01 Abril 2025
“A teologia rápida pode se tornar uma inteligência vivente na Igreja, capaz de interceptar as mudanças sem perder o vínculo com a tradição”. Esse é o tema central da intervenção do padre Antonio Spadaro na conferência do próximo sábado, que no último 19 de janeiro o “Avvenire” iniciou como um debate sobre o tema, propondo essa “aceleração” da reflexão teológica.
Essa provocação lembra a famosa imagem da filosofia que, segundo Hegel, era como o rouxinol de Minerva que levantava voo no final do dia; chegou a hora, segundo o padre Spadaro, em que o pensamento, tanto filosófico quanto teológico, se transforme no galo que anuncia o dia e, possivelmente, a passagem de todas as horas do dia, acompanhando e iluminando o caminho apressado dos homens. Um caminho rápido, diz Spadaro, mas não veloz.
A entrevista com Antonio Spadaro, é de Andrea Monda, publicada por “L'Osservatore Romano”, 27-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em que sentido a teologia deveria ser rápida, mas não veloz?
A distinção entre rapidez e velocidade é essencial para mim. “Veloz” indica um deslocamento rápido, mas linear e mensurável, como um trem que corre em um único trilho de alta velocidade. “Rápido”, por outro lado, lembra a etimologia de raptar, ou seja, agarrar e levar embora: descreve algo que ataca e carrega consigo pessoas, estilos de vida e perspectivas. As mudanças atuais não são apenas velozes, mas rápidas, porque nos pegam de surpresa, arrastando-nos para novas situações. Por exemplo, a invenção da luz elétrica “raptou” o ritmo natural do dia e as redes sociais reviraram as nossas relações. A velocidade é um parâmetro quantitativo externo, enquanto a rapidez investe a qualidade do tempo vivido, é uma experiência interior: o advento da internet, por exemplo, embora tenha ocorrido em poucas décadas, foi rápido devido ao impacto disruptivo que teve na sociedade.
Se a sociedade se move em águas tumultuadas e rápidas, a teologia é chamada a entrar nelas sem demora. A teologia rápida não significa teologia apressada ou superficial, mas sim uma reflexão que acompanha o fluxo da história em tempo real, sem esperar para falar depois dos fatos. E é “saborosa” porque tem o gosto da história, deixando-se envolver pelos desafios atuais a fim de iluminar as situações a partir de dentro.
Uma teologia que não seja mais re-flexão, mas “flexão” sobre a realidade. Mas isso não seria uma traição à sua própria natureza, que chama para um “retorno” sobre a experiência que acabou de acontecer.
Imaginar que, no decorrer da experiência, se possa analisar, compreender e, portanto, falar, não é fantasioso, utópico?
Uma “teologia rápida” não nega a reflexão, mas a exercita de uma nova maneira. O desafio é cultivar um pensamento que reflita enquanto se vive a experiência, e não apenas depois. O Papa Francisco repetiu muitas vezes que o discernimento se faz sobre as histórias, não sobre as ideias. A espiritualidade inaciana ensina precisamente a ser “contemplativo na ação”, combinando profundidade interior com a prontidão para agir. A Igreja deve habitar não apenas portos seguros, mas também lugares expostos aos ventos e tempestades que agitam o mundo. Isso significa que a teologia deve ser capaz de “pensar as ondas” e pular nas corredeiras, enfrentando os desafios atuais com prontidão e discernimento. Nos termos atuais, a memória eclesial - o patrimônio da fé - deve ser combinada com o instinto pastoral, gerando intuição: a capacidade de perceber, discernir e avaliar rapidamente uma situação à medida que ela se desenvolve. Dessa forma, a teologia permanece reflexiva, mas sua reflexão ocorre ao mesmo tempo que a ação pastoral e a evolução dos acontecimentos, graças a um discernimento ágil sustentado pela memória viva do Evangelho.
Não se trata de improvisar sem pensar, mas de ter um pensamento tão treinado e enraizado na verdade que pode se mover com lucidez mesmo no turbilhão do presente. Chamar essa perspectiva de utópica é compreensível à primeira vista, mas vários observadores apontam que ela é na realidade necessária e praticável. Como observou Vittorio Lingiardi ao comentar a proposta da teologia rápida, não se trata de alimentar a agitação frenética ou a ação impulsiva, mas sim de sintonizar-se com os tempos rápidos do mundo em que vivemos, desenvolvendo uma maior empatia pela realidade atual. A proposta certamente requer uma mudança de mentalidade, mas exorta os teólogos a não descansarem nos ritmos lentos do passado quando o mundo ao nosso redor está acelerando. E não é de forma alguma irrealista confiar na assistência do Espírito Santo mesmo nessa aceleração da reflexão teológica, o mesmo Espírito que está sempre à obra e soprando nas tempestades da história.
Em síntese, a teologia rápida é exigente, mas não impossível: trata-se de exercer um discernimento oportuno - também comunitário e sinodal - iluminado pela graça, para não perder o passo do Evangelho no fluxo dos acontecimentos. D. Bruno Forte, comentando a proposta de uma teologia rápida, destacou bem que a rapidez não exclui a lentidão; ao contrário, podem ser complementares.
Forte afirma que a rapidez é uma distribuição diferenciada, combinando agilidade, mobilidade, ponderação e medida. Isso sugere que uma teologia rápida coexiste com momentos de profunda reflexão, garantindo que as respostas aos desafios contemporâneos sejam oportunas e bem ponderadas.
O senhor usou a imagem da tempestade do Evangelho, e aqueles que já comentaram sua proposta, como De Rita, observaram que “nas ondas não se pode usar a marcha à ré”. Isso tem a intenção de criticar o “retrocedismo” do qual o Papa Francisco tem falado com frequência? É a “costumeira” dicotomia entre conservadores e progressistas ou há algo mais? Talvez seja mais correta a imagem usada por Bergoglio, segundo a qual a distinção a ser feita, para os cristãos, é entre “acostumados” e “apaixonados”?
A metáfora da tempestade evidencia que, na rápida mudança da história, não existe marcha à ré. Nisso, Giuseppe De Rita tem toda a razão. Critica-se, portanto, a atitude daqueles que gostariam de interromper ou reverter o curso do tempo, refugiando-se no passado. E eu evitaria, nesse sentido, referir-me a “projetos culturais” do passado que agora são obsoletos. Esse é precisamente o “retrocedismo” denunciado pelo Papa Francisco: a tentação de voltar a formas ultrapassadas de vida eclesial em vez de enfrentar novos desafios (em vez de olhar para frente com confiança).
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