal: obviamente tem capacidades militares inferiores às dos EUA ou de Israel, mas ainda tem os meios para causar muitos danos e sofrimento. Portanto, pedimos que a escalada seja interrompida antes que seja tarde demais. É por isso que escrevemos a carta aberta.
Como surgiu a ideia?
Em novembro, assustado com a possibilidade de uma guerra, um grupo de intelectuais iranianos contatou o outro lado – pensadores, professores e ativistas israelenses – para iniciar um processo de diálogo. Assim, iniciaram-se encontros online entre vinte e um interessados dos dois países. O agravamento da situação acelerou o esforço de paz. Começou-se a falar de uma mensagem comum: 24 horas depois, ela estava pronta. Ao núcleo original muitos outros se somaram. É um sinal importante porque rompe com a narrativa dominante de que os dois países são inimigos até o fim. Não é uma guerra entre povos, mas entre líderes que querem utilizá-los para seus próprios interesses.