08 Abril 2025
São muitas as imagens que passaram pela minha cabeça nos últimos dias romanos e agora, ao retornar da Segunda Assembleia Sinodal da Igreja Italiana, retomo aquela que marcou seu início.
O artigo é de Lucia Vantini, doutora em teologia pela Faculdade Teológica do Trivêneto de Pádua e presidente da Coordenação das Teólogas Italianas, publicado por Il Regno delle donne, 04-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A imagem se materializou em mim como uma resistência ao que estava acontecendo: tínhamos em mãos um documento para ser aprovado com alguns ajustes, que parecia ter vindo de longe e de uma lógica de subtração em vez de síntese. Uma lavagem exagerada - um branqueamento, como alguns falaram – que desbotou o tecido das palavras. Os tecidos alvejados se esgaçam, todos sabem, e por isso se rasgam com muita facilidade. Então, não pude deixar de pensar no jasmim encharcado e amassado por uma chuvarada forte, ao qual Etty Hillesum se referia: “O jasmim da casa está completamente amassado pela chuva e pelas tempestades dos últimos dias, suas flores brancas flutuam aqui e ali nas poças escuras e lamacentas e no telhado baixo da garagem. Dentro de mim, no entanto, em algum lugar continua a florescer imperturbado, exuberante e fresco como sempre. Espalha seu perfume por toda a casa, onde você mora, meu Deus”.
Não é uma imagem consoladora, mas uma provocação da mente: o que parecia comprometido e perdido naquelas cinquenta proposições apresentadas - da corresponsabilidade das mulheres a uma abordagem da vida afetiva das pessoas homossexuais que não implicasse uma junção com situações de feridas, da importância de uma linguagem em diálogo com a cultura à formação litúrgica de toda a assembleia celebrante e não apenas de presbíteros e diáconos - não podia se limitar a florescer exclusivamente em nossa interioridade, naquela dimensão pessoal que gera visões comunitárias desprovidas de concretude, mas úteis para seguir em frente.
A estratégia adotada por Etty Hillesum representava um gesto fundamental para se preservar da amargura e do rancor, para manter um vislumbre de esperança em um mundo cruel que já a havia destinada à morte e que não lhe concedia outro espaço de ação além de sua própria intimidade.
Essa abordagem, no entanto, resultava inadequada no atual contexto sinodal.
Não é mais o momento de acalentar sonhos no silêncio do imaginário. Se essa tivesse sido a conclusão, refleti, talvez estivessem certos aqueles que perderam a confiança no Sínodo e nessa Igreja: permaneceriam apenas poças de lama, das quais é preferível manter-se distante, já que o mundo não pode encontrar nelas nenhum reflexo, mas apenas se atolar.
Esse caso, entretanto, não terminou com a amargura das desilusões silenciosas e resignadas. Desde os primeiros encontros informais - nos corredores dos hotéis, à mesa, nos ônibus - e mais tarde nos grupos de trabalho, despontava uma profunda sintonia entre as pessoas, uma convergência de reflexões, palavras, emoções e ações orientada para um caminho diferente para salvaguardar aquela promissora aposta sinodal que nos motivou a investir tempo, energias, competências e vida.
“Lembrem-se de que vocês eram violinos prontos a tocar as razões do mundo”, escreve Alda Merini. A memória coletiva foi despertada: a Assembleia pediu, com determinação e conseguiu com alegria, uma mudança metodológica significativa: nos reuniremos novamente em outubro para um novo confronto. Uma pacífica, mas necessária, descontinuidade, uma interrupção indispensável, uma suspensão que anuncia novas possibilidades.
O desconforto foi expresso de forma construtiva, mas firme, com o pedido explícito de não encerrar o discurso prematuramente e de continuar o trabalho compartilhado. Quanto aos conteúdos, ainda permanecem muitos aspectos a serem aprofundados, mas o que merece atenção especial diz respeito ao estilo adotado: não houve embate ou posicionamento ideológico. Simplesmente não é possível retroceder em relação ao empenho sinodal: terá que se desenvolver uma Igreja capaz de acolher as diversidades, menos preocupada em definir fronteiras e mais dedicada à abertura de espaços hospitaleiros nos quais o povo de Deus anuncia, celebra e vive o Deus de Jesus Cristo em seu Espírito, capaz tanto de transformar a interioridade das nossas existências quanto de tornar o mundo justo e harmonioso.
Como Simone Morandini observa com toda razão, essa história pode ser interpretada por meio de diferentes narrativas, algumas construtivas e outras prejudiciais.
As interpretações inadequadas são facilmente reconhecidas, pois tendem a sufocar a originalidade dos eventos e transformá-la em um convite à suspeita paralisante. Essas interpretações inadequadas às vezes reduzem os fatos ao desejo egocêntrico de poucos indivíduos capazes de dominar a maioria, outras vezes se concentram maliciosamente nas incoerências das propostas apresentadas. Aquelas úteis, por outro lado, certamente não escondem as tensões, mas as revelam como impulsos de convivência, das quais se pode extrair algo bom para compartilhar.
O significado desse episódio é complexo, mas aberto à esperança: ligado àquela escuta - ousamos atribuí-la ao Espírito sem que nem mesmo nós o instrumentalizemos - frequentemente mencionada como o fundamento da escuta sinodal. Fez o que as Escrituras atestam: conferiu voz ao que não a tinha, revirando as cartas nas mesas. Foi uma rajada de vento vinda de uma janela com vista para o jasmim.