12 Junho 2025
Para Matthew Desmond, vencedor do Prêmio Pulitzer, os alvos são as pessoas mais vulneráveis, aquelas que não roubam o emprego de ninguém.
A entrevista é de Anna Lombardi, publicada por La Repubblica, 12-06-2025.
O governo Trump tem como alvo o segmento mais vulnerável da população migrante. Pessoas que vão aos estacionamentos de shopping centers ao amanhecer para serem contratadas por chefões de gangues por US$ 20 por dia. Ou faxineiros de hotéis, operários de obras, trabalhadores sazonais que colhem morangos e tomates.
Matthew Desmond é sociólogo de Princeton e autor de dois ensaios cruciais para a compreensão das condições dos mais marginalizados nos Estados Unidos. Em 2017, ganhou o Prêmio Pulitzer com "Despejados", um estudo acadêmico escrito na forma de um romance. Em 2024, publicou "A Pobreza na América. Ele esteve na Itália como convidado na Milanesiana de Elisabetta Sgarbi.
Trump cai nas pesquisas, mas a apreciação por suas políticas de imigração permanece sólida, apesar das cenas cruéis que estamos testemunhando.
Ele tem um plano facilmente compreensível: querer construir um muro, dizer não a todos e deportar pessoas é simples. Uma mensagem básica que tem mais apelo do que as soluções propostas pelos democratas do governo Biden quando falavam sobre caminhos de cidadania. Mas a escalada das políticas de imigração está cruzando a linha vermelha dos eleitores: que desaprovam as prisões de mães inocentes e as deportações para El Salvador. O governo é mais extremista e cruel do que os americanos que votaram nele.
A Casa Branca está explorando o tema do crime: mas também os empregos roubados dos americanos...
Os migrantes não roubam empregos dos americanos. Eles preenchem nichos de emprego específicos. Ironicamente, as pessoas mais incomodadas com os recém-chegados são outros migrantes que chegaram antes. E há outro elemento. Na Flórida, Texas e Califórnia, a taxa de imigração vem aumentando desde a década de 1960, mas a taxa de pobreza está diminuindo cada vez mais. Isso significa que os recém-chegados não roubam nada de ninguém e, na verdade, são necessários.
Qual será o impacto de certas políticas restritivas na economia americana?
Quando as fronteiras foram fechadas para os migrantes na década de 1920, eles eram a espinha dorsal da agricultura: acabaram sendo substituídos por meios tecnológicos. Tratores se tornaram comuns. O mesmo pode acontecer: caminhar para uma maior automação do trabalho. Lembremos, porém, que Trump também foi eleito para controlar a inflação. E grande parte do problema é a crise imobiliária. Se ela se agravar por falta de trabalhadores para construir novas casas, o problema da inflação aumenta. O mesmo vale para quem trabalha no campo: menos trabalhadores significará um aumento significativo nos preços.
Dizem que Donald está alimentando tensões na Califórnia para desviar a atenção do projeto de lei orçamentária: o Big, Beautiful Bill de US$ 3 trilhões entre cortes de impostos e reduções seletivas nos gastos públicos.
O BBB é cruel. Sua cobertura recairá sobre os ombros dos pobres. Não sabemos quanto serão cortados no Medicare – plano de saúde para os pobres – e nos cupons de alimentação. Mas certamente custará vidas. Nos Estados Unidos, 5 milhões de crianças vivem abaixo da linha da pobreza. Elas serão reduzidas à fome. Os idosos hoje cuidados em asilos acabarão nas ruas. Doenças crônicas se tornarão incuráveis. No entanto, entre as maneiras simples de impulsionar a economia, também existem os cupons de alimentação. Eles ajudam o setor agrícola e aumentam os empregos. O Projeto de Lei "Big Beautiful" não faz sentido. Aumentar a fortuna dos já afortunados não acrescenta nada ao crescimento americano.