Os sorrisos à mesa da conversa entre Parolin e J.D. Vance marcam um tempo de degelo entre a Santa Sé e a Casa Branca, depois de meses de tensões diplomáticas, em particular sobre as políticas migratórias. “A distância das visões sociopolíticas, no entanto, permanece a mesma”, aponta um alto prelado.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 20-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto isso, hoje se verá se o vice-presidente dos Estados Unidos conseguirá - depois de muita pressão - cumprimentar o Papa: a hipótese é que eles poderiam se encontrar antes ou depois da missa de Páscoa na Praça de São Pedro, onde Vance é esperado. Espera-se também que o vice de Trump visite a Basílica por cerca de vinte minutos, segundo bastidores das Salas Sagradas. Embora ele não tenha visitado o Coliseu, que ontem à tarde foi fechado especialmente para ele, em meio a protestos de turistas e um pouco de tensão com os funcionários do sítio arqueológico, onde apenas sua esposa esteve em visitação.
Ontem, a delegação dos EUA passou pela Via della Conciliazione e depois entrou pelo Arco delle Campane, como acontece nas visitas de Estado. O Vaticano estava blindado e os portões para a Via della Conciliazione estavam fechados até mesmo para pedestres. Apenas pequenos grupos de peregrinos podiam ser vistos atravessando a rota jubilar até a Porta Santa.
Vance chegou ao Palácio Apostólico com toda a sua família: a esposa Usha e três filhos. Ele foi recebido pelo Cardeal Secretário de Estado, acompanhado por Monsenhor Paul Richard Gallagher, Secretário para Relações com Estados e as Organizações Internacionais. Houve “uma troca de pontos de vista sobre a situação internacional, especialmente sobre países marcados pela guerra, tensões políticas e situações humanitárias difíceis, com particular atenção aos migrantes, refugiados e prisioneiros, e outros tópicos de interesse comum também foram discutidos”, informa a Sala de Imprensa do Vaticano. Despontou “satisfação pelas boas relações bilaterais existentes entre a Santa Sé e os Estados Unidos da América, e foi renovado o compromisso comum de proteger o direito à liberdade religiosa e à liberdade de consciência”. Por fim, foram expressos “votos por uma colaboração serena entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, cujo valioso serviço às pessoas mais vulneráveis foi reconhecido”. Essa é a passagem da distensão: Vance havia de fato acusado a Igreja de lucrar com os fundos destinados aos migrantes.
O confronto vem ocorrendo há meses. Vance justificou as restrições à imigração fazendo referência ao conceito agostiniano de ordo amoris, argumentando que isso implica uma hierarquia de amor que privilegia os concidadãos em detrimento dos estrangeiros. Francisco, pouco antes de sua internação no Hospital Gemelli, respondeu a essa interpretação em uma carta aos bispos dos EUA, afirmando que a verdadeira ordo amoris se manifesta no amor universal do Bom Samaritano, que constrói uma fraternidade aberta a todos, sem exceção. Posições diametralmente opostas, que a reunião de cúpula de ontem não mudou, exceto no tom do confronto: o diálogo foi “muito cordial”.
Além disso, J.D. Vance, em sua nota, não menciona o tema das migrações. Não será simples manter essa cordialidade.