16 Abril 2025
"Um escândalo para os amantes da aparência, desconhecedores de que somente 'o Verbo é o esplendor de toda estética' (Pe. David Maria Turoldo). E assim a vestimenta franciscana foi impiedosamente vivisseccionada, esquecendo até mesmo que o papa sempre usa calças pretas sob sua habitual batina branca. Para esse fim, vem em socorro o salmista do Domingo de Ramos, a primeira etapa da Semana Santa: 'Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa'”, escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 14-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como o Sinédrio que condenou Jesus à morte, foi como sempre a direita clerical que criticou Francisco por sua imagem na última quinta-feira, 10 de abril, quando o papa fez uma visita surpresa à Basílica de São Pedro. Era pouco depois do meio-dia e meia e Bergoglio, ainda convalescente e com cânulas de oxigênio no nariz, apareceu diante dos fiéis presentes sentado em uma cadeira de rodas e usando uma camiseta térmica e um poncho listrado, calças pretas e pantufas fechadas da mesma cor.
Um escândalo para os amantes da aparência, desconhecedores de que somente “o Verbo é o esplendor de toda estética” (Pe. David Maria Turoldo). E assim a vestimenta franciscana foi impiedosamente vivisseccionada, esquecendo até mesmo que o papa sempre usa calças pretas sob sua habitual batina branca.
Para esse fim, vem em socorro o salmista do Domingo de Ramos, a primeira etapa da Semana Santa: “Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa”. Foi sobretudo o poncho, uma vestimenta de origem sul-americana interpretada como um ícone popular e revolucionário, que foi alvo das críticas. Na realidade, Bergoglio estava simplesmente coberto por uma manta listrada. Só isso. Alguns até escreveram que lembrava “o uniforme dos campos de concentração”.
🇻🇦 O Papa Francisco fez uma aparição surpresa sem a tradicional batina branca. Ele foi a Basílica de São Pedro usando um poncho, roupa típica dos gaúchos.
— Danilo Assis (@eudanassis) April 10, 2025
E nisso, cai por terra uma anedota antiga do jornalismo sobre como aparecer frente às câmeras...
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E em seguida a chuva de interpretações nefastas. Alguns acusaram Francisco de ter matado, com sua humanidade, a sacralidade do pontífice e a dignidade de Pedro. Outros, em vez disso, identificaram nos ornamentos burgueses o sinal de sua próxima renúncia para favorecer um sucessor escolhido pelo próprio Francisco. E ainda outros que, em nome de um antigo e feroz antibergogismo, tiveram mais uma confirmação da “virada antropológica” do papado, feita para esconder Deus e mostrar apenas o homem. Nada menos que isso.
No que diz respeito à dignidade de Pedro - o apóstolo chamado a construir a Igreja - vale a pena recordar a essencialidade evangélica, não pauperista ou bom-mocista, da vestimenta. Por exemplo, quando Jesus ressuscitado apareceu pela terceira vez aos apóstolos, o próprio Pedro, o primeiro papa da Igreja, estava seminu, como narra o último capítulo do Evangelho de João: “Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar”. O olhar exclusivo sobre a vestimenta, portanto, apaga a razão da blitz de Francisco em trajes civis. Ou seja, o impulso de Bergoglio de voltar à sua Basílica para ver os trabalhos de restauração do altar da Cathedra. Novamente o salmista: “O zelo da tua casa me consome”.
Finalmente, até mesmo a evidente imagem de fragilidade vai na direção oposta às críticas clericais, onde Jesus manifestou sua humanidade no Getsêmani, na noite em que foi preso. Esse é o sentido do Angelus do último domingo: Francisco mencionou seu momento de “fraqueza física” e, antes de fazê-lo, citou a oração de Jesus no Getsêmani: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua”. Não se desce da cruz, mesmo usando um poncho ou uma manta que seja.