13 Junho 2025
"No ano litúrgico, o Domingo da Trindade ocupa um papel importante: ele marca, após o encerramento do ciclo pascal no Pentecostes, a transição da Igreja para o Tempo Comum, que se estende até o primeiro domingo do Advento, quando se inicia um novo ano litúrgico com o ciclo do Natal. Nesse período, a cor predominante na liturgia é o verde. Ela simboliza vida nova e esperança."
O artigo de Antonia Lioba Wojaczek, teóloga, publicado por Katolhish.de, 07-06-2025.
O Domingo da Trindade é o início dos domingos "comuns" após o tempo pascal, sendo celebrado no domingo após o Pentecostes. A festa trata de um mistério central do cristianismo.
A doutrina da Trindade é um dos dogmas mais importantes da Igreja – tão importante que lhe foi dedicado até mesmo um dia comemorativo. O que está por trás disso? "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." Essa fórmula é conhecida por praticamente todo católico desde pequeno e é pronunciada intuitivamente ao final de cada oração. A Trindade de Deus se faz presente na vida cotidiana por meio do sinal da cruz. A Trindade – ou Trinitas – faz, portanto, parte do cotidiano de um cristão e tem até um dia festivo próprio na Igreja Católica: o Domingo da Trindade.
Esse dia é algo especial dentro do ano litúrgico. Diferentemente de solenidades como o Natal ou a Páscoa, ele não tem como motivo um acontecimento da vida de Jesus, mas coloca no centro uma verdade de fé da Igreja. E não qualquer uma, mas justamente a doutrina do Deus uno e trino. Por isso, o Domingo da Trindade é contado entre as chamadas festas de ideias – como Corpus Christi ou a festa do Sagrado Coração de Jesus – que celebram um conteúdo da fé.
O Deus uno e trino – a Trindade – é a união entre Deus Pai, Deus Filho e o Espírito Santo. Essas três são pessoas de igual dignidade – chamadas teologicamente de hipóstases – unidas em uma mesma essência, em grego ousia. Nenhuma das três pessoas é colocada acima das outras ou mais venerada. A fé no Deus trinitário tem sua raiz no Novo Testamento. Já Paulo menciona a Trindade em uma bênção, referindo-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (2Cor 13,13). Deus se revela às pessoas nos Evangelhos na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo. Essa união é tão profunda que Jesus chega a dizer que está no Pai e o Pai está nele (Jo 10,38). Por essa conexão íntima, ele carrega em si uma natureza divina e uma natureza humana – é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como ensina a Igreja. Ele atua também como mediador entre Deus e os seres humanos. Já o Espírito Santo é a ligação entre Deus e Jesus e, além disso, é um consolador para as pessoas (Jo 14,26; Jo 15,26).
Essas doutrinas de fé, hoje vigentes, mas que para muitas pessoas são difíceis de compreender devido ao seu caráter abstrato, nem sempre foram tão claramente definidas. Muito pelo contrário: no século IV surgiu o arianismo, e a controvérsia em torno da Trindade se intensificou. O teólogo Ário, que deu nome ao movimento teológico, assumiu com seus seguidores uma posição radicalmente contrária à opinião dominante na época: Jesus seria uma criatura única de Deus, mas não gerado pelo Pai, apenas criado, e, portanto, não da mesma essência. O arianismo subordinava Jesus ao Pai e, assim, negava-lhe a divindade. Para Ário, ele não era verdadeiro Deus, mas apenas “Filho”.
Os Concílios de Niceia, no ano 325, e de Constantinopla, em 381, trouxeram finalmente clareza à questão e estabeleceram o Nicaeno-Constantinopolitanum, o que hoje conhecemos como o Credo Niceno-Constantinopolitano: “Cremos no Espírito Santo, (...) que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, (...)”. Embora o pensamento antitrinitário do arianismo tenha sido condenado pela Igreja, ele ainda encontrou acolhida, após 381, entre alguns povos germânicos, como os Godos. No entanto, no final do século V, o rei merovíngio franco Clóvis I foi batizado e declarou sua fé conforme os concílios, o que levou à difusão do cristianismo em todo o reino germânico – e, com isso, também da doutrina trinitária estabelecida em Niceia e Constantinopla.
Embora a questão da Trindade já estivesse, em princípio, resolvida e já representasse, naquela época, o fundamento central da fé cristã, ainda levaria quase um milênio até que o Domingo da Trindade fosse oficialmente instituído como festa no calendário da Igreja. Ele já era celebrado séculos antes em mosteiros da Gália, mas a Igreja ainda hesitava: seria teologicamente justificável comemorar algo que não remonta a um testemunho bíblico direto de Jesus, mas sim a uma doutrina de fé bastante abstrata? A resposta, inicialmente, foi negativa. Assim, o Papa Alexandre II e o Papa Alexandre III foram unânimes ao afirmar que a Trindade não deveria ter uma festa própria, pois já era venerada em todos os domingos e em cada oração. Somente no ano de 1334 o Papa João XXII decidiu incluir a solenidade no calendário litúrgico.
Depois que a Igreja reconheceu o Domingo da Trindade – também chamado Domingo da Dreifaltigkeit – ele passou a fazer parte da religiosidade popular. Assim como o primeiro domingo do Advento, ele é contado entre os chamados "Domingos Dourados". No passado, as pessoas atribuíam fortes poderes curativos às ervas colhidas nesses dias. Em especial, a flor-maravilha dourada, que florescia apenas nesse dia ou nessa noite, era muito apreciada por suas supostas propriedades mágicas – acreditava-se até que ela poderia abrir montanhas. Também as crianças nascidas nesse dia ocupavam uma posição especial: eram chamadas de "crianças do Domingo Dourado" e a elas se atribuíam dons premonitórios – mas também uma vida curta.
No ano litúrgico, o Domingo da Trindade ocupa um papel importante: ele marca, após o encerramento do ciclo pascal no Pentecostes, a transição da Igreja para o Tempo Comum, que se estende até o primeiro domingo do Advento, quando se inicia um novo ano litúrgico com o ciclo do Natal. Nesse período, a cor predominante na liturgia é o verde. Ela simboliza vida nova e esperança.
Entretanto, a cor litúrgica específica do próprio Domingo da Trindade é o branco. Como cor da luz, da paz, da alegria e da inocência, ela representa pureza, brilho e perfeição — exatamente no espírito de Jo 1,5: “Deus é luz”. Por isso, nesse dia festivo, o sacerdote será visto no altar durante a missa com paramentos brancos, ao pronunciar a bênção final, que em nenhum outro dia é tão apropriada quanto neste:
“Abençoe-vos e vos guarde o Deus todo-poderoso e misericordioso, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”