07 Junho 2024
"A devoção ao Sagrado Coração só faz sentido na perspectiva da misericórdia e dos desagravos que assolam o nosso tempo", escreve Frei Jacir de Freitas Faria, OFM, em comentário enviado ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE-BH. Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de exegese bíblica. Membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de doze livros e coautor de quatorze. Último livro: Os murais do Santuário de Santo Antônio, de Divinópolis (MG) na perspectiva do Três na Trindade e na Crucifixão de Jesus (Província Santa Cruz, 2024)). Caso se interesse por aulas sobre Bíblia e apócrifos, inscreva-se no nosso canal no YouTube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos ou link aqui.
Eis o comentário.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem origem no ano de 1675, com a religiosa Margarida Maria Alacoque. Segundo a tradição, ela teve uma visão de Jesus mostrando-lhe o seu coração e pedindo que fosse realizada uma celebração em honra ao Sagrado Coração de Jesus, no oitavo dia depois da festa de Corpus Christi, isto é, numa sexta-feira. Nesse dia, todos deveriam comungar e fazer o desagravo do Coração de Jesus com muita piedade. O povo tinha medo de comungar. Havia um sentimento de poder comungar a própria condenação ao inferno.
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Essa visão é fruto dos ensinamentos de um holandês, chamado Cornélio Jansênio. Ele pregava um Deus carrasco que punia os pecadores. O pedido de comungar e, mais tarde, de nove sextas-feiras ou o ano todo, em honra ao Sagrado Coração de Jesus foi uma resposta ao jansenismo.
O outro pedido, o do desagravo do Sagrado Coração, é uma devoção, uma piedade popular antiga na Igreja que consiste em fazer um ato de reparação de algo que foi feito de maneira errada. Por exemplo: o Santíssimo foi profanado. Então, era necessário fazer um ato de desagravo do Santíssimo. O desagravo do Sagrado Coração de Jesus se justifica porque segundo o evangelho de João, e somente ele, Jesus recebeu um golpe indevido de lança no seu coração, uma violação (Jo 19,34), seu coração foi dilacerado. O amor não foi amado. E o que é pior, Jesus morreu na cruz sem ser culpado de nada. Esse é o sentido originário da festa do Sagrado Coração, que logo se espalhou pela Europa e pelo mundo cristão.
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A devoção ao Sagrado Coração só faz sentido na perspectiva da misericórdia e dos desagravos que assolam o nosso tempo. Coração, a ação do cor, é o da misericórdia, da solidariedade com os empobrecidos de nosso tempo. Misericórdia, como bem definiu o Papa Francisco, é o “ato de sujar as mãos, de tocar, de pôr-se em jogo, de querer se envolver com o outro, de dirigir-se àquilo que é pessoal com aquilo que mais pessoal, não se ocupar com um caso, mas se comprometer com uma pessoa, com sua ferida.” Esse é o sentido hoje da festa do Sagrado Coração de Jesus.
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Devoção ao Sagrado de Jesus: o desagravo e seu sentido ontem e hoje! Artigo de Jacir de Freitas Faria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU