04 Julho 2024
"A força maior, ao contrário, reside nessa cadeia milionária de pessoas que constroem todos os dias a cidade do futuro e os seus habitantes", escreve Erri De Luca, romancista, tradutor e poeta italiano, em artigo publicado por Avvenire, 02-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Itália é o país com mais pessoas empenhadas na sustentação mútua, na economia da doação do próprio tempo, da própria competência. É a economia da gratuidade que contrasta e desmente a economia do maior lucro e do ganho individual. A sociedade de hoje reduziu e mortificou o título de cidadão, de pessoa pertencente a uma comunidade de iguais. Reduziu o cidadão a cliente, de titular de direitos a segmento isolado do mercado.
Quando o nome USL, unidade sanitária local, se transformou em ASL, empresa sanitária local, a fronteira foi ultrapassada. A saúde se torna uma empresa e o cidadão passa a ser o seu cliente, avaliado em função do seu poder de compra, admitido com base na riqueza. A saúde, a educação e a justiça tornaram-se serviços prestados por uma empresa. Em vez disso, são o fundamento e a razão de ser de uma comunidade de participantes numa sociedade dotada de Constituição.
É este o título de cidadão. Não somos usuários isolados numa fila em frente a um guichê que discrimina arbitrariamente os clientes. O voluntariado reconstrói o título de cidadão, a partir de baixo e de forma capilar. O voluntariado contraria a resignação diante de supostas causas de força maior.
A força maior, ao contrário, reside nessa cadeia milionária de pessoas que constroem todos os dias a cidade do futuro e os seus habitantes.
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A cidade do futuro. Artigo de Erri De Luca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU