14 Março 2025
Um site holandês prevê que o anuário papal mudará a data de nascimento do cardeal de Burkina Faso. Já aconteceu com o queniano Njue, ambos pertencentes ao campo conservador
A informação é publicada por La Repubblica, 12-03-2025
Quando nasceu o Cardeal Philippe Ouédraogo? No Anuário Pontifício de 2024, a data era 25 de janeiro de 1945; na edição deste ano, que será publicada em breve, o octogésimo aniversário será adiado para 31 de dezembro. A notícia foi antecipada pelo especialista em Vaticano Hendro Munsterman no jornal Nederlands Dagblad e tem um peso significativo: os onze meses a menos no passaporte do cardeal africano deixam as portas da Capela Sistina abertas para ele até o final do ano, em caso de conclave. De acordo com a Constituição do Vaticano Universi dominici gregis, que regula as normas da sede vacante, ao atingir a idade de oitenta anos os cardeais perdem o direito de votar na eleição do papa.
Ouédraogo, natural de Burkina Faso, é considerado conservador por suas posições linha-dura sobre uniões gays, controle de natalidade e comunhão para divorciados. Francisco lhe concedeu o cardinalato em 2014, no primeiro consistório de seu pontificado, provavelmente em vista do comprometimento que Ouédraogo sempre demonstrou no diálogo inter-religioso em um país onde os católicos representam um terço dos muçulmanos. Foi uma das escolhas com as quais Jorge Bergoglio começou a aumentar o peso das Igrejas do hemisfério sul no colégio cardinalício.
No entanto, desde 25 de janeiro, Ouédraogo deveria ter sido removido do eleitorado. Naquele dia, através de sua página no Facebook, a catedral da capital Ouagadougou, onde o prelado foi arcebispo por muito tempo, enviou-lhe uma mensagem de felicitações pelo seu aniversário. Mas, enquanto isso, algo mudou. Poucos meses antes, no Avvenire, o jornal diário da CEI, o jornalista Gianni Cardinale havia destacado que o site do Vaticano havia alterado a data de nascimento de Ouédraogo de 25 de janeiro para 31 de dezembro de 1945. Ele também destacou um precedente, o do queniano John Njue, cujo nascimento havia sido corrigido de 1944 para 1946: ele também seria eleitor em um possível conclave hoje. E ele também é um defensor da linha conservadora.
Munsterman perguntou a Ouédraogo: “Na minha aldeia não havia hospitais nem escolas. “Nasci em casa e não me deram uma data de nascimento”, disse o cardeal, explicando que o dia 25 de janeiro foi escolhido por razões burocráticas e aleatoriamente quando ele se tornou padre. No entanto, o passaporte mostraria 31 de janeiro: uma prática em Burkina Faso em casos em que a data exata não é conhecida, de acordo com o que o embaixador em Roma disse a Munsterman. No entanto, continua sendo um mistério o motivo pelo qual a data só foi atualizada agora no Vaticano. “É possível que tenham chegado alguns documentos”, comentou o diretor da assessoria de imprensa.
Leia mais
- Os novos cardeais (africanos) do Papa Francisco
- Do oeste africano, dois novos cardeais do Papa
- “O próximo Papa virá da Ásia ou África e deverá convocar um Concílio”. Entrevista com Cyprien Melibi
- A Igreja ainda é muito eurocêntrica e pouco africana. Artigo de Donald Zagoré
- A Igreja não é propriedade privada da hierarquia, diz teóloga africana
- Teólogo diz que a jovialidade da Igreja africana impactará o próximo Sínodo
- Igrejas africanas afirmam que corrupção e dívida pública são inseparáveis
- Uma presença que desvela um outro olhar sobre o continente africano
- Cardeal africano diz que uma Igreja sinodal precisa também caminhar com os protestantes e muçulmanos
- Cardeal Ouédraogo: “A África tem fome e devemos superar a lógica do egoísmo”
- Choque de civilizações na Capela Sistina. Artigo de Iacopo Scaramuzzi
