02 Agosto 2024
O Papa Francisco se encontrou na Itália com a freira Geneviève Jeanningros, sobrinha de Léoni Duquet, uma das freiras francesas desaparecidas durante a última ditadura em uma operação de espionagem e sequestro em que participou Alfredo Astiz, o repressor condenado que foi visitado por deputados do Liberdade Avança (LLA).
A reportagem é publicada por Página 12, 02-08-2024.
O encontro entre Jorge Bergoglio e Jeanningros aconteceu na comunidade a que ela pertence e que fica no bairro romano de Ostia. São as Irmãzinhas de Jesus de Charles de Foucauld, que realizam um projeto humanista com pessoas da comunidade LGBT+, os pobres e os trabalhadores nômades de circo.
Ambos se cumprimentaram carinhosamente e sorriram diante da pouca imprensa que estava no local. O Papa a apelida de “enfant terrible” e costuma vê-la todas as quartas-feiras no fim da Audiência Geral, segundo o Vatican News, o site oficial de notícias da Santa Sé.
A proximidade entre o pontífice e a sobrinha de Léonie Duquet foi incluída na agenda papal e divulgada num momento em que a agenda pública argentina é abalada pelo escândalo em que são protagonistas o autor da freira francesa desaparecida e seis deputados do partido no poder que, sob a fachada de uma “visita humanitária”, reivindicaram o repressor condenado por genocídio.
Duquet, irmã da mãe de Jeanningros, foi sequestrada em 10 de dezembro de 1977, mantida em cativeiro na antiga ESMA e desapareceu junto com sua companheira Alice Domon; além de vários membros da comunidade da igreja de Santa Cruz, onde Astiz liderava as tarefas de espionagem.
O repressor foi visitado no dia 16 de julho pelos legisladores mileístas Beltrán Benedit, María Fernanda Araujo, Guillermo Montenegro, Alida Ferreyra, Rocío Bonacci e Lourdes Arrieta, a deputada que nesta quarta-feira disse não conhecer Astiz porque nasceu anos depois da última ditadura. “Como não vivi nessa época, pois nasci em 1993 e não faço ideia de quem eram as personagens dessa época, a verdade é que vi reclusos de 80 anos”, disse.
Jeanningros é conhecida por viver em uma caravana perto do parque, onde também serve a comunidade circense local, e criticou a cumplicidade da Igreja Católica com a ditadura. “Não pude aceitar o silêncio da Igreja”, disse ela em um dos volumes de A Verdade Vos Libertará. Depois reconheceu que “foi a proximidade e a ternura do Papa que me curou de tanto sofrimento”.
“Que grande alegria isso nos dá!”, foram as palavras que disse a Francisco, assim que entrou na sede da irmandade em cadeira de rodas. O Papa foi recebido “com estrondosos aplausos, enquanto seus colaboradores seguravam doces e rosários para distribuir entre os presentes”, indicava a informação do Vaticano. “Agradeço a todos pelo que fazem, por fazerem as pessoas sorrirem”, respondeu Bergoglio, que ao mesmo tempo era espectador de um espetáculo circense dirigido pelas pessoas atendidas na comunidade.
O Vaticano não forneceu mais informações sobre o encontro, mas compartilhou imagens que mostram Francisco abençoando uma estátua religiosa perto de algumas montanhas-russas. Em uma entrevista ao jornal vaticano L'Osservatore Romano, em junho passado, Jeanningros afirmou que costuma ir à Santa Sé às quartas-feiras para assistir à audiência semanal do Papa.
Ela acrescentou que frequentemente traz consigo membros da comunidade LGBTQ para conhecer o pontífice enquanto ele cumprimenta a multidão. Quando questionada pelo jornal sobre o suposto uso da calúnia homossexual pelo Papa, Jeanningros comentou que entre seus amigos “houve um pouco de dor no início”, mas olhando para trás eles riram e refletiram: “Na verdade, ele não é assim”.
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Papa Francisco visitou a sobrinha de uma das freiras francesas desaparecidas durante a ditadura militar da Argentina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU