08 Março 2025
"A história das tentações de Jesus foi registrada nos evangelhos para alertar seus seguidores. Devemos ser lúcidos. O Espírito de Jesus está vivo em sua Igreja, mas os cristãos não estão livres de falsificar repetidamente nossa identidade caindo em múltiplas tentações", escreve José Antonio Pagola.
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, referente ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 4,1-13 que corresponde à 1ª Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico, publicado por Religión Digital, 09-03-2025.
Não foi fácil para Jesus permanecer fiel à missão recebida de seu Pai sem se desviar de sua vontade. Os Evangelhos relembram sua luta interior e as provações que ele e seus discípulos tiveram que superar ao longo de sua vida.
Os mestres da lei o perseguiam com perguntas capciosas para forçá-lo a se submeter, esquecendo-se do Espírito, que o movia a curar até mesmo no sábado. Os fariseus pediram que ele parasse de aliviar o sofrimento das pessoas e fizesse algo mais espetacular, "um sinal do céu" de proporções cósmicas, com o qual Deus o confirmaria diante de todos.
Tentações lhe vieram até mesmo de seus discípulos mais amados. Tiago e João pediram que ele esquecesse os últimos e pensasse mais em reservar as posições de maior honra e poder para eles. Pedro o repreende porque ele está colocando sua vida em risco e pode acabar executado.
Jesus sofreu e seus discípulos também. Nada foi fácil ou claro. Todos tiveram que buscar a vontade do Pai superando provações e tentações de vários tipos. Poucas horas antes de ser preso pelas forças de segurança do templo, Jesus lhes diz: "Vocês são os que perseveraram comigo nas minhas provações" (Lucas 22:28).
O episódio conhecido como “as tentações de Jesus” é uma história que reúne e resume as tentações que Jesus teve que superar ao longo de sua vida. Embora viva movido pelo Espírito recebido no Jordão, nada o isenta de se sentir atraído por falsas formas de messianismo.
Você deve pensar em seus próprios interesses ou ouvir a vontade do Pai? Ele deveria impor seu poder como Messias ou se colocar a serviço daqueles que precisam dele? Ele deveria buscar sua própria glória ou manifestar a compaixão de Deus para com aqueles que sofrem? Ele deveria evitar riscos e fugir da crucificação ou se render à sua missão, confiando no Pai?
A história das tentações de Jesus foi registrada nos evangelhos para alertar seus seguidores. Devemos ser lúcidos. O Espírito de Jesus está vivo em sua Igreja, mas os cristãos não estão livres de falsificar repetidamente nossa identidade caindo em múltiplas tentações.
Para seguir Jesus fielmente, devemos identificar as tentações que nós, cristãos, temos hoje: a hierarquia e o povo; líderes religiosos e fiéis. Uma Igreja que não tem consciência de suas tentações logo falsificará sua identidade e sua missão. Não está acontecendo algo assim conosco? Não precisamos de mais lucidez e vigilância para não cair na infidelidade?