24 Outubro 2024
Enquanto o Vaticano anuncia o lançamento em 24 de outubro da encíclica Dilexit Nos do Papa Francisco sobre o Sagrado Coração, o padre Étienne Kern, reitor da Basílica do Sagrado Coração em Paray-le-Monial, na França, reflete sobre a história e a relevância moderna desta devoção.
A entrevista é de Paul Carpenter, publicada por La Croix International, 23-10-2024.
O papa está prestes a publicar uma encíclica sobre o Sagrado Coração. Sobre o que é essa devoção?
A devoção ao Sagrado Coração é uma espiritualidade inteiramente focada no coração de Jesus. Não envolve apenas meditar sobre seu coração físico, um símbolo da Encarnação, mas também de seu amor pela humanidade.
De onde vem essa espiritualidade?
Primeiro, da própria Escritura. A passagem de João 19,34 – “Um soldado lhe enfiou a lança no lado, e imediatamente saiu sangue e água” – se refere ao coração de Jesus, seguido pelo versículo: “Olharão para aquele a quem transpassaram”. Nesse sentido, os primeiros teólogos, conhecidos como Pais da Igreja, contemplaram esse mistério, identificando particularmente o coração de Cristo como uma “fonte de água viva”.
A devoção então se desenvolveu na Idade Média por meio de muitos escritores místicos, especialmente São Bernardo de Clairvaux, e mais tarde por meio de autores modernos como São João Eudes no século XVII. Até aquele ponto, era uma forma de piedade de elite dentro da igreja, quase exclusivamente reservada para ordens religiosas.
Por que e como essa devoção se tornou popular?
O Sagrado Coração se tornou uma devoção popular graças a Santa Margarida Maria Alacoque, uma freira da Ordem da Visitação que teve duas experiências místicas em 1673 e 1675 em Paray-le-Monial. Dizem que Cristo apareceu a ela, pedindo que ela promovesse a devoção ao Seu coração. Ela se dedicou a essa causa com a ajuda de seu conselheiro espiritual, Claude La Colombière, e seus esforços foram notavelmente bem-sucedidos.
No século XVIII, congregações religiosas, especialmente os Visitandines e os Jesuítas, promoveram continuamente a devoção. Em 1720, a cidade de Marselha se tornou a primeira a ser consagrada ao Sagrado Coração para salvá-la de um surto de peste.
O Papa Pio IX instituiu a festa do Sagrado Coração para toda a Igreja em 1856, enquanto as peregrinações a Paray-le-Monial se tornaram mais frequentes e massivas. A construção de Montmartre a partir da década de 1870 também foi um momento significativo.
Como essa devoção evoluiu ao longo do tempo?
No início do século XX, houve um declínio, lamentado por Pio XII em uma encíclica de 1956. No entanto, na década de 1970, o entusiasmo retornou, particularmente devido à revitalização da Basílica de Paray-le-Monial pela comunidade Emmanuel quando o grupo se estabeleceu lá em 1975.
Em 1986, São João Paulo II visitou o santuário, marcando um momento importante em sua história. Hoje, estamos testemunhando um retorno gradual à devoção, um ressurgimento lento, que atribuo a três fatores: a redescoberta do coração de Jesus, a experiência de Paray-le-Monial e a redescoberta de outros dentro do coração de Jesus.
Como você reagiu ao anúncio desta nova encíclica sobre o Sagrado Coração?
Com grande alegria. Estávamos esperando apenas uma exortação apostólica, mas parece que o Papa Francisco quer resumir o espírito de seu pontificado escrevendo uma encíclica, invocando o mais alto grau de autoridade, centrada no Sagrado Coração. Prevemos peregrinações mais frequentes a Paray-le-Monial e estamos nos preparando para recebê-las.
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'Papa Francisco quer resumir o espírito do seu pontificado' com a encíclica do Sagrado Coração. Entrevista com Étienne Kern - Instituto Humanitas Unisinos - IHU