22 Março 2025
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicado por Religión Digital, 20-03-2025.
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que reúne membros da Presidência, os presidentes das doze Comissões Episcopais, os presidentes das 19 regionais e representantes de organismos e instituições vinculados à Conferência, realizou sua primeira reunião do ano em Brasília, de 18 a 20 de março de 2025.
Um encontro que começou, conforme noticiado pela própria CNBB, com uma reflexão de seu presidente, o cardeal-arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, sobre o papel das conferências episcopais na promoção da sinodalidade, inspiradas no número 125 do Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade, onde são definidas como instituições que “realizam a colegialidade dos bispos para promover a comunhão entre as Igrejas e responder de forma mais eficaz às necessidades da vida pastoral”. Afirma que as conferências episcopais são "um instrumento fundamental para criar vínculos, compartilhar experiências e boas práticas entre as Igrejas, adaptar a vida cristã e a expressão da fé às diferentes culturas" e, junto com isso, desempenham "um papel importante no desenvolvimento da sinodalidade, com o envolvimento de todo o Povo de Deus".
Este tema, abordado em seu discurso pelo núncio apostólico, dom Giambatistita Diquattro, está muito presente nas notícias, depois que o Papa Francisco deu mais um passo nos últimos dias na implementação do Sínodo, que levará a uma Assembleia Eclesial em 2028. Não esqueçamos que foi o próprio Francisco quem, em 2021, propôs a realização da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, em resposta à proposta do CELAM de uma VI Conferência Geral do Episcopado.
Como é de praxe no episcopado brasileiro, o encontro contou com uma análise da situação social, apresentada pelo bispo de Carolina, Dom Francisco Lima Soares, que analisou o que definiu como "continuidades e rupturas em um mundo de incertezas", destacando que "estamos em uma mudança de era com a dissolução da concepção integral do ser humano e de sua relação com o mundo e o sagrado", o que tem levado ao surgimento do individualismo e ao enfraquecimento dos laços comunitários. Junto com isso, o bispo enfatizou a necessidade de refletir sobre guerras, mudanças climáticas, crises energéticas, pandemias, fluxos migratórios e inovações tecnológicas, seguindo as palavras do Papa Francisco.
O episcopado brasileiro enviou ao Papa uma carta comemorativa dos 12 anos de pontificado, expressando seu carinho e proximidade durante sua permanência no Hospital Gemelli. O texto destaca o atual pontificado como "um significativo testemunho de dedicação e solidariedade com aqueles que sofrem. Sua sensibilidade e ternura pastoral o mantiveram profundamente em sintonia com os problemas e sofrimentos do nosso tempo", expressando sua gratidão pela decisão papal de não esconder sua doença e processo de recuperação. Da mesma forma, o Papa é informado das orações do povo brasileiro por sua recuperação, “para que ele continue nos fortalecendo na fé e na esperança”, pedindo a intercessão de Nossa Senhora Aparecida.
O Conselho Permanente da CNBB recebeu o último rascunho das Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que serão discutidas e aprovadas na próxima assembleia geral, a ser realizada de 30 de abril a 9 de maio. O coordenador do processo, Dom Leomar Brustolin, destacou a importância da escuta como princípio central de um caminho iniciado há três anos e meio, que deve levar à promoção de uma evangelização fiel ao Evangelho e sensível às realidades contemporâneas.
Em vista da COP 30, que será realizada em Belém, na Amazônia brasileira, em novembro próximo, foram explicitadas as medidas adotadas para fortalecer o compromisso da Igreja no Brasil com a justiça socioambiental, reafirmando seu compromisso com a proteção ambiental e denunciando as falsas soluções climáticas que estão surgindo no debate global. O foco está na proteção dos territórios dos povos indígenas e tradicionais, na promoção da igualdade, no combate ao desmatamento e na transformação do sistema econômico para garantir um futuro mais sustentável.
O presidente da organização reafirmou a necessidade de uma presença forte e profética da Igreja, especialmente no contexto da emergência climática. Para conseguir isso, ele disse, é essencial construir uma narrativa sólida e comprometida, alinhada aos apelos papais. Nos próximos meses, uma série de pré-COPs estão sendo organizadas em todo o Brasil, com o objetivo de capacitar lideranças religiosas e motivar a mobilização local em prol da preservação ambiental. Para auxiliar nessa reflexão, a Rede Eclesial Pan-Amazônica desenvolveu o “ABC das COPs”, destacando a relevância da COP30 para a Amazônia e seus povos e o necessário envolvimento da Igreja nesse processo.
O episcopado brasileiro também emitiu nota abordando os ataques à Lei da Ficha Limpa, "uma das mais importantes conquistas democráticas da sociedade brasileira, um patrimônio do povo e uma importante conquista para a ética na política". O texto expressa a “perplexidade e indignação da CNBB com as mudanças propostas” em uma lei que “representa um marco no combate à corrupção”. O Congresso pretende "beneficiar especialmente os condenados por crimes graves, cuja inelegibilidade poderá ser reduzida ou mesmo revogada antes de cumprirem integralmente suas penas. Além disso, as mudanças planejadas isentam aqueles que abusaram do poder político e econômico e enfraquecem o combate às práticas corruptas que colocam em risco a democracia brasileira".