22 Janeiro 2025
O poema a seguir é de Célio Turino, historiador e escritor, caminha por aí, semeando as ideias da cultura viva e do bem-viver, enviado pelo autor ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
o espírito do tempo chega,
estranho,
com promessas que arrebentam sonhos
e erguem pesadelos.
A história insiste em repetir-se,
dizem,
e vem outra vez
com suas máscaras de ferro,
seus gritos de guerra,
seus fantasmas ressuscitados.
Alguns homens
-mulheres também-
erguem a voz,
prometem a verdade única
e o que trazem é sombra,
rancor e silêncio.
Tempos obscuros
dobram a esquina
com palavras
que se vestem de vazio,
como escudo,
dividem o chão
ódio e dor.
Tempo de luta
vem por aí.
Vejo sombras de gente uniformizada
marchando em seu eterno retorno ao ódio.
Tempo de olhos fechados
e punhos cerrados.
É o Espírito do Tempo que assombra novamente.
depois da farsa, a tragédia,
agora lúgubre.
Tempo de erguer muro
e cavar poço.
Nesse nosso tempo
a verdade é a primeira a ruir.
A história vai e volta,
recomeça como farsa,
como se nunca tivesse sido outra coisa,
vira tragédia
e se repete.
2025,
o mundo em expectativa.
Nós estamos aqui!
Presos na tela,
a um botão que nunca desliga
aguardando um ponto de luz.
Da tela, avistamos o muro,
um eco,
uma sombra,
uma arma...
Da tela, escutamos o grito,
um estrondo,
um espectro...
Que inferno!
A promessa de deportação:
“- Façam as malas e saiam enquanto é tempo!”
A promessa de retaliação:
“- Uma bomba virá!”
Quantos escombros!
E nós estamos aqui.
Não há verso para o genocídio
transmitido na tela,
a palavra vira pedra,
a pedra vira mapa
de gente que não tem mais chão.
E nós continuamos aqui!
Na tela.
É o espírito do tempo
que volta como farsa e tragédia,
um passado sombrio
que se torna presente,
um vento que sopra
e faz tudo virar cinza.
Quem semeará um ponto de luz
em meio a esse mundo lôbrego?