03 Junho 2025
A partir do primeiro escrutínio, depois a jogada de Tagle e o plebiscito. Foi assim que o Papa foi eleito há um mês. Que desapareceu no meio do Conclave.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 02-06-2025
Dizem que ele também, há poucos meses, calmamente descartou a possibilidade de se tornar Papa, porque, explicou, "jamais elegerão um americano". E, em vez disso, Robert Francis Prevost não só se tornou Papa, como foi eleito com uma rapidez surpreendente e uma avalanche de votos. A nacionalidade evidentemente não representou uma desvantagem, especialmente porque, na realidade, sua biografia é cosmopolita, o que lhe permitiu interceptar os favores de mundos geograficamente diversos. E manter unidas duas reivindicações generalizadas dentro do Colégio Cardinalício moldado por Francisco: por um lado, a necessidade de continuar no caminho – pastoral, missionário, sinodal – traçado por Bergoglio; por outro, após doze anos do terremoto de Bergoglio, colocar alguma ordem, acalmar as águas, curar as lágrimas.
E assim, pelo que se pode reconstruir a partir dos vazamentos que furam o muro de segredo que cerca um Conclave, já na primeira contagem inusitadamente longa, na noite de quarta-feira, 7 de maio, Prevost teria ficado em primeiro lugar, com um bloco de votos superior aos do cardeal Pietro Parolin, do arcebispo húngaro conservador Peter Erdo e de vários outros cardeais entre os quais foram distribuídos os votos dos 133 eleitores.
Um cardeal presente na Capela Sistina, que prefere permanecer anônimo, sublinha que os votos para Prevost foram "inicialmente dispersos", ou seja, não provinham de uma única região geográfica nem de uma única sensibilidade eclesial, e se coagularam espontaneamente na figura do agostiniano que, apesar de ser um homem discreto, era na realidade conhecido por muitos eleitores graças às responsabilidades que desempenhou ao longo dos anos (bispo no Peru, superior dos agostinianos, prefeito do Dicastério dos Bispos).
Teria havido, porém, se não uma direção, ao menos um discreto ativismo em favor de Prevost por parte de alguns "fazedores de reis" que conheciam suas qualidades de equilíbrio, escuta e compromisso pastoral. Entre eles, o peruano Carlos Gustavo Castillo Mattasoglio, o americano Blaise Cupich, arcebispo de Chicago, o jesuíta luxemburguês Jean-Claude Hollerich, relator geral do Sínodo, e o italiano scalabriniano Fabio Baggio, com vasta experiência internacional em migração.
Se a direção já estava definida na primeira noite, a eleição foi decidida na manhã de quinta-feira, 8 de maio, no segundo e terceiro escrutínios. Os movimentos de alguns cardeais teriam sido cruciais, a começar pelo filipino Louis Antonio Tagle que, apesar de ter entrado na Capela Sistina entre os favoritos, muito em breve teria convergido para o americano, trazendo consigo boa parte dos 22 eleitores asiáticos. Dois americanos conservadores, Timothy Dolan e Raymond Leo Burke, também teriam se movido rapidamente para Prevost, convencendo vários outros eleitores moderados a apoiar o cardeal nascido em Chicago. Os africanos teriam feito o mesmo na esteira do tradicionalista Robert Sarah, tranquilizado pela ortodoxia litúrgica de Prevost, e do arcebispo de Kinshasa Fridolin Ambongo, animado por um certo terceiro-mundismo.
Também na manhã de quinta-feira, o apoio a Prevost começou a crescer entre os cardeais pertencentes a duas redes invisíveis presentes na Capela Sistina: os membros do Dicastério dos Bispos, que se encontraram com Prevost duas vezes por mês nos últimos dois anos, e muitos dos 60 cardeais que participaram com o futuro Papa nas duas assembleias sinodais convocadas por Francisco em 2023 e 2024.
Em vez disso, haveria duas áreas que não convergiriam imediatamente para Prevost, por assim dizer, à sua esquerda e à sua direita: o mais purista dos bergoglianos, que teria valorizado figuras mais ativistas, e o ambiente de conservadorismo curial e europeu. Mas um certo espírito anticurial e anti-italiano, que soprava fortemente no Conclave de 2013, estava longe de esgotar seu ímpeto neste ano. E Prevost o interceptou porque era o mais outsider dos insiders, ou o mais insider dos outsiders: para citar o cardeal britânico Vincent Nichols, "ele tem experiência considerável na Cúria Romana, mas não o suficiente para ser identificado com ela". Quanto ao cardeal Parolin, que muitos consideravam o favorito na véspera da votação, ele evitou o impasse que teria sido criado se uma minoria de bloqueio tivesse se coagulado em torno dele.
Estava claro que Prevost teria excedido o quórum de dois terços durante o dia. "Na manhã de quinta-feira", confidenciou o cardeal belga Jozef De Kesel, "eu sabia que à noite teríamos um Papa". E assim, à uma hora da tarde, o futuro Papa não desceu ao refeitório de Santa Marta com os outros cardeais, mas permaneceu em seu quarto para começar a preparar o discurso que leria algumas horas depois na galeria de São Pedro.
Faltava apenas a comprovação do que todos já sabiam, e isso aconteceu com a quarta e última votação, no início da tarde de quinta-feira. Uma avalanche de votos. O futuro Leão XIV superou em muito o quórum de 89 votos e, dos 133 eleitores, obteve "maioria esmagadora", comentou o cardeal peruano Pedro Barreto, que falou em "100 votos ou mais". "Agradeci a ele por ter aceitado", disse o cardeal brasileiro Leonard Ulrich Steiner à revista America, "porque quase ninguém queria ser Papa: um ministério tão exigente é quase inimaginável na situação atual".
Apenas alguns conservadores europeus que permaneceram até o fim com o húngaro Erdo, cardeais radicalmente céticos em relação à guinada sinodal iniciada por Bergoglio e abraçada por Prevost, não teriam votado nele. Há quem suponha, mas sem provas, que mesmo alguns progressistas não convergiram para o futuro Leão.
Alguém arrisca números alucinantes, próximos de um plebiscito. Um fervoroso apoiador do novo Papa lança uma piada inclusiva: "Só não votou nele quem errou". Há apenas alguns meses, um cenário impensável para o próprio Prevost.