19 Março 2025
Deputados alemães aprovaram nesta terça-feira (18) uma mudança histórica no orçamento, que vai permitir que o país invista fortemente em armas e infraestruturas. O plano do futuro chanceler, o conservador Friedrich Merz, visa enfrentar as instabilidades geopolíticas.
A reportagem é publicada por RFI, 18-03-2025.
O pacote de centenas de bilhões de euros que serão atribuídos à defesa e à economia foi aprovado por 513 deputados, uma maioria de dois terços dos representantes eleitos presentes no Bundestag, o parlamento alemão. O texto é uma revolução para o país, que durante décadas negligenciou os gastos militares em favor do apoio dos Estados Unidos, que o protege desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Mas com a invasão russa da Ucrânia desde fevereiro de 2022, Berlim vê agora Washington se afastar da Europa e aproximar-se da Rússia, sob a liderança de Donald Trump, e se vê forçada a agir.
Os montantes em jogo são colossais e terão repercussões muito além da Alemanha, representando entre € 1 trilhão e € 1,5 trilhão, segundo cálculos, injetados na economia ao longo da próxima década. O montante é necessário para combater a “guerra contra a Europa” liderada pela Rússia, afirmou ao Bundestag o líder do campo conservador CDU/CSU, listando os ataques cibernéticos e sabotagem de infraestruturas atribuídos a Moscou.
Friedrich Merz também descreveu este plano como "o primeiro grande passo em direção a uma nova comunidade europeia de defesa", que incluirá "países que não são membros da União Europeia", como o Reino Unido e a Noruega.
Para entrarem em vigor, as mudanças constitucionais ainda precisam ser aprovadas na sexta-feira (21) pelo Bundesrat, a câmara que representa as regiões. Concretamente, a Alemanha irá afrouxar o seu controle que limita a capacidade de endividamento do país para as despesas militares e para as regiões. A isto será somado um fundo especial, fora do orçamento, de € 500 bilhões ao longo de 12 anos para modernizar as infraestruturas e relançar a maior economia da Europa. Isto envolve a renovação de estradas, pontes, ferrovias, escolas e instalações de energia.
“Esta é uma excelente notícia porque também envia uma mensagem muito clara à Europa sobre a determinação da Alemanha em investir massivamente na defesa”, saudou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que acredita que a Europa deve se rearmar rapidamente.
O chanceler Olaf Scholz, que está deixando o cargo, saudou a decisão “histórica” do Bundestag. “Isto envia uma mensagem poderosa de liderança e compromisso com a nossa segurança comum”, disse o secretário-geral da Otan, Mark Rutte. “Este é talvez o maior pacote de gastos” da história alemã, disse o líder do partido SPD, Lars Klingbeil, aos deputados na terça-feira.
O plano alemão deve permitir também a liberação do apoio militar pendente de € 3 bilhões à Ucrânia. O comitê orçamental do Bundestag deverá aprovar oficialmente na sexta-feira a concessão destes fundos, disseram fontes parlamentares à AFP.
Kiev poderá assim receber munições de artilharia e granadas “nas próximas semanas”, disse o porta-voz do governo Steffen Hebestreit, enquanto a entrega de outros equipamentos pesados, como os sistemas de defesa aérea Iris T e Patriot, podem levar até dois anos para serem disponibilizados.
O presidente francês Emmanuel Macron, um fervoroso defensor do fortalecimento da defesa europeia, está em Berlim para se encontrar com o chanceler Olaf Scholz e com Friedrich Merz.
O futuro líder alemão ainda tem semanas complicadas pela frente: ele terá de encerrar as negociações com os sociais-democratas para formar a coligação que pretende concluir até a Páscoa, em 21 de abril.