09 Janeiro 2025
No dia 20 de dezembro, o Fórum das Águas do Amazonas encerrou as atividades de 2024 com reunião no Espaço Loyola, Centro de Manaus. Os participantes do encontro representaram as diversas organizações que compõem o Coletivo e atuaram na realização das atividades ao longo do ano. O encontro começou com um resgate das diversas ações efetivadas em 2004, resgatando os “momentos fortes” do período.
O artigo é de Sandoval Alves Rocha, doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.
Na memória coletiva, destacaram-se a parceria realizada com a Organização Habitat para a Humanidade - Brasil, a 1ª Romaria das Águas (22 de março), a Conferência sobre a Seca na Amazônia (09 de agosto), a Missão água e saneamento em Manaus (03, 04 e 05 de junho), a 1ª manifestação contra a privatização do saneamento (04 de julho), a Caravana dos direitos humanos em Manaus (28 a 30 de agosto), o encontro regional sobre o direito a água no Recife (12 a 14 de setembro), a Carta do Fórum das Águas do Amazonas à Sociedade e Tomadores de Decisão (13 de outubro), as visitas aos órgãos públicos (Ibama, Incra, Ipaam, MDA, UGPE), as Tribunas das Águas, as oficinas sobre os direitos humanos à água e ao saneamento nas comunidades, a Tribuna dos direitos humanos (07 de dezembro), a participação na 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente (12 e 13 de dezembro) e outras ações.
Em cada uma das ações realizadas, os participantes reviviam os momentos originais, expressando o desejo de continuar lutando pela gestão participativa dos serviços de água e esgoto e dedicando esforços pela preservação e cuidado da Amazônia. Muitos foram os desafios identificados nesta luta em prol do bem comum. Estamos em uma sociedade capitalista que prioriza a crescimento econômico, gerando contradições sociais e devastação do meio ambiente. A primazia do capital tem deixado pouco espaço para experiências alternativas de modelos civilizatórios.
O individualismo, o utilitarismo e a busca desenfreada pelo lucro configuram a atuação e o pensamento predominante, invadindo todas as esferas da vida e da sociedade. Direitos fundamentais que competem ao conjunto da sociedade são ignorados em benefício dos grandes projetos econômicos e das grandes empresas (bancos, agronegócio, mineração, hidrelétricas, empresas de saneamento e mercado imobiliário). A privatização de empresas e serviços públicos ameaça o patrimônio comunitário e abolem experiências de autogestão coletiva em que as comunidades e organizações tradicionais protagonizam e definem a sua história.
Este cenário brutal enfraquece o direito humano à água e ao saneamento, fazendo da água potável de boa qualidade um privilégio de poucos. Em situação ainda pior, o esgotamento sanitário é um serviço inacessível para os mais pobres. Informações recentes do Instituto de Água e Saneamento nas Escolas frisam que, no Brasil, 1,4 milhão de estudantes não têm água tratada na escola. A mercantilização da natureza transforma os recursos naturais em propriedades das multinacionais e dos investidores estrangeiros, gerando uma visão fragmentada da natureza, uma exploração irracional das riquezas e o desequilíbrio ecossistêmico que coloca em risco a vida no planeta.
Dominados pelo setor privado, os serviços de água e esgoto geram indignação e revoltas em Manaus. Muitos bairros das periferias não tem água potável de qualidade e a falta deste líquido é cada vez mais recorrente. A falta do esgotamento santuário não é novidade na maior metrópole da Amazônia. Os moradores do conjunto Augusto Montenegro, por exemplo, estão cansados de reclamar da concessionária sem serem ouvidos. Não é a primeira vez que eles denunciam o lançamento de esgotos domésticos nos igarapés. Odor, água de esgoto dentro das casas e tratamento de água inadequado. Esses são os problemas que a população denuncia. As Estações de Tratamento I e II não oferecem condições apropriadas para lidar com os resíduos, gerando impactos à saúde e ao meio ambiente.
Apesar dos desafios, o Fórum das Águas encerra 2024 projetando novas parcerias e com boas expectativas de atuação em 2025. A luta pelos direitos humanos à água e ao saneamento em Manaus e na Amazônia, assim como o propósito de continuar trabalhando pela preservação da Amazônia, foi renovada entre os membros do coletivo, que buscará ampliar a sua atuação no território amazônico.
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Fórum das Águas celebra união e resistência na sociedade desigual. Artigo de Sandoval Alves Rocha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU