22 Fevereiro 2024
A entrevista com Bruno Forte, teólogo e arcebispo de Chieti-Vasto, é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 21-02-2024.
Ele espera “de todo o coração” que, com o Sínodo, o Papa leve a bom termo as reformas da Igreja, mas também nos convida a não colocar “expectativas milagrosas” no processo sinodal. Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, é um grande teólogo e acaba de publicar “As Bem-Aventuranças”. Exercícios espirituais para todos os crentes (São Paulo), livro no qual propõe “a mensagem evangélica de alegria, que nasce da consciência de que somos amados por um Deus fiel”.
Por isso, "num mundo cada vez mais marcado pelo conflito e pela dor, gostaria de propor a mensagem evangélica da alegria, que nasce da consciência de que somos amados por um Deus fiel". Ou o que dá no mesmo: o caminho das Bem-aventuranças, passado pelo crivo dos Exercícios Espirituais.
O que você procura com este novo livro sobre as Bem-aventuranças?
Num mundo cada vez mais marcado pelo conflito e pela dor, gostaria de propor a mensagem evangélica da alegria, que nasce da consciência de que somos amados por um Deus fiel, que se entregou a nós mesmo nas horas mais sombrias, porque nos ama. imensamente e para sempre: o Deus que Jesus nos revelou, entregando-se à morte por nós na Cruz e ressuscitando à vida vitorioso sobre a morte.
Por que o caminho espiritual dos Exercícios é tão importante e como ele se enraíza na vida?
Porque todos nós precisamos tomar consciência do que precisa mudar em nós, do que o Senhor nos dá para sermos melhores e do que o Espírito Santo pode fazer se abrirmos as portas do nosso coração para Ele. Na linguagem da tradição, trata-se de viver as três etapas dos exercícios espirituais: “deformata reformare”, reformar o que perdeu a forma desejada pelo Pai; "reformata conformare", conformar a nossa vida tanto quanto possível a Cristo, vivendo o Evangelho; e "conformata confirmare", deixando-nos moldar, confirmar e agir pelo Espírito, o verdadeiro Consolador que nos introduz em toda a verdade.
Você diz que para ser pobre “é preciso escolher e amar a pobreza”. Pode um clérigo que satisfaz as suas necessidades básicas ser pobre?
A pobreza evangélica não é miséria: quem é pobre segundo Deus, seguindo o Filho que se fez pobre por amor a nós, deve certamente satisfazer as necessidades básicas, necessárias a cada ser humano e à sua dignidade, e depois fazer as opções de liberdade das coisas. , de si mesmo e dos outros, percorrendo o caminho da pobreza segundo o Evangelho, que nos torna bem-aventurados.
O que o crente deve fazer para ser um consolador e espalhar cuidado ao seu redor?
Deve deixar-se consolar por Deus, ou seja, deve habitar Nele pela fé. Então Ele deve agir segundo a Sua vontade, e assim agir com caridade para com toda criatura. E, por fim, deve aspirar à pátria celeste, deixando-se comover e inspirar pela esperança, vivida como antecipação militante do futuro...
Como podemos nos comprometer com uma sociedade mais justa e solidária, baseada na fé em Cristo?
Em primeiro lugar, devemos ler os sinais dos tempos, recordar as maravilhas que Deus realizou em nós, como nos diz a Palavra de Deus; depois, agir em conformidade com liberdade, coragem, generosidade e fidelidade; e, por fim, deixe-se encorajar pela esperança que não decepciona. As virtudes teologais são também regra de vida para quem quer trabalhar por uma sociedade mais justa e solidária, vivendo tudo no seguimento de Cristo Senhor.
A sociedade sente o coração misericordioso da Igreja ou continua a vê-la como uma madrasta condenatória?
Depende muito de quem encontramos: como qualquer realidade constituída por seres humanos, a Igreja apresenta-se de muitas maneiras. Os santos irradiam a infinita misericórdia do Pai e a caridade de Cristo crucificado por nós. Pobres pecadores - categoria à qual pertence a maioria de nós - se se esforçam para pedir e dar perdão, tornam-se luzes na noite e muitas vezes tornam-se instrumentos da Graça para levar salvação e alegria aos corações que não a possuem.
Você acha que, com o Sínodo em andamento, o Papa Francisco levará a bom termo as reformas da Igreja?
Claro que espero que sim de todo o coração e acredito que cada um deve fazer a sua parte para que isso aconteça. Contudo, não devemos cultivar expectativas milagrosas, porque o Sínodo é chamado a ativar processos que possam dar frutos mesmo depois de muito tempo.
O que diria aos bispos e cardeais que criticam publicamente o Papa?
Que estão errados: em primeiro lugar, porque o Papa é o Sucessor de Pedro, a quem Cristo confiou as chaves do Reino para ligar e desligar; em segundo lugar, porque o Bispo de Roma tem uma visão global da Igreja e do mundo, que nenhum bispo individual tem da mesma forma; em terceiro lugar, porque a ruptura da unidade da Igreja prejudica a todos e o protagonismo dos indivíduos não exprime a força e a beleza da comunhão, que vem do alto, é ícone da Trindade e nos conduz à beleza da pátria eterna.
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“Diria aos cardeais e bispos que criticam publicamente o Papa que estão errados”. Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU