10 Abril 2025
Formado em Harvard, Peter Navarro é o homem por trás da onda de choque das tarifas alfandegárias americanas que atravessa o planeta. O economista de 75 anos já fazia parte da equipe presidencial durante o primeiro mandato, mas agora exerce uma influência maior na esfera presidencial.
A informação é de Pierre Fesnien, publicada por RFI, 09-04-2025.
Durante sua primeira campanha presidencial, Donald Trump pediu ao genro Jared Kushner que encontrasse um conselheiro econômico que estivesse em sintonia com suas posições sobre a China. O marido de Ivanka Trump teria colocado Peter Navarro em contato com seu sogro após se deparar com seu livro "Death by China" (Morte pela China), uma obra publicada em 2011, na qual o economista desenvolve sua obsessão pela China e os riscos econômicos que ela representaria para os Estados Unidos.
Desde o início dos anos 2000, Navarro está convencido de que Pequim distorce as regras do livre comércio e empobrece a América. O que justifica, segundo ele, a necessidade de uma política comercial agressiva frente à concorrência chinesa e ao déficit comercial dos Estados Unidos, sendo o reequilíbrio alcançado por meio de medidas protecionistas.
Durante o primeiro mandato de Donald Trump, Navarro foi nomeado "diretor de política comercial e industrial" para liderar um "Conselho Nacional de Comércio". Sua influência, no entanto, foi relativamente limitada, embora, desde 2019, ele tenha começado, segundo informações do New York Times, a circular em Washington defendendo um aumento das tarifas alfandegárias voltadas à China, enquanto os dois países estavam em negociações comerciais.
Peter Navarro é um fiel aliado de Donald Trump. Tanto que ele cumpriu quatro meses de prisão como um sinal de sua lealdade incondicional ao presidente americano.
Convocado a depor no Congresso em 2021, no âmbito da investigação sobre o ataque ao Capitólio, ele se recusou a comparecer, o que resultou em uma condenação a quatro meses de prisão por "desacato ao Congresso". O economista cumpriu sua pena e foi libertado em julho de 2024, durante a convenção republicana, momento em que Donald Trump foi oficialmente designado como candidato.
Não há dúvida de que o bilionário apreciou particularmente a abnegação de seu conselheiro ao defender ferozmente que a fraude eleitoral foi a razão pela qual Donald Trump perdeu para Joe Biden nas eleições de 2020. A fidelidade do economista foi recompensada de forma justa, já que Peter Navarro foi novamente nomeado conselheiro de comércio e indústria quando Trump voltou ao cargo de presidente em janeiro de 2025.
Filho de um músico, vindo de uma família humilde e criado pela mãe na Flórida, Peter Navarro começou sua carreira com as cores do Partido Democrata. Ele até se candidatou, sem sucesso, à prefeitura de San Diego em 1992, antes de falhar em se eleger para outras quatro funções públicas na cidade californiana. Neoliberal ferrenho, ele defendeu o livre comércio e a globalização por muitos anos diante de seus estudantes, e até foi um militante ecológico durante as administrações Reagan e Clinton.
No entanto, aos poucos ele mudou suas opiniões. Apelidado de "czar das Tarifas Alfandegárias", o economista se tornou agora o cérebro por trás da guerra comercial, que não se limita mais à China, assumindo uma dimensão global. Aquele que Donald Trump não hesita em chamar de "Meu Pete", convenceu o presidente a implementar a política econômica de tarifas alfandegárias que defende em “Death by China”, o livro que o aproximou do bilionário há mais de dez anos.
O livro, no entanto, tem sido alvo de controvérsias nos últimos dias, desde que o canal pró-democratas MSNBC analisou em um programa as origens do plano econômico de Donald Trump. Num trecho, que viralizou, a jornalista Rachel Maddow explica que, em "Death by China" e em outras obras, Peter Navarro regularmente se baseia nos trabalhos de um tal Ron Vara para justificar suas teses contra a China. Após verificação, descobriu-se que Ron Vara não existe, sendo, na verdade, um pseudônimo criado por Peter Navarro, um anagrama inventado por ele próprio, que usava como um "dispositivo fantasioso".
Uma confissão preocupante para muitos observadores, que agora se perguntam se toda essa política econômica não seria, na verdade, baseada apenas em fumaça. Os primeiros pontos de atrito surgiram com Elon Musk nos últimos dias. O homem mais rico do mundo criticou publicamente a política comercial americana e atacou diretamente Peter Navarro
"Um doutorado em economia de Harvard não é nada bom", escreveu Musk em um post, apagado depois, insinuando que isso teria feito o cérebro de Navarro encolher. Uma crítica à qual o economista rapidamente respondeu, argumentando que Musk não passava de "um montador de carros", que só estava "protegendo seus próprios interesses como qualquer empresário faria". O dono da Tesla retrucou, chamando Navarro de “um verdadeiro idiota” e “mais burro que um monte de tijolos”.