Responsabilidade entre ética e teologia. Artigo de Danilo Di Matteo

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26 Março 2025

"Porém, justamente no parêntesis '(sem poder se esconder atrás de princípios gerais ou leis)', Ferrario sugere um possível encontro com a perspectiva weberiana: os princípios gerais, tanto para o político como para o crente e, eu acrescentaria, para todo ser humano, não podem se tornar um álibi, uma justificativa sempre válida, uma forma de autoabsolvição conveniente", escreve Danilo Di Matteo, médico e filósofo italiano, em artigo publicado por Settimana News, 24-03-2025.

Eis o artigo.

É muito famosa a distinção entre a ética da convicção ou, melhor ainda, dos princípios e a ética da responsabilidade, formulada pela primeira vez por Max Weber numa conferência realizada em Munique em 28 de janeiro de 1919 e intitulada “A política como profissão”.

Agora, a responsabilidade, tal como concebida por Weber e outros, refere-se acima de tudo às consequências do próprio comportamento, das próprias ações. Poderíamos, portanto, defini-la como uma ética das consequências. De “A” podem surgir “B” e “C”, e é justamente a partir de uma avaliação dos riscos e potencialidades abertas por “B” e “C” que julgo a pertinência e a idoneidade de “A”.

O teólogo Dietrich Bonhoeffer, por sua vez, "substitui a noção de 'ordenanças' pela de 'mandatos', o que sublinha a dimensão vocacional e inclui a ideia de responsabilidade" (o itálico é meu), que "tem uma primazia objetiva também em relação à 'consciência'. A ansiedade de salvaguardar a própria boa consciência, de fato, 'pode ser paralisante em relação à ação; teologicamente, então, representa uma forma de autoabsolvição'” (Fulvio Ferrario, Teologia do Século XX, Carocci, Roma 2012, p. 75).

Aqui, por exemplo, vem à mente Dom Abbondio e, em geral, as atitudes pilatistas daqueles que “lavavam as mãos”: permanecendo formalmente com a consciência limpa; mas na verdade cometendo omissões e erros graves. Afinal, este é o caso dos covardes e pusilânimes tão detestados por Dante Alighieri.

Aqui, a responsabilidade, no sentido de Bonhoeffer e outros, está intimamente ligada à resposta, ao responder: “responder por”, “a”, “diante de” e assim por diante. Não é por acaso que Jacques Derrida, numa obra como a Política da Amizade, analisa de forma fina e subtil todas as formas possíveis de resposta, indicando que a fundamental é “responder a”.

E – escreve Ferrario ainda sobre Bonhoeffer – "escutar o mandamento exige responsabilidade: o ser humano, isto é, é chamado a responder a Deus na primeira pessoa (sem poder esconder-se atrás de princípios gerais ou leis), nas circunstâncias dadas".

Estendendo isso à dimensão horizontal e inter-humana, cada um de nós é chamado a responder aos outros na primeira pessoa; e, em um passo posterior, para outras formas de vida e para o mundo como um todo.

Porém, justamente no parêntesis "(sem poder se esconder atrás de princípios gerais ou leis )", Ferrario sugere um possível encontro com a perspectiva weberiana: os princípios gerais, tanto para o político como para o crente e, eu acrescentaria, para todo ser humano, não podem se tornar um álibi, uma justificativa sempre válida, uma forma de autoabsolvição conveniente.

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