10 Abril 2025
Ao anunciar os detalhes da sua onda de tarifas aduaneiras a um Jardim das Rosas da Casa Branca lotado, em 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discorreu sobre o significado do termo "recíproco": "Tarifas recíprocas para países de todo o mundo. Recíproco. Isso quer dizer: eles fazem com a gente, a gente faz com eles. Muito simples. Não dá para ser mais simples do que isso."
A reportagem é de Arthur Sullivan, publicada por DW, 09-04-2025.
O anúncio se referia a dois grupos principais de medidas: uma taxa de 10% sobre praticamente todas as importações para os EUA; e uma série de tarifas "recíprocas" para diversos países, variando de acordo com uma fórmula em grande parte orientada pelos déficits comerciais.
Trump e sua equipe têm afirmado repetidamente que as tarifas "recíprocas" são simplesmente uma retribuição às barreiras que os exportadores americanos enfrentariam na venda de seus produtos para os países em questão.
No entanto, diversos economistas, bancos e instituições financeiras têm apontado que as tarifas não são recíprocas, e que o cálculo aplicado faz pouco sentido, economicamente.
"A fórmula que ele usou não faz sentido", observa Bill Reinsch, consultor econômico do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). "Todo mundo sabe que é sem sentido e não tem nenhuma relação com o que eles disseram que iam fazer, que era ser recíproca e considerar barreiras comerciais reais, para além de tarifas. Não há nenhum indício de que eles fizeram o menor esforço para isso."
Doug Irwin, pesquisador associado do Instituto Peterson de Economia Internacional e especialista conceituado em comércio global, explica por que, a seu ver, as sobretaxas não são recíprocas: a fórmula da Casa Branca sequer levou em conta as tarifas impostas pelos outros países, simplesmente dividindo o déficit comercial americano com cada país pela quantidade de bens que os EUA importam dele.
Além disso, o tarifaço atingiu nações com as quais os EUA têm acordos de livre comércio, como o Chile, Austrália, Peru e Coreia do Sul: "Esses já são recíprocos, no sentido de que nós não cobramos deles, e eles não cobram de nós", aponta Irwin. "A questão não são as barreiras comerciais estrangeiras: foi no déficit que eles se fixaram. Essa é a métrica que estão usando para impor barreiras comerciais."
Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) confirmam que as sobretaxas americanas na realidade serão muito superiores às na direção oposta. E talvez o exemplo mais óbvio seja a China.
Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), Pequim foi alvo de tarifas – até certo ponto, justificadas, pois o país vinha taxando os produtos americanos mais do que vice-versa. Agora, porém, a proporção se inverteu: segundo algumas estimativas, as de Washington para Pequim seriam de mais de 100% contra 84%, na direção oposta, após Pequim retaliar uma nova rodada de tarifas americanas.
Outro exemplo é o Vietnã, que agora está sujeito a uma tarifa de 46%, enquanto o portal Tariff & Trade Data da OMC mostra que o país asiático cobra dos EUA 9,4% em tarifas, na média simples, ou 5,1% na média ponderada, que considera a quantidade de produtos com diferentes taxas de importação.
Hanói ofereceu-se para eliminar imediatamente todas as tarifas sobre produtos americanos, mas o consultor de Trump para o comércio, Peter Navarro, respondeu, numa entrevista à emissora CNBC, que isso não bastaria "porque é a trapaça não tarifária que conta". Como exemplos de "trapaça", citou produtos chineses vendidos através do Vietnã e o imposto de valor agregado (IVA).
Há ainda o caso da União Europeia, cujas exportações agora terão que pagar uma tarifa adicional de 20%, muito mais do que o bloco cobra dos produtos americanos – uma média ponderada de 3%, segundo a Organização Mundial do Comércio.
Para Reinsch, do CSIS, o fato de não ter considerado em sua fórmula as barreiras tarifárias – e muito menos as não tarifárias alegadas por Navarro – indica que a Casa Branca não está realmente interessada na ideia de "reciprocidade". "É só um jogo. E então vai haver negociações."
Irwin considera "implausível" que os EUA possam ter um comércio equilibrado ou um superávit com Hanói, dada a natureza de suas respectivas economias: "O Vietnã recebeu muitos investimentos estrangeiros, então nós exportamos componentes para eles, mas eles exportam para nós as mercadorias finais montadas. Isso naturalmente implica um déficit da balança."
Bill Reinsch lembra que há mais de 40 anos Trump tem insistido que os EUA estão sendo "explorados" no comércio global, e diz acreditar que o americano esteja genuinamente interessado em reestruturá-lo, mas que essa intenção virou "vingança". "O problema é que ele realmente só têm uma métrica, que é o déficit do comércio bilateral, e realmente só uma ferramenta, que são as tarifas."
Segundo o perito em economia, a equipe trumpista acredita fundamentalmente que déficits comerciais são injustos, e só se dará por satisfeita quando eles forem eliminados, por mais irreal e economicamente improvável que seja essa meta.
"Quando se escuta Navarro – e, na verdade, Trump, às vezes – o tom é de que, se você tem um déficit com o país A, só pode ser porque ele está fazendo algo desleal, e que o comércio tem que ser equilibrado. Isso não faz nenhum sentido, mas é de onde eles partem."
Doug Irwin, do Instituto Peterson, concorda: "Não tanto a receita, a igualdade, a justiça ou reciprocidade: ele não gosta de déficits comerciais. E nisso tem sido bem consistente, há 40 anos."