08 Mai 2025
O tema abusos sexuais está no centro das discussões nas reuniões pré-Conclave. “O futuro papa terá de ser uma pessoa que tenha demonstrado consistência e tenacidade na promoção da proteção de menores e na luta contra a pedofilia na Igreja. Ele será chamado a fazer aplicar concretamente as normas”. Para combater esse flagelo sangrento, são necessárias investigações internas, “mais transparência e responsabilidade, que levam à justiça. E então, prevenção absoluta”. Em todas as salas sagradas. Denúncias aos tribunais comuns? “Sim, sempre que o Estado requerer”. Essa é a análise do jesuíta alemão Padre Hans Zollner, teólogo e psicólogo, diretor do Instituto de Antropologia, Estudos Interdisciplinares sobre a Dignidade Humana e o Cuidado de Pessoas Vulneráveis da Pontifícia Universidade Gregoriana, a quem Francisco confiou a prevenção de abusos na Igreja.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 06-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Zollner, uma nova página se abre na história eclesiástica. Na luta contra os abusos, qual é o caminho a seguir e o que, ao contrário, precisa ser mudado?
Vimos o crescimento, com Bento XVI e depois com Francisco, de uma atenção à escuta das vítimas, à mudança na atitude da hierarquia e ao empenho pela proteção. Uma cultura nova, mais sensível e responsável se espalhou. No entanto, ainda há muito a ser feito. Não servem necessariamente novas regras: as existentes já são significativas. Mas elas precisam ser implementadas de forma concreta e coerente. É nesse ponto que se joga a verdadeira credibilidade.
Uma das normas mais significativas dos últimos anos diz respeito à responsabilidade dos bispos também por omissões e encobrimentos. Isso é realmente um avanço concreto?
É um elemento essencial. A carta apostólica na forma de um motu proprio do Papa Bergoglio Vos estis lux mundi estabelece isso. Existe uma estrutura normativa: todos nós devemos estar cientes dela, mas o ponto crucial é como ela é aplicada e quais as consequências que ela acarreta. Sobre isso ainda sabemos pouco. É preciso progredir na implementação efetiva do que a Igreja assumiu como lei.
Há um debate sobre a utilidade das investigações internas. O senhor é a favor?
Sim. A salvaguarda envolve dois aspectos: buscar a verdade sobre o passado, para fazer justiça às vítimas por meio da responsabilização, e depois a prevenção no presente e no futuro. Uma não pode existir sem a outra.
O senhor também é a favor do recurso à justiça comum?
Sim, quando o Estado o requer, a Santa Sé declarou claramente que a denúncia deve ser feita.
O tema dos abusos deveria entrar como critério prioritário no Conclave?
Acho que será um elemento importante. Já surgiu em Conclaves anteriores e nas Congregações Gerais destes dias, e continuará a desempenhar um papel crucial. Alguns cardeais falaram abertamente sobre isso. O futuro papa deverá ser uma pessoa que demonstrou em sua vida coerência na promoção da proteção de menores, que tenha um espírito, sensibilidade e capacidade de aplicar concretamente as regras contra os abusos.
Qual sua opinião sobre caso do Cardeal Cipriani, que foi punido por Francisco por acusações de pedofilia, mas mesmo se apresenta vestido de cardeal e vai à Congregação Geral?
Se há sanções, devem ser cumpridas, e os cardeais encarregados de avaliar essas coisas devem intervir.
E quanto aos ataques direcionados a alguns papáveis, como os cardeais Pietro Parolin e Luis Antonio Tagle, em relação a supostas omissões sobre abusos?
Eu pessoalmente não vi nenhum documento que justifique acusações concretas. Limito-me a observar que houve ataques, mas me pergunto com que base e provas. Antes de fazer acusações, é necessário apresentar fatos verificáveis. Não basta a suspeita.
O senhor dirige um instituto comprometido com a prevenção. Pode explicar do que tratam?
Formamos pessoas responsáveis pela salvaguarda na Igreja, em Roma e no mundo, por meio de programas de formação e colaboração com instituições eclesiásticas e civis. Trabalhamos para criar ambientes conscientes e, ao mesmo tempo, promovendo a pesquisa e o ensino acadêmico. Nosso objetivo é contribuir para uma Igreja e um mundo mais seguros.
Ainda há uma subestimação do tema dos abusos na Igreja?
A Igreja é muito diversificada: está presente em 190 países, com mais de 3.500 dioceses, comunidades religiosas, escolas e realidades educacionais. Conheço muitas pessoas que estão seriamente empenhadas na proteção, mas também há contextos em que é feito apenas o mínimo necessário. É uma realidade mista. Ainda há margens para melhorias, ainda há muitas pessoas que não dedicam energia suficiente para enfrentar esse enorme problema.
E no Vaticano?
A situação é a mesma.
Que tipo de perfil de papa espera?
Um pontífice capaz de abordar a relação entre a fé e o mundo contemporâneo. É preciso uma nova modalidade de comunicação para anunciar o Evangelho de forma compreensível e significativa em sociedades que mudam rapidamente. Também é preciso refletir sobre a relação entre Igreja universal e Igrejas locais, promovendo a unidade na diversidade. Além disso, espero um Bispo de Roma que promova a proteção de menores como parte essencial e integral de todas as missões eclesiásticas: espiritual, litúrgica, pastoral e social. Porque a proteção é parte integrante do Evangelho.