24 Abril 2025
"A eleição do próximo papa nos ajudará a entender se Francisco foi um acidente ou uma faculdade que a Igreja redescobriu e que muitos outros poderes perderam", escreve Michele Serra, jornalista, escritor e roteirista italiano, em artigo publicado por La Repubblica, 22-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para um não crente, que não confia no Espírito Santo, o fato de um homem assim ter se tornado papa pode ser explicado de duas maneiras. A primeira é que, além de ser um interlúdio afortunado, foi uma espécie de acidente. Quase uma desatenção, um capítulo que saiu do controle de seus autores, algo sem precedentes e imprevisível, um unicum certificado pelo fato de que o homem em questão foi o primeiro, depois de todos esses séculos, a querer se chamar Francisco, o revolucionário que, com grande escândalo, deu as costas ao pai, à riqueza, ao conforto social.
A segunda explicação, para um não crente menos cômoda e menos preguiçosa, é que não só não foi um acidente, mas a Igreja Católica contém em si, além dos muitos vícios que esse papa nunca deixou de lhe recriminar, também a faculdade de olhar para o mundo - quando quer e se quer - com uma carga de esperança e confiança nos homens que, em outros lugares, parece totalmente perdida.
Dada a frequência com que as nações se entregam aos prepotentes, aos vaidosos e aos gananciosos, causou grande impressão a ascensão ao governo da Igreja de uma pessoa tão mansa, tão devotada ao respeito de todos os seres humanos, tão simples em suas maneiras, tão serenamente alheia aos jogos da política, que muitas vezes culminam no infame jogo da guerra.
Quem de nós nunca pensou: graças a Deus que existe esse papa, com todos os canalhas que surgiram para o governo do mundo? Muitos de nós pensaram isso. A eleição do próximo papa nos ajudará a entender se Francisco foi um acidente ou uma faculdade que a Igreja redescobriu e que muitos outros poderes perderam. Como leigo, não me incomoda tanto assim esperar que a segunda hipótese seja verdadeira.