11 Março 2025
"Como iniciante em minha velhice, aprendo que é bom perder tempo e que é o contrário de desperdiçá-lo", escreve Erri De Luca, romancista, tradutor e poeta italiano, em artigo publicado por Avvenire, 27-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entramos na velhice como viandantes. Cada dia é uma etapa que exige forças. É bom esgotá-las em vez de poupá-las. Nessa idade, não faz sentido economizar, manter estoques no depósito. O dote diário de recursos deve ser consumido por inteiro, sem resíduos, como prescrito para o maná: se sobrar para o dia seguinte, estragará.
Todo despertar é um apelo às várias partes do corpo. Desde o cotovelo, que começa o levantamento da posição deitada, até os pés que tocam o chão como dois náufragos desembarcando na praia.
A noite reabasteceu as forças residuais, o sono esvaziou o cesto de lixo. Aquele que, ao acordar, percebe a surpresa de estar de volta para um novo dia, pronuncia uma sua fórmula de gratidão. Essa é uma idade que não desperdiça tempo.
Prefere tomá-lo da melhor maneira possível. No filme “Maccheroni”, de Ettore Scola, Marcello Mastroianni, passeando por Nápoles, diz a Jack Lemmon: “Como é bom perder tempo”.
Perdê-lo daquela maneira é saber aproveitá-lo.
Como iniciante em minha velhice, aprendo que é bom perder tempo e que é o contrário de desperdiçá-lo.
Esses pensamentos são mais impressões do que reflexões. A ocasião é a internação do Papa no hospital para lidar com as consequências da velhice. Entre elas, não tem lugar o arrependimento de ter se poupado. Imagino que não tenha. Seu sorriso, mesmo de doente, confirma isso. Ele se dedicou à sua comunidade mesmo quando estava doente, sua cadeira de rodas o levava a toda parte.
Preso no quarto, ele transmite seu exemplo de cuidado e afeto às pessoas que oram por ele. Seu prognóstico é reservado, mas seu boletim médico é público, para que todos sejam devidamente informados. Não há espaço para versões de conveniência, para manipulação de notícias.
A internação hospitalar é um exílio, mas também um tempo para a escuta. É uma opressão que comporta um silêncio interior. No livro de Jó (Iiòv em hebraico), a divindade “ao aflito livra da sua aflição, e na opressão se revela aos seus ouvidos” (36,15).
A velhice é um posto avançado. Como sentinelas em vigília.
Na insônia, na sonolência, despontam vozes. Sua acústica é aquela perfeita do deserto.