19 Dezembro 2024
Desde a vitória eleitoral de Donald Trump em novembro, o futuro dos migrantes em trânsito pelo México se tornou mais incerto do que nunca. O novo presidente prometeu expulsar milhões de imigrantes indocumentados após sua posse em 20 de janeiro.
A reportagem é de Marine Lebègue, publicada por La Croix International, 18-12-2024.
“Nada além de mentiras!”, exclamou Vidal Berroteran, um venezuelano de 21 anos, ignorando a retórica anti-imigrante de Donald Trump. Encostado em um vagão de trem abandonado, Vidal examina os trilhos da ferrovia que se estendem à sua frente. Um trem de carga passará por esta área desolada 60 km ao norte da Cidade do México em algumas horas. Ele terá que se agarrar às escadas enquanto ele passa em alta velocidade, viajando no teto para chegar ao norte do México e cruzar a fronteira dos EUA ilegalmente.
Seu sonho americano está no fim desses trilhos, e Vidal se recusa a acreditar que Donald Trump pode impedi-lo de alcançá-lo. No entanto, esta é a promessa que Trump reiterou repetidamente durante sua campanha: livrar os Estados Unidos dos “vermes” que “envenenam o sangue” dos americanos.
Trump prometeu realizar a maior deportação da história, mirando todos os indivíduos sem documentos — quase 11 milhões de pessoas. Vidal, no entanto, continua cético. “Ele não pode deportar todos os migrantes. São os migrantes que fazem os trabalhos que os americanos não querem fazer — construção, agricultura, todo o trabalho duro”, ele argumentou.
Economistas concordam que deportações em massa podem perturbar a economia americana ao estagnar o crescimento e impulsionar a inflação. Isso fornece um vislumbre de esperança para Vidal e milhões como ele.
Muitos migrantes estão agora em uma corrida contra o tempo, esperando chegar aos EUA e solicitar asilo antes da posse de Trump em 20-01-2025. Na Cidade do México, a Casa Tochan, um abrigo para migrantes, tem visto sua população diminuir diariamente desde a vitória de Trump.
“Naquele dia, o abrigo inteiro ficou em silêncio”, lembrou Adriana Hernandez, uma coordenadora de abrigo. “Na manhã seguinte, um grupo de dez pessoas partiu para o norte, planejando cruzar a fronteira ilegalmente e pedir asilo”. O abrigo, que normalmente abriga até 120 moradores, agora está com metade da capacidade. “Os migrantes não querem mais ficar em abrigos da cidade. Eles estão indo direto para a fronteira, dispostos a cruzar a qualquer custo”.
Hernandez atribuiu muito desse movimento à desinformação. “Muitos acreditam que o aplicativo CBP One [CBP, Customs and Border Protection] será descontinuado em breve, ou que ninguém mais poderá entrar nos Estados Unidos. É por isso que eles estão saindo”, ela explicou.
O CBP One é a única maneira legal de entrar nos Estados Unidos. Os migrantes se registram ao chegar ao México e devem esperar que o aplicativo agende um horário com as autoridades de imigração dos EUA. Esses horários oferecem uma chance de entrar nos Estados Unidos legalmente.
“Mas os rumores são desenfreados aqui. As pessoas dizem que aqueles com nomeações CBP One são presos e encarcerados na fronteira. Outros alegam que um antigo morador deste abrigo foi condenado a dez anos de prisão por tentar cruzar ilegalmente. Essas histórias causam imensa ansiedade”, acrescentou Hernandez.
O medo não se limita à Cidade do México. No sul do México, pelo menos cinco caravanas de migrantes se formaram desde a vitória de Trump. As autoridades de imigração mexicanas dispersam a maioria antes de chegar à fronteira, mas os migrantes permanecem inabaláveis.
A presidente mexicana Claudia Sheinbaum garantiu à nação que o México estava preparado para reintegrar cidadãos mexicanos que foram expulsos dos Estados Unidos. No entanto, ela não esclareceu o destino dos migrantes de outros países.
Essa incerteza não detém Berroteran. De pé, ao lado dos trilhos da ferrovia, ele sonha em voz alta com a vida que imagina nos Estados Unidos, escolhendo a esperança em vez do medo.
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Sob Trump, migrantes do México temem que o "sonho americano" possa se tornar um pesadelo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU