24 Abril 2025
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 23-04-2025.
Pouco depois que as portas da Basílica de São Pedro foram abertas esta manhã para receber os restos mortais do Papa Francisco e abrir caminho para o velório público de 72 horas que antecederá o funeral no próximo sábado, 26 de abril, uma multidão de cardeais, bispos e clérigos começou a passar pelo simples caixão de madeira.
Em cadeiras dispostas ao longo do amplo perímetro delimitado para a exposição do corpo do falecido pontífice, custodiado por membros da Guarda Suíça, sentaram-se diversas autoridades que vieram prestar-lhe homenagem, membros da cúria, religiosos e outras personalidades e membros da equipe que assistiram Jorge Mario Bergoglio em seus últimos dias.
A multidão que passava pelo caixão colocado aos pés do impressionante e recentemente restaurado baldaquino de Bernini (pela primeira vez em 250 anos) mal parava em frente ao corpo do Papa para não atrapalhar a procissão. Mas, de repente, uma figura emergiu daquele fluxo humano e se reuniu em oração por um longo momento diante do falecido.
Foi Genevieve Jeanningros, uma freira de 81 anos, pertencente à congregação das Pequenas Irmãs de Jesus e velha amiga de Francisco, que carinhosamente a chamou de enfant terrible.
Irmã Genevieve Jeanningros reza durante a procissão do Velório de Francisco (Foto: Captura de tela do Religión Digital | Reprodução)
A Irmã Genevieve, com a mochila nas costas, rezava, alheia à agitação que continuava ao seu lado. Ele conheceu o Papa anos antes, quando começou a frequentar as audiências gerais das quartas-feiras na Praça de São Pedro, levando consigo algumas das pessoas transgênero de quem cuidou por 56 anos na costa do Lácio.
Assim como aconteceu naquela manhã na basílica, diante do caixão que continha o corpo sem vida de seu amigo, a freira não passou despercebida durante aquelas audiências, e tanto ela quanto sua "paróquia", que incluía homossexuais e transexuais que trabalhavam como prostitutas nas áreas mais degradadas da Cidade Eterna, foram atendidas e acolhidas por Francisco.
Entre essas pessoas estavam Cláudia, Marcella e muitas outras que faziam a viagem do litoral toda quarta-feira para ver e ouvir Francisco. Um dia eles até conseguiram tocá-lo. Pouco depois, um deles foi assassinado. "Ela tirou uma foto com o Papa, e eu levei para ele e ele rezou por ela", disse ela na época.
Irmã Genevieve Jeanningros reza durante a procissão do Velório de Francisco (Foto: Captura de tela do Religión Digital | Reprodução)
E ela até conseguiu que Francisco retribuísse a visita e, em 31 de julho de 2024, ela visitou o parque de diversões de Ostia para conhecer os visitantes da feira, que também faziam a peregrinação com ela todas as quartas-feiras até a Praça de São Pedro.
E esta manhã — também quarta-feira — a freira com a mochila, os frequentadores da feira, os transexuais e os párias pelos quais Bergoglio tinha predileção quebraram o protocolo e foram dar o último adeus ao velho amigo. Um gesto muito em linha com os gestos do Papa, com essa pastoral muito "bergogliana".