17 Junho 2025
"Sou grato a Francisco por essas duas ajudas sobre a velhice e a liberdade, que são raras. Aliás, muito raras. Hoje, como mencionei, ninguém realiza aquela escola de envelhecimento que outrora era difundida em todo o território e presente em todas as comunidades: com os idosos se aprendia a envelhecer", escreve Luigi Accattoli, vaticanista, em artigo publicado por Il Regno – Attualità, nº 10, em 15-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como romano e vaticanista, estou acostumado a ficar de olho nos papas, mas no final, para cada um deles, me pergunto: que ajuda esse padre me deu para crer na fé? Francisco me deu pelo menos duas ajudas: viver a velhice como uma graça e me tornar livre em minha alma. Sobre a liberdade, sou muito grato aos dois últimos bispos de Roma. Bento XVI, com sua renúncia ao pontificado e continuando a falar como emérito, expandiu os limites da liberdade na Igreja Romana, e Francisco fez o mesmo, não se deixando bloquear em suas escolhas pela presença do emérito e realizando em diversas ocasiões uma pedagogia detalhada sobre a "liberdade do cristão": um lema que, nas proximidades da Cátedra de São Pedro, era quase um tabu, tendo Lutero dado esse título, em 1520, a um de seus panfletos disruptivos.
Permito-me resumir com minhas próprias palavras a pregação de Francisco sobre a liberdade, aderentes às dele, mas sem o incômodo de referências às fontes: Deus nos fez livres e respeita até mesmo a nossa liberdade de pecar, e, portanto, somos chamados a usar o dom da liberdade ao máximo para seguir a nossa vocação, mas também somos obrigados a respeitar a liberdade dos outros, incluindo a de rejeitar o cristianismo.
Nesse chamado para honrar a liberdade própria e alheia, vejo a maior novidade trazida por Francisco à pregação papal. Sua palavra mais ousada – sem precedentes na linguagem dos papas – creio que seja aquela com a qual ele qualificou como inaceitável a “ingerência espiritual na vida pessoal” (entrevista às revistas dos jesuítas em setembro de 2013), que em outra ocasião ele rotulou como “moléstia espiritual” (21 de outubro de 2013).
Tive a oportunidade de ouvir Francisco em uma das homilias da missa matinal em Santa Marta, em 4 de julho de 2013, que o L’Osservatore Romano publicou com o título “A liberdade dos filhos de Deus”, na qual se encontram estas palavras: “Essa liberdade dos filhos é tão bela, porque o filho está em casa. Jesus nos abriu as portas de casa. Essa é a raiz da nossa coragem: sou livre, sou filho, o Pai me ama e eu amo o Pai”.
Deixando-me guiar por essas palavras ouvidas no início do pontificado, pude compreender espontaneamente tanto o famoso "quem sou eu para julgar?", como por que ele disse a nós, jornalistas, três dias após a eleição, que nos abençoava "em silêncio, respeitando a consciência de cada um, dado que muitos de vocês não pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes". A ajuda para crer aqui foi imediatamente útil para mim e, desde então, tenho abençoado em silêncio – quando não posso fazê-lo em palavras – filhos, netos e amigos de diversas formas crentes e não crentes.
Mais fácil para relatar é a ajuda que me proporcionou Francisco na aprendizagem da arte de envelhecer, que é árdua e que ninguém mais ensina hoje. Ele a ensinou gestis verbisque, com gestos e palavras, até o último dia, que foi o de Páscoa, na qual quis abençoar mais uma vez, com seu último suspiro, o povo de Deus e circular entre a multidão despedindo-se de todos e de cada um.
Ele formulou o convite a “viver a velhice como uma graça” pela última vez no Prefácio ao pequeno volume do Cardeal Scola, Nell’attesa di un nuovo inizio. Riflessioni sulla vecchiaia (LEV), datado de 7 de fevereiro. Ele havia desenvolvido aquele tema extensivamente nas 18 catequeses semanais sobre a velhice que realizou em 2022, entre fevereiro e setembro, propondo a toda a Igreja um “ministério da gratidão” e de “espera do Senhor” a ser reconhecido aos idosos.
Na catequese número 16 de 10 de agosto de 2022, intitulada Velhice: tempo projetado para o cumprimento, o idoso Papa, já confinado a uma cadeira de rodas, dizia que aquele “precioso ministério da gratidão a Deus” por aquilo que recebemos na vida, é também um ministério de “espera do Senhor que, depois de nos ter preparado um lugar, virá novamente e nos levará consigo. O homem e a mulher idosos estão à espera, à espera de um encontro (...) e de um lugar à mesa com Deus, no mundo de Deus”.
Sou grato a Francisco por essas duas ajudas sobre a velhice e a liberdade, que são raras. Aliás, muito raras. Hoje, como mencionei, ninguém realiza aquela escola de envelhecimento que outrora era difundida em todo o território e presente em todas as comunidades: com os idosos se aprendia a envelhecer.
Agora, nós, idosos, somos relegados a asilos ou somos deixados a entristecer em apartamentos já vazios. Quanto à liberdade da alma, ou do espírito, ela sempre foi rara, tanto na Igreja quanto no vilarejo.
Um duplo agradecimento, portanto, a quem soube praticar essas duas pedagogias desconhecidas pela maioria.