13 Dezembro 2024
Como cristão fervoroso, permita a ação do Senhor em sua vida, sem se importar se conseguirá ver algum resultado “benéfico”. “Deixa isso para o Senhor que trabalha no segredo dos corações, mas não deixes de viver a alegria de tentar comunicar o amor de Cristo aos outros” (216).
O artigo é de Orlando Polidoro Junior, teólogo pela PUCPR.
Para quem acompanha o Papa Francisco, é sabido e está visível que seu ministério é a mais pura “semelhança” da Boa-nova; do amor, da Graça, da paz, do acolhimento, do perdão, enfim, da Misericórdia do Princípio ao Céu, que Deus-Trino nos transcende quando O buscamos.
Francisco destaca com louvores a Carta Encíclica Haurietis Aquas, de Pio XII, que exalta o Coração de Cristo como o “centro da Misericórdia”. Benevolentemente a Dilexit nos chega num momento necessário para o atual contexto histórico da humanidade.
Não somente os cristãos, “o homem contemporâneo encontra-se com frequência transtornado, dividido, quase privado de um princípio interior que crie unidade e harmonia no seu ser e no seu agir. Modelos de comportamento infelizmente bastante difundidos, exaltam a sua dimensão racional-tecnológica, ou, ao contrário, a instintiva” (9). Falta o coração.
Jesus, O Homem de Nazaré; O Verbo encarnado – extasiado pelo Espírito Santo – e com seu Coração exaltado de Misericórdia anunciou o Reino do Pai. Este é o Jesus histórico. Mas na Teologia temos também o Jesus bíblico e o Jesus da religião. Qual Jesus devemos contemplar seu Coração?
O Sagrado Coração de Jesus pode ser visto como uma figura de linguagem ou aplicado como uma metáfora, mas nenhuma das opções é a proposta. A Encíclica apresenta belíssimas reflexões de como, do quando e do por que a iluminada devoção ao Sagrado Coração de Jesus está em nossas doutrinas como puro ato de fé.
Longe de se tornar uma forma de superstição ou uma objetivação indevida da graça. Representa sim, um convite a uma relação pessoal em que cada um se sente único perante Cristo (115).
Nossa reflexão é breve – focada em algumas chaves de leitura do documento –, tem o objetivo de motivar a leitura por completo da Encíclica, para que assim você possa perscrutar todo seu esplendor, não somente como entendimento, mas sim como missão, como ação da Graça no seu dia a dia.
A Carta Encíclica Dilexit nos do Papa Francisco, publicada em 24 de novembro de 2024, traduz: “Ele nos amou” (cf. 1 Jo 4,10). O documento contempla o amor humano e divino do Coração de Jesus.
Esta é a quarta encíclica de Francisco, e é composta em 220 números, divididos em cinco capítulos, uma introdução e uma conclusão.
No início da Encíclica o Papa destaca que o coração aberto de Jesus, precede-nos e espera-nos incondicionalmente – sem exigir qualquer mérito/pré-requisito para nos amar – para nos oferecer sua eterna e gloriosa amizade.
“A devoção ao Coração de Cristo é essencial para a nossa vida cristã, na medida em que significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor” (83).
O Coração de Cristo no ensino da igreja antes do Concílio Vaticano II:
Depois do Vaticano II:
A Dilexit nos reaviva São João Paulo II: “a consagração ao Coração de Cristo deve ser aproximada à ação missionária da própria Igreja, porque responde ao desejo do Coração de Jesus de propagar no mundo, através dos membros do seu Corpo, a sua total dedicação ao Reino. Através dos cristãos, o amor difundir-se-á no coração dos homens, para que se construa o Corpo de Cristo que é a Igreja e se edifique uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade” (206).
Mais uma vez o Papa Francisco “eleva” o Coração de Jesus para que os fiéis d’Ele se aproximem ainda mais, tornando-o a única fonte redentora do Evangelho (89); pois é em Seu Coração que “finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar” (30).
Com o objetivo de “acender novamente em nossos corações” não somente a magnitude da beleza espiritual do culto ao Divino Coração de Jesus, mas, primordialmente o quanto essa chama de amor pode renovar nossa caminhada de fé, fortemente entrelaçada às bem-aventuranças (Mt 5,3-12), promovidas no Reino terreno de Deus [chão da vida], sem nos tornarmos escravos das tentações do mundo moderno (cap.1), considerando que, Jesus “está atento às pessoas, às suas preocupações, ao seu sofrimento” (n.40).
Uma consistente devoção ao Coração de Cristo, do mesmo modo que nos eleva ao Pai, envia-nos aos irmãos (163). O amor aos irmãos é o “maior gesto que possamos oferecer-lhe para retribuir amor por amor” (167). “Cristo é o coração do mundo” (31).
Na caminhada – ao vivenciarmos o amor de Cristo, “tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum” (217). “Não se trata de algo superficial, não é puro sentimento, não é uma alienação espiritual. É amor” (46).
Unificando tudo, ou seja, o Amor – sem individualismos (17), “o fervor da missão pessoa-a-pessoa” (88), mostra que, ao lado da Graça nosso coração manifesta o que realmente somos (6). Mas o que somos? Somos “semelhantes” ao Homem de Nazaré; somos sinal da Graça, somos uma fonte de fé – resplandecente de esperança e de caridade = amor pleno ao próximo. Precisamos permitir que o Sagrado Coração de Jesus transfigure os nossos corações – as nossas vidas.
O coração une fragmentos, e a partir dele o mundo pode mudar. Extasiados/unidos ao coração de Cristo que é saída, é encontro e é dom, nossos relacionamentos “constroem um padrão” de mundo mais saudável e mais feliz – com princípios de amor e de justiça: “milagre social” (28).
Como o Papa destacou, “parece que o mundo perdeu o coração”. A referência aponta para o que representa o “coração”: a Bíblia fala dele como um núcleo “que se esconde por detrás de todas as aparências” (4). Por isso Francisco convida todo Povo de Deus para
renovar esta devoção como combate as “novas manifestações de uma ’espiritualidade sem carne’” que estão se multiplicando na sociedade (87). “O coração teve pouco espaço na antropologia e é uma noção estranha ao grande pensamento filosófico. Preferiram-se outros conceitos, como a razão, à vontade ou a liberdade. O seu significado permanece impreciso e não lhe foi atribuído um lugar específico na vida humana” (10).
Nas Escrituras a palavra coração indica exatamente a centralidade da pessoa, citações: “Tirarei de vocês o coração de pedra e, no lugar, porei um coração de carne” (Ez 36,26); “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Sl 51,10); “é de dentro do coração humano que provém todas as coisas más” (Mc 7,21). “Em última análise, poder-se-ia dizer que eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas” (14).
No íntimo de nossos corações – com sabedoria – a Encíclica provoca-nos e remete-nos a algumas reflexões para podermos discernir quem e como somos para o próximo e para Deus-Trino (8).
“Quando alguém reflete, procura ou medita sobre o próprio ser e a sua identidade, ou analisa questões mais elevadas; quando pensa no sentido da própria vida e até mesmo procura a Deus, e ainda quando sente o gosto de ter vislumbrado algo da verdade; todas estas reflexões exigem que se encontre o seu ponto culminante no amor. Amando, a pessoa sente que sabe por que e para que vive. Assim, tudo converge para um estado de conexão e de harmonia” (23).
O convite é para o encontro, para uma união plena e definitiva com Jesus, O Cristo da Misericórdia, para que em nós – sobrepondo seu amor incondicional, promova seus afetos, seus pensamentos e seus mais puros desejos. E assim possamos afirmar como São Paulo: já não somos nós que vivemos, mas é Ele que vive em nós (122).
Jesus mostra seu Coração como Sacramento, e fala da sua sede de ser amado, fala do seu desejo em nos servir (166). É este Jesus que está nas entrelinhas da Encíclica, porém, verdadeiramente, seu regozijo está dentro de nós – em nossos corações.
“Deste modo, oferecemos novas expressões da força restauradora do Coração de Cristo” (200).
Como cristão fervoroso, permita a ação do Senhor em sua vida, sem se importar se conseguirá ver algum resultado “benéfico”. “Deixa isso para o Senhor que trabalha no segredo dos corações, mas não deixes de viver a alegria de tentar comunicar o amor de Cristo aos outros” (216).
“CONCLUSÃO: Peço ao Senhor Jesus Cristo que, para todos nós, do seu Coração santo brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir para nos impulsionar a fim de aprendermos a caminhar juntos em direção a um mundo justo, solidário e fraterno. Isto até que, com alegria, celebremos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota incessantemente do seu Coração aberto. Bendito seja!” (220).
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'Dilexit nos'. Uma breve reflexão para você poder contemplar ainda mais O Sagrado Coração de Jesus através da nova Encíclica do Papa Francisco. Artigo de Orlando Polidoro Junior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU