23 Mai 2025
Os cristãos são chamados a viver a fé numa atitude de busca responsável e partilhada. Não importa o que você pensa sobre a vida. Devemos continuar buscando a verdade última sobre o ser humano, que está longe de ser explicada por teorias científicas, sistemas psicológicos ou visões ideológicas.
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, comentando o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 14,23-29, correspondenete ao 6º domingo de Páscoa, ciclo C do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 19-05-2025.
O pluralismo é um fato inegável. Pode-se até dizer que é um dos traços mais característicos da sociedade moderna. Aquele mundo monolítico de alguns anos atrás se estilhaçou em mil pedaços. Hoje coexistem entre nós todos os tipos de posições, ideias e valores.
Esse pluralismo não é apenas um fato. É um dos poucos dogmas da nossa cultura. Hoje tudo pode ser discutido. Tudo, exceto o direito de cada pessoa de pensar como bem entender e de ser respeitada pelo que pensa. Certamente, esse pluralismo pode nos estimular à busca responsável, ao diálogo e ao confronto de posições. Mas também pode nos levar a sérios contratempos.
De fato, muitos estão caindo no relativismo total. Não faz diferença alguma. Como diz o sociólogo francês G. Lipovetsky, "vivemos na era dos sentimentos". Não há mais verdade ou mentira, beleza ou feiura. Nada é bom ou ruim. Vivemos de impressões, e cada um pensa o que quer e faz o que sente vontade.
Neste clima de relativismo, chegam-se a situações verdadeiramente decadentes. As crenças mais bizarras são defendidas sem o menor rigor. O objetivo é resolver as questões mais vitais enfrentadas pelos seres humanos por meio de quatro tópicos. A. Finkielkraut quer dizer algo quando afirma que "a barbárie está tomando conta da cultura".
A pergunta é inevitável. Tudo isso pode ser chamado de "progresso"? É bom para o indivíduo e para a humanidade encher a mente com qualquer ideia ou encher o coração com qualquer crença, renunciando a uma busca honesta por maior verdade, bondade e significado na existência?
Os cristãos de hoje são chamados a viver a sua fé numa atitude de busca responsável e partilhada. Não importa o que você pensa sobre a vida. Devemos continuar buscando a verdade suprema sobre os seres humanos, que está longe de ser explicada satisfatoriamente por teorias científicas, sistemas psicológicos ou visões ideológicas.
O cristão também é chamado a viver curando essa cultura. Ganhar dinheiro sem escrúpulos não é o mesmo que prestar um serviço público honestamente, nem gritar a favor do terrorismo é o mesmo que defender os direitos de cada pessoa. Aborto não é o mesmo que abraçar a vida, nem "fazer amor" é de forma alguma o mesmo que amar verdadeiramente o outro. Ignorar os necessitados não é o mesmo que lutar por seus direitos. O primeiro é ruim e prejudica os seres humanos. O segundo é cheio de esperança e promessa.
Mesmo em meio ao pluralismo atual, as palavras de Jesus continuam a ressoar: "Quem me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará".